Em agosto de 2021, Valdir Mendonça, 33 anos, comprou um urso de pelúcia para presentear uma pessoa com a qual começava a se relacionar. Carregava o bichinho de pelagem cor de caramelo e tamanho de uma criança no banco do carona de seu Chevrolet Spin por uma semana, enquanto trabalhava em uma transportadora e complementava a renda como motorista de aplicativo em Porto Alegre. Quando chegou o aniversário da mulher que queria conquistar, no entanto, Valdir não teve o gesto correspondido e o romance não engrenou. Para piorar, em janeiro, a empregadora formal o demitiu. Mas Valdir segue com Charles, o mamífero inanimado, como seu copiloto.

 — Naqueles dias, antes de o presente dar errado, vi que o pessoal se animava quando entrava no carro e tinha um ursão no banco da frente. Ao mesmo tempo, ajudou a respeitarem o distanciamento necessário por conta da pandemia. Fui deixando e até hoje os passageiros gostam — conta o motorista porto-alegrense, seis meses depois de comprar o brinquedo.

Companheiro da jornada diária de 10 horas transportando passageiros na Região Metropolitana, Charles foi batizado ainda na fábrica. Valdir aproveita a presença do mascote também nas redes sociais, reunindo registros fotográficos e relatos dos passageiros:
 “O motorista era simpático, mas adorei o urso Charles no carona! Muito fofo”, diz uma das avaliações anônimas. “Um excelente profissional. Adorei a companhia do Charles, magnífica ideia”, elogia outra.

 — Tem gente que se assusta. Entra distraída e, quando vê, confunde com algum bicho vivo. Outros passageiros nem consideram que um motorista de app estaria com um urso na carona. Eu paro na frente delas e elas não acreditam, eu preciso chamar o passageiro pelo nome — detalha Valdir. — A presença dele faz as pessoas conversarem e me descontrai também.

"Primo tranquilo do Ted"

Segundo Valdir, até mesmo os passageiros mais reservados, que assinalam a opção de não conversar durante a viagem, acabam caindo nas graças do ursão. Alguns chegam a associá-lo com o personagem Ted, brinquedo animado de filmes de comédia que ficou conhecido por falar palavrões, usar drogas e ter pouco comprometimento com a vida adulta do dono na trama, mas Valdir se antecipa:

 — Digo que é o primo mais tranquilo do Ted. Às vezes gostam tanto que querem levar, ou acham que é promoção do aplicativo. Tem casal que a menina pede para o namorado um urso igual, e aí eu tenho que dar uma manobrada. Eu digo que o Charles é meu fiscal, meu assistente, preciso ser criativo nessa hora.

Agora sem emprego formal, Valdir vai apostar na parceria com Charles para consolidar sua atividade a bordo do Spin. Ele ampliou a carga horária e tem pensado em alternativas para valorizar ainda mais o diferencial do seu serviço.

 — Já coloquei máscara contra a covid-19 nele, penso em decorar um pouco mais. Talvez tematizar com as festividades e cada época do ano. Agora que essa é minha atividade econômica principal, acho que vou precisar valorizar isso — projeta.