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Integração de ônibus metropolitanos e urbanos mudará linhas e veículos e exigirá baldeação; entenda

Sistema de leitura dos cartões descontaria o valor da passagem de acordo com o ponto onde o passageiro ingressou no coletivo; medida pode levar à redução da quantidade de funcionários das empresas

24/02/2022 - 09h27min

Atualizada em: 24/02/2022 - 09h31min


Gabriel Jacobsen
Gabriel Jacobsen
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Isadora Neumann / Agencia RBS

O governo do Estado deu o pontapé inicial, nesta quarta-feira (23), para que saia do papel um antigo projeto da Região Metropolitana: a integração dos ônibus metropolitanos e urbanos em Porto Alegre e nas cidades do entorno. Com a meta de reduzir os custos do transporte coletivo e, consequentemente, o valor das tarifas, a proposta de integração foi apresentada pelo governo do Estado a prefeitos da Grande Porto Alegre – parte dos quais já se comprometeu a levar o plano adiante.

Se adotado, o projeto-piloto para integração dos ônibus metropolitanos e urbanos vai alterar os veículos utilizados pelos passageiros, os trajetos das linhas e, em parte dos casos, vai exigir que os usuários dos bairros peguem dois ônibus para fazer um trajeto até então realizado com uma única viagem.

Atualmente, os ônibus metropolitanos não podem pegar novos passageiros dentro dos municípios de destino para não competir com o transporte público das cidades. Um ônibus metropolitano que realiza o trajeto Viamão-Porto Alegre, por exemplo, atualmente só permite desembarques dentro da Capital.

Pela proposta, os veículos metropolitanos passariam, também, a realizar o transporte de passageiros dentro das cidades de destino. Isso implica em uma série de adaptações, sendo a primeira delas a instalação de leitores para os cartões municipais usados pelos passageiros em algumas das cidades (caso do TRI em Porto Alegre). O sistema de leitura dos cartões descontaria o valor da passagem metropolitana ou urbana, de acordo com o ponto onde o passageiro ingressou no ônibus.

— Vamos colocar dois validadores no ônibus metropolitano. O usuário que tem cartão TRI, por exemplo, dentro de Porto Alegre, vai usar o TRI. E o usuário que vem da Região Metropolitana já fez o pagamento dele com o cartão TEU — afirma o secretário estadual extraordinário de Apoio à Gestão Administrativa e Política, Agostinho Meirelles.

Como o objetivo da integração é dar mais eficiência ao sistema e evitar a sobreposição de linhas, os trajetos dos ônibus urbanos também seriam adaptados. Assim, algumas linhas de ônibus urbanos que saem de dentro dos bairros, pegam grandes avenidas e seguem até o centro da Capital deixariam de fazer esse longo trajeto. Essas linhas passariam a funcionar em deslocamentos mais curtos, transportando os passageiros apenas de dentro dos bairros até as grandes avenidas, onde os usuários desembarcariam e aguardariam um ônibus metropolitano para seguir viagem.

— O ônibus urbano pegará esse passageiro (no bairro) e o largará em uma avenida tronco (de grande fluxo), onde o usuário acessará o ônibus metropolitano. E esse ônibus metropolitano vai ter o validador (para ler os cartões) urbano e metropolitano — projeta Meirelles.

O projeto-piloto apresentado pelo governo do Estado prevê a integração apenas entre 9h e 16h, horário chamado de “entrepicos”. Nesse período, tanto os ônibus metropolitanos quantos os municipais costumam, segundo o governo estadual, rodar com assentos vagos.

O ponto de partida da integração é o fato de que parte das linhas metropolitanas e urbanas tem trajetos que se sobrepõem, o que significa dois ônibus rodando pelo mesmo caminho, por vezes com baixa lotação. Quanto maior a ocupação dos coletivos, maior a eficiência do sistema e menor a tarifa, argumenta o governo.

— Em quatro municípios, Porto Alegre, Canoas, Alvorada e Sapucaia, a sobreposição de linhas metropolitanas e urbanas é de 76%. Quer dizer que dois carros diferentes percorrem o mesmo trajeto urbano, dentro de cada município, para carregar diferentes passageiros — acrescentou Meireles.

No caso específico de Porto Alegre, o estudo da Metroplan indica que há 434 quilômetros de sobreposição, isto é, vias por onde trafegam simultaneamente os veículos de fora da Capital e os coletivos municipais.

A alteração de linhas, em alguns casos, pode levar à redução da quantidade de funcionários das empresas operadoras dos sistemas de transporte municipais, de acordo com o secretário estadual. Não há estimativa sobre o impacto na tarifa, pois, segundo o secretário, isso depende do acordo que será feito em cada cidade.

Porto Alegre e Canoas dizem sim para proposta

Os prefeitos das duas maiores cidades da Região Metropolitana apoiam o projeto-piloto. Sebastião Melo, prefeito da Capital, avalia que a medida, ainda que positiva, é apenas pontual e não resolve estruturalmente o problema de sustentação financeira do transporte público.

— Esse tema da integração é necessário, mas muito complexo. Na nossa avaliação, enquanto não houver um consórcio metropolitano, não tem como fazer o tema de casa completo. A proposta que está na mesa é a inter-operacionalidade de linhas. Porto Alegre topa e eu pedi que viesse o termo de acordo. Vamos assinar — defendeu o prefeito da Capital, que também é presidente da Granpal, a Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre.

Melo também lembrou que é preciso que haja a concordância dos usuários dos ônibus da cidade, visto que parte deles passará a conviver com a baldeação de veículos.

— Eu também tenho que conversar com o usuário. O cara que sai da Lomba do Pinheiro vai ter que parar na Bento Gonçalves para ingressar no sistema metropolitano (de ônibus). A pergunta é: conversamos com os gregos? O cidadão vai querer sair da Parada 4 da Lomba do Pinheiro, parar depois e trocar de ônibus? Uma coisa é no papel, outra é na vida real — acrescentou.

O prefeito Jairo Jorge, de Canoas, destacou que a cidade tem uma facilidade por já operar o sistema municipal com o cartão TEU. Ele valorizou o possível ganho de eficiência e reforçou que a alteração vai gerar benefício para todos os envolvidos.

— É possível iniciar em 90 dias. E é um “ganha-ganha”. Há essa necessidade de integração. Não tem sentido existirem dois sistemas (para o mesmo trajeto). No nosso caso, é mais fácil porque usamos o mesmo sistema de bilhetagem, o TEU — disse o prefeito.


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