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Com a força do cangaço

Premiado no "Domingão com Huck", vendedor de tapioca vira celebridade no Vale do Sinos: "Nem se trabalhasse 200 anos teria esse sucesso"

Morador de Novo Hamburgo ganhou R$ 25 mil e foi surpreendido com doação de um food truck personalizado pelo programa da Rede Globo

16/03/2022 - 22h27min

Atualizada em: 16/03/2022 - 22h28min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Quando deixou Monte das Gameleiras, no Rio Grande do Norte, em 2010, Olinto Estevam da Silva buscava qualquer oportunidade de emprego. Encontrou no Estado homônimo do Sul uma vaga de servente de pedreiro. Trabalhou por um tempo em obras de Novo Hamburgo, cidade onde escolheu viver. No entanto, logo entrou na lista de demissões da empresa do Vale do Sinos.

Junto da mulher, empreendeu, vendendo tapiocas doces e salgadas. Caracterizado como cangaceiro, com paródias cantadas com o triângulo de percussão, começou a circular nas ruas vizinhas à BR-116. A refeição tradicional em sua terra o deixou conhecido a tal ponto que surgiu convite para contar sua história no Domingão com Huck, da Rede Globo. O programa foi ao ar no último domingo (13).

— Estou preocupada com a mulherada. agora que ele está famoso, vou ter que sair junto — brinca a esposa, Cineide Delmana Crisóstomo da Silva, 49 anos.

O marido, de 52 anos, sorri de volta, admite que tem posado para fotos e passou a ser tietado na rua e no supermercado. Enquanto conversava com a reportagem de GZH, na manhã desta quarta-feira (16), foi abraçado por operários da limpeza pública do município. Eles desceram do caminhão de lixo imitando o grito pelo qual Olinto é reconhecido.

A fama alcançada é fruto do The Wall, um quadro de conhecimentos gerais do programa, que rendeu a ele um prêmio de R$ 25 mil. Teve ainda uma surpresa: um food truck personalizado.

— Luciano Huck disse que viria até minha casa comer uma tapioca feita pela minha esposa. Imagina. Nem se trabalhasse 200 anos teria esse sucesso. Quem sabe não é o Huck que vai trazer o food truck? — sugere.

O veículo estilizado é uma Kombi azul, de lataria adesivada com arbustos que lembram o sertão. Sobre o teto, o letreiro Cangaceiro da Tapioca. Enquanto o carro não chega ao Rio Grande do Sul, as entregas das tapiocas ocorrem em uma Honda Biz. O slogan é diferente do apelido dado por Huck: Rei da Tapioca. A motocicleta tem a cabeça de uma boneca à frente do guidão, vestida com um chapéu de cangaceiro.

O vendedor também pilota caracterizado, com a boina meia lua de fitas de couro e estrelas nordestinas. Além de Novo Hamburgo, ele oferta o produto em Estância Velha.

— Com o food truck, pretendo me instalar no centro das cidades. Já falei com as prefeituras, vai ter até inauguração com fita cortada — comemora.

Silva planeja realizar cursos preparatórios para administrar o negócio, investindo o dinheiro recebido no Domingão. Sonha contratar funcionários, com um futuro próspero imaginado, e entregar os alimentos de bicicleta elétrica.

— Quem sabe um empresário me patrocina com a bicicleta — arrisca.

A família já chegou a vender cem tapiocas em um dia, ao valor de R$ 10 cada. O ganho bruto tem desconto da farinha, dos frios para salgados e dos chocolates, frutas, coco, leite condensado e outros ingredientes. 

Bom humor e emoção

A benção recebida no programa de auditório não foi a primeira: driblar a pobreza e deixar no passado a falta de perspectivas só foi possível pelas mãos do pastor Luciano Vargas, 46 anos. O religioso gaúcho visitava o Rio Grande do Norte quando se conheceram. Encantado com o jeito alegre do nordestino — repentista, cantor e compositor em uma igreja evangélica —, o convidou a viajar. Bancou as passagens, ato pelo qual tem a gratidão dos novos amigos.

— Olinto me contou uma história, que sua filha havia pedido um biscoito. E que ele não tinha dinheiro pra comprar… — começa a contar o pastor, mas tem a fala interrompida pela emoção, ao vivo na Rádio Gaúcha.

— Toca o nosso coração. Precisava de uma oportunidade — complementa na sequência.

Ouça a entrevista completa:

Silva é de família de 12 irmãos. Desses, seis morreram, ainda na infância, relembra o sobrevivente da fome. 

Além do produto preparado por quem cresceu comendo tapioca, o empreendedor se destaca pelo bom humor. 

Com melodia de Pabllo Vittar, ele interpreta: “a tapioca chegou, vai te conquistar com o seu sabor”, em um grave semelhante ao da artista pop. Entoa ainda um forró: “tapioca eu já comprei, é claro que adorei. É uma delícia, eu já sei, vou comprar outra vez”.

No Instagram @oreidatapioca.oficial, compartilha fotos e vídeos. E rapidamente muda da música para as piadas: 

— Reuni meus filhos à mesa e disse que queria dividir a herança. Dei um prato e um talher para cada um: vocês vão ter o que comer pro resto da vida — diverte-se.

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