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Covid-19

Escalada de novos casos e características da Ômicron indicam que contágio nunca foi tão alto

Alta transmissão da variante faz com que Estado tenha atingido nas últimas semanas o maior número de infectados da pandemia

25/01/2022 - 09h21min

Atualizada em: 25/01/2022 - 09h22min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Jonatan Sarmento / Agencia RBS

As estatísticas confirmam a impressão empírica: nunca foi tão fácil pegar coronavírus como agora. A última semana registrou recordes de novos casos no Rio Grande do Sul – nesta segunda-feira (24), a média móvel foi de 15,5 mil novos casos diários, mais do que o dobro do registrado em março de 2021, quando o sistema hospitalar colapsou. 

Em dois dias de janeiro, o Rio Grande do Sul notificou mais de 20 mil casos em um único dia, de acordo com estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS). O Brasil, atualmente, registra uma média de quase 150 mil casos diários, também um recorde. O aumento ocorre com a escalada da variante Ômicron, já predominante no país.

— Nunca foi tão fácil pegar covid. E, quanto mais transmite, mais chance há de novas variantes. A gente precisa passar um recado muito claro: neste momento, temos que utilizar máscaras de boa qualidade, não aglomerar e vacinar. Se a cobertura de duas doses está muito boa nas capitais, cidades do Norte têm menos de 40% de cobertura de duas doses. Deveríamos ter um Ministério da Saúde pensando em mutirões de vacinação e em estimular a terceira dose e a vacinação das crianças. Nada disso está sendo feito — diz a médica Rosana Onocko, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A proporção de casos positivos entre todos os exames feitos não pode ser calculada com precisão no Brasil porque inexiste banco de dados com exames realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e em laboratórios privados, destaca o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise. 

Estatísticas da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) mostram que, nos laboratórios privados, mais de 36% de todos os exames feitos até a metade de janeiro deram positivo - no pior momento da covid-19, em março, eram 26%. No Rio Grande do Sul, a proporção é semelhante, apesar de gaúchos terem realizado mais testes agora do que em março (veja os gráficos). 

— Sempre tivemos uma testagem reativa: a pessoa é que busca o teste, não há teste preventivo para descobrir e isolar o vírus. Isso significa que temos prevalência do vírus muito maior do que os dados mostram. É muito provável que os números oficiais sejam uma parte pequena dos casos. É 10% do total? 50% do total? Não sabemos — diz Schrarstzhaupt. 

GZH mostrou que o Brasil testa, proporcionalmente, menos do que países africanos como Namíbia e África do Sul. Em outras nações, testes gratuitos podem ser realizados sem consulta médica em locais de grande circulação ou até mesmo após pedido pelos Correios. 

Em discussão hoje no Brasil, os autotestes, comprados na farmácia ou supermercado para realização em casa, são utilizados na Europa, na América do Norte e entre vizinhos sul-americanos, como Chile, Peru e Argentina. 

Maior transmissibilidade

Estudos mostram que a Ômicron transmite mais porque se reproduz no trato respiratório superior. Terimar Ruoso Moresco, professora de Microbiologia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), lembra que a Ômicron é passada para até 12 pessoas. É uma taxa de transmissão parecida com a do sarampo, de 15. A variante de Wuhan transmitia para duas a três pessoas e Delta, para seis. 

— O percentual de pessoas contaminadas será muito grande. Pensa: 20 mil pessoas contaminadas por dia no nosso Estado, sem considerar subnotificação. Imagina quem não se testou e quem está assintomático? — afirma Moresco.

O impacto da baixa testagem é descrito em uma situação vivida na UFSM, descreve a microbiologista. A instituição passou a testar alunos e servidores que retornam ao presencial, independentemente de apresentarem sintomas. 

— Para nossa surpresa, tivemos uma positividade bem alta e inesperada de estudantes assintomáticos. Eles inclusive se surpreendiam. A testagem é fundamental, você testa, isola e garante que o trabalho siga — acrescenta Moresco.

O crescimento vertiginoso de casos deve acabar entre o fim de janeiro e a segunda metade de fevereiro, período para o qual especialistas aguardam o pico da Ômicron no Brasil, se a curva se comportar da mesma forma como ocorreu em outros países. Ao mesmo tempo, temem que o Carnaval provoque novo repique de casos. 

O diretor do escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa, Hans Kluge, afirmou ser “plausível” que, após a onda de coronavírus causada pela Ômicron, a pandemia acabe na região

— Assim que a onda da Ômicron se acalmar, haverá imunidade por algumas semanas e meses, seja graças à vacina ou porque as pessoas terão sido imunizadas pela infecção, e também uma queda devido à sazonalidade — declarou.

Hipótese do fim da pandemia

A hipótese de que a Ômicron é o início do fim da pandemia está em debate na ciência, como mostrou GZH. Parcela dos cientistas afirma que a variante é a dominante em diversos países – portanto, uma vez que infecte grande parte da população, a doença perderá força. Mas outros analistas afirmam que a covid-19 costuma gerar mutações que permitem a reinfecção.

— Essa visão da OMS é otimista, mas não temos certeza. E se tivermos nova variante que escape das vacinas? Para subscrever essa visão mais otimista, precisaríamos ver grandes mutirões de vacinação em países africanos e latino-americanos com cobertura baixa — destaca Rosana Onocko, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva.

A mesma visão é compartilhada por Cristina Bonorino, professora de Imunologia na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e colunista de GZH: 

— Essa declaração da OMS só é possível em que tu tenha pelo menos 50% das pessoas vacinadas. Não é possível controlar a pandemia sem vacinação. A vacina não funciona impedindo que a pessoa contraia o vírus. Ela funciona reduzindo a replicação do vírus no corpo e, dessa maneira, diminuindo a chance de transmitir a outra pessoa — destaca. 

Dados parciais de vacinação apontam que o Brasil tem 69,7% de toda a população com duas doses. 


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