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Vale do Sinos

Empresário de Novo Hamburgo admite que contratou carros de som com mensagens antivacina 

Elácio Hugendobler diz, com apoio do deputado federal Bibo Nunes (PSL), que a intenção era alertar os pais de que não são obrigados a imunizar os filhos. Veículos foram apreendidos na quarta-feira 

28/01/2022 - 08h55min

Atualizada em: 28/01/2022 - 09h01min


Humberto Trezzi
Humberto Trezzi
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Facebook / Reprodução

A Polícia Civil não precisou rastrear muito para chegar em quem contratou dois carros de som que disseminavam mensagens antivacina em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. A contratação das mensagens ambulantes foi feita pelo empresário Elácio Hugendobler, como ele mesmo assume em vídeo postado nas redes sociais (veja trechos acima)

Os veículos, uma Fiorino e um Fiat Uno de cor branca, foram filmados por moradores de diferentes bairros disseminando mensagens contrárias à vacinação de crianças contra a covid-19 e depois apreendidos pela Guarda Municipal do município. 

No alto-falante, os veículos transmitiam a seguinte mensagem: 

"Atenção, pais. Nós todos temos o dever de saber que não é obrigatória a vacina experimental em nossos filhos. As escolas não podem exigir e muito menos impedir o acesso de nossos filhos às salas de aula por não terem feito a vacina. E os fabricantes não garantem a eficácia e não se responsabilizam pelos efeitos colaterais, tendo em vista que muitos tiveram problemas". 

Os carros de som circularam pelos bairros Liberdade, Rondônia e Primavera, entre outros. A Fiorino foi abordada pela Guarda Municipal no bairro Rio Branco, e o Uno, no Guarani. Mas faltava saber quem contratou as mensagens. Agora já se sabe. 

Bolsonarista e financiador de campanhas políticas alinhadas ao presidente da República, Hugendobler é proprietário de lojas de autopeças no Vale do Sinos. Ele também foi pré-candidato a vereador pelo PRTB nas últimas eleições, mas não chegou a concorrer.

No vídeo, o empresário afirma que sua intenção foi alertar sobre a não obrigatoriedade da vacinação infantil. 

— Eu apenas orientei que fosse lida para o público o que está na bula das vacinas. A fabricante da vacina não se responsabiliza pelos resultados. Então a responsabilidade cai sobre os pais. Por isso. Os pais têm o direito de decidir se vão vacinar os filhos ou não. Temos o direito à liberdade — declarou, no vídeo, em que é entrevistado pelo comunicador e deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS). 

Prefeitura de Novo Hamburgo / Divulgação
Momento em que Guarda Municipal de Novo Hamburgo apreende carro de som que divulgava mensagem antivacina

O parlamentar saúda Hugendobler como "patriota", no vídeo de sete minutos divulgado na internet. 

A Polícia Civil decidiu não autuar em flagrante os motoristas dos carros de som, mas manteve a apreensão dos veículos. O episódio é investigado pelo delegado Rafael Sauthier, da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo. 

Em tese, tanto os motoristas que divulgaram as mensagens antivacina como o empresário podem responder por apologia ao crime. No caso, infração de medida sanitária preventiva, com base no artigo 268 do Código Penal (infringir determinação do poder público, destinada a impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa). 

— Ainda não decidimos se serão enquadrados e qual o enquadramento. Vamos tomar depoimento do empresário e dos divulgadores das mensagens, antes — pondera o delegado. 

O prefeito em exercício de Novo Hamburgo, Márcio Lüders, disse que a prefeitura vai solicitar que os autores da mensagem sejam denunciados ao Ministério Público. Ele ressalta que o imunizante para crianças foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e acrescenta que já agendou a vacinação da sua filha Rafaela, de 11 anos. 

— Caso façam de novo essas mensagens, vamos apreender os veículos outra vez. Espalhar fake news é crime — alerta Lüders. 

Hugendobler está envolvido em outra polêmica. Participou da invasão da Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo em 15 de setembro de 2021, para protestar contra votação da nova planta de valores do IPTU municipal. Ele foi indiciado criminalmente por furto de um equipamento de som.

Contraponto

O que diz Elácio Hugendobler: 

GZH solicitou entrevista ao empresário. Enquanto decide, encarregou o advogado, José Lauri da Silva, de falar a respeito da apreensão dos carros de som. Lauri afirma que "não houve crime, caso contrário a Polícia Civil teria autuado os mensageiros em flagrante delito".

Lauri disse que não se pode caracterizar as mensagens como antivacina e sim, como um alerta.

— É direito dos pais saberem o que seus filhos vão receber como imunizante, quais efeitos. E também que não são obrigados a vacinar.


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