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Contra a covid-19

Vacinação de crianças no Brasil já deveria ter começado, avaliam especialistas 

Infectologistas ouvidos por GZH destacam que a efetividade da imunização dependerá da adesão dos pais e responsáveis à campanha 

06/01/2022 - 09h54min

Atualizada em: 06/01/2022 - 09h54min


Jean Peixoto
Jean Peixoto
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Antonio Valiente / Agencia RBS
Vacinação começará na segunda quinzena de janeiro

A partir do dia 14 de janeiro, o Ministério da Saúde deve iniciar a distribuição de 1,4 milhão de doses da vacina contra a covid-19 destinadas às crianças com idades entre cinco e 11 anos. O cronograma do repasse foi divulgado na tarde desta quarta-feira (5). Questionado sobre a demora para o início do processo de imunização em crianças, o ministro Marcelo Queiroga foi enfático ao afirmar que “o Brasil está absolutamente dentro do prazo e não houve atraso nenhum.”  

No entanto, infectologistas ouvidos por GZH avaliam que a vacinação de crianças no país já deveria ter começado e destacam que a efetividade da imunização dependerá da adesão dos pais e responsáveis à campanha. 

O coordenador do serviço de infectologia do Hospital São Lucas da PUCRS, Fabiano Ramos, ressalta que entidades brasileiras que trabalham com vacinas, especialmente com crianças, recentemente se manifestaram apontando que a vacinação é segura. Ele também pontua que o país poderia estar mais avançado neste processo.  

— Tem um número grande de crianças vacinadas sem nenhum risco, tanto no estudo que levou à liberação da vacina, quanto em países que já iniciaram a imunização. Nessa corrida contra a pandemia, o Brasil teve algumas vantagens, com um percentual grande de vacinados com a segunda dose. Com relação às crianças, temos um certo atraso como também foi na vacinação dos adultos. Poderíamos ser mais ágeis  — comenta. 

O virologista, professor e pesquisador Fernando Spilki ressalta que é necessário vacinar o máximo possível de pessoas, inclusive, crianças. O especialista acredita que o processo foi atrasado devido à consulta pública.  

— O próprio cronograma revela que, lamentavelmente, essa postergação ocorreu para dar voz a uma consulta pública que era inadequada. Isso acabou postergando algo por dias que não precisaria. Veja que, inclusive, já havia a compra agendada para este mês — assinala.  

Spilki destaca que diante das variantes em circulação, o volume de crianças imunizadas deveria ser equivalente ao de adultos, acima de 70%. Ele frisa que as crianças são vacinadas há décadas, com diversos imunizantes, o que possibilitou a redução da mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida. 

— A vacinação passaria também aos pais uma mensagem de segurança, porque já são mais de 8 milhões de crianças vacinadas só nos Estados Unidos, com efeitos colaterais em uma taxa mais baixa do que aquela verificada em adultos. É um processo fundamental que nós temos para o controle de doenças e para a covid-19 não é diferente — diz. 

O consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da UFSM, Alexandre Vargas Schwarzbold, lembra que as crianças estiveram isoladas durante parte do período de restrições e, com o retorno às atividades escolares e eventos sociais, a tendência é de que os casos de coronavírus entre esse grupo aumentem, por isso, defende a vacinação. Na avaliação do especialista, a imunização já deveria ter iniciado:

— Sem dúvida que há um atraso. Estamos vendo uma nova onda nítida. Em Santa Maria, já vemos um aumento de casos da variante Ômicron. Imagine nas capitais. Provavelmente, entraremos em março, no período escolar, com grande parte das crianças não vacinadas.  

Schwarzbold também considera que a queda da exigência de prescrição médica foi um ganho para a campanha. Contudo, critica o intervalo de oito semanas entre as duas doses —  prazo maior do que o previsto na bula, de três semanas.

A infectologista Andrea Dal Bó considera um acerto a decisão pela vacinação das crianças e acrescenta que seus dois filhos, de seis e nove anos, serão vacinados. Ela comenta que o aumento do intervalo entre a primeira e segunda dose pode permitir que mais crianças sejam vacinadas e lembra que, entre adultos, foi observada uma resposta de anticorpos maior com a ampliação do prazo. 

— Sou totalmente a favor da vacinação das crianças. Chegou o momento delas. Vimos mais de 2 mil óbitos ao longo destes dois anos de covid-19 em crianças, o que é um número muito maior do que qualquer doença imunoprevinível com vacinas — sublinha. 

Conforme o infectologista e professor da Unisinos, Marcelo Bitelo, uma vez que a maioria da população está imunizada com vacina, as crianças se tornam mais suscetíveis a adquirir a covid-19, e, por isso, a necessidade de instituir a vacinação nessa faixa etária. Bitelo frisa que o ideal é que toda a população pediátrica seja vacinada. 

— Tenho um casal de filhos, a Mariana com oito anos e o Bernardo com cinco, e pretendo vaciná-los assim que a vacina estiver disponível para eles, pois o risco de adoecerem e/ou apresentarem um caso grave de covid-19 é muito maior do que qualquer evento adverso que a vacina pode causar. Espero que todos os pais tenham essa mesma consciência — finaliza. 


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