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PAPO RETO 

Manoel Soares: "Ela só pede um abraço"

Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados. 

12/02/2022 - 05h15min


Manoel Soares / Arquivo Pessoal
História triste de uma amiga querida

Enquanto escrevo esta coluna, choro. Falando pelo Insta com uma amiga que mora em Porto Alegre, ela me conta que seu filho de 20 anos morreu. Morreu com um tiro na cabeça e se afogou. Me perdoem os detalhes dolorosos desta tragédia, mas precisava que entendessem um fragmento da dor dessa mãe. 

Nos últimos seis meses, ela come, adormece, acorda, respira pensando nos últimos minutos do filho. Todo motivo de alegria virou pecado na vida dela, sorrir é quase que ofender a Deus na perspectiva de dor dessa mãe. Tudo isso porque alguma situação saiu do controle e um gatilho foi puxado. 

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Provavelmente, quem já puxou um gatilho está lendo este texto agora, provavelmente quem quer puxar gatilhos está lendo este texto também e, em ambos os casos, quero que reflitam. Por mais justas que pareçam suas razões, vocês querem ser parte de dores como a dessa mãe? 

Alguns dirão: “Mas se os filhos não pensam na dor de suas mães, não serei eu a pensar”. Mas entendam que a ação é sua, a cobrança vai ser em cima de você também. O universo não perdoa quem tira uma vida, vivi o suficiente para saber disso. 

Esta mãe está condenada a transitar em um labirinto de tristeza que às vezes vai anestesiar, mas sempre que ver uma trança feita na cabeça de alguém, vai lembrar que seu menino adorava trançar o cabelo, dançar hip hop e curtir uma praia. Estas lembranças dela ecoam em mim, e me obrigam a dizer aos jovens que acham que são eternos: cuidem para que suas atitudes não levem vocês para a morte, pois vão destruir quem mais amam, suas mães. Para tentar aplacar a dor, esta minha amiga, sempre que encontra um menino com trança igual à do seu filho, pede um abraço.


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