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Demolição anunciada

Sem PPCI desde 2020, Anfiteatro Pôr do Sol sofre com vandalismo e abandono; veja imagens

Prefeitura de Porto Alegre definiu que estrutura está condenada e deve ser derrubada

13/04/2022 - 08h43min

Atualizada em: 13/04/2022 - 08h44min


André Malinoski
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Mateus Bruxel / Agencia RBS

Um dia após a prefeitura de Porto Alegre anunciar a demolição do Anfiteatro Pôr do Sol, apesar de ainda não haver resultado dos estudos de dois consórcios sobre soluções para a revitalização do trecho 2 da Orla do Guaíba, uma visita ao local ajuda a entender a decisão do Executivo municipal. Abandonado e interditado, o local se deteriora claramente, uma situação que vem desde 2020, por falta de Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). 

O efeitos do abandono e do passar do tempo são visíveis na estrutura do prédio. Há dezenas de pichações, marcas de fogueira e sujeira. A vegetação cresceu no entorno, o que torna o lugar inóspito e ainda mais perigoso. A parte de madeira do palco cedeu em alguns trechos e também apresenta marcas de fogo. A impressão é de que o anfiteatro está há muito mais tempo sem utilização.

Traficantes e usuários de drogas estão sempre no entorno do anfiteatro. A chance de alguém sofrer um assalto nas imediações é considerável. Além disso, há espaços que podem ser utilizados como esconderijos para delinquentes dentro da estrutura, onde se percebe que pessoas estiveram recentemente consumindo drogas e acendendo fogueiras. Não bastasse o cheiro ruim, pombas que fizeram do lugar seu lar espalham fezes pelo chão em grande quantidade.

Se atualmente o Anfiteatro Pôr do Sol é o retrato do descaso, o mesmo não pode ser dito dos primeiros anos de sua existência. Inaugurado em 13 de maio de 2000, o lugar recebeu o nome em votação popular, que contou com a participação de cerca de 20 mil pessoas. Tornou-se uma espécie de cartão-postal da cidade.

Atividades como o Fórum Social Mundial de 2001, shows musicais, o aniversário de Porto Alegre, com presença do cantor e compositor Roberto Carlos, passaram por ali. Eventos ligados à Copa do Mundo de 2014 e à Copa América de 2019 também tiveram o espaço cultural como ponto de encontro. O anfiteatro também recebeu serviços especializados voltados à saúde e ao bem-estar da comunidade, e até alguns eventos da Semana Farroupilha. Foi local de começo e término de passeatas e manifestações.

Realizado em 18 de maio de 2019, o VillaMix Festival acabou sendo o último show realizado na região do Anfiteatro Pôr do Sol, com direito a dois telões e um palco montado à frente da edificação. Ou seja, já não ocorreu propriamente dentro da estrutura. Entre as atrações estiveram o DJ Alok, o sertanejo Gusttavo Lima e o funkeiro Kevinho

Em 14 de março de 2020, um incêndio atingiu o palco. Na ocasião, partes de metal da edificação foram atingidas. Dois caminhões de bombeiros precisaram ser chamados para apagar as chamas. Ninguém ficou ferido, e as causas nunca foram esclarecidas.

Questionada se a construção de um novo centro de eventos no lugar do atual não poderia significar a repetição do mesmo destino do anfiteatro, a secretária municipal de Parcerias, Ana Pellini, explicou que não:

— A primeira coisa que o município vai fazer é melhorar a questão do esgoto ali onde vai haver a marina pública. Vai ter iluminação, atividades, pessoas caminhando e ocupação. Todo o restante será dedicado aos eventos — antecipa.

Segundo a titular da pasta, câmeras de monitoramento serão espalhadas pelo trecho 2 no futuro, a exemplo do que já ocorre nos demais espaços revitalizados:

— A Orla é o local mais vigiado de Porto Alegre, por câmeras e de forma presencial. Temos lá Brigada Militar, Guarda Municipal e segurança privada.

Eventos e marina

A área de 50 mil metros quadrados do entorno do anfiteatro vai abrigar a marina pública, que oferecerá atracadouro permanente para os barcos, pequenos consertos e limpeza, local para abastecimento das embarcações, além de proporcionar eventos náuticos para o público.

Serão necessárias conexões para os pedestres entre o trecho 2 e os demais. O espaço, que depois de revitalizado estará apto a receber milhares de pessoas, seguirá abrigando grandes eventos musicais, em especial por não ter moradias nos arredores.

— É o único lugar que a gente tem de fácil acesso em que se pode fazer um show sem incomodar a vizinhança. Esse trecho tem de ficar dentro desse conceito — diz a secretária, salientando que os projetos que serão apresentados poderão ser rejeitados, aprovados ou aproveitados em parte.

Os dois consórcios de empresas, que têm mais 90 dias para a apresentação dos estudos, após acordo com a prefeitura por mais prazo, não antecipam detalhes do que será feito.

— Sobre o tema, informamos que ainda estamos desenvolvendo os estudos, e, portanto, não é possível anteciparmos nenhum detalhe sobre o projeto de revitalização — respondeu Fernanda Munaretti Michaelsen, engenheira de Orçamento e Planejamento da Construtora Pelotense, uma das empresas participantes.

Foram selecionados pela prefeitura dois consórcios para apresentarem estudos sobre soluções para a revitalização do trecho 2. Um deles reúne as empresas CHEETAH Consultoria Empresarial, Photo Arquitetura, PierBrasil Engenharia e Soluções Tecnológicas, Arvut Meio Ambiente e Superfície Engenharia. O outro é formado pela Construtora Pelotense e pela RGS Engenharia. 

Outros anfiteatros e arenas

Elísio Ricardo / Divulgação
Palco Bell’Anima, entre os municípios de Restinga Sêca e São João do Polêsine, a cerca de 30 quilômetros de Santa Maria

Mesmo que nem todos os anfiteatros existentes pelo país e ao redor do mundo sejam gratuitos, alguns oferecem entrada livre em várias ocasiões. Outra característica comum a muitos deles são as constantes reformas, o que garante o funcionamento e as condições ideais da edificação. O Palco Bell’Anima foi inaugurado em 25 de março deste ano, com direito a um concerto de abertura, no interior do Rio Grande do Sul. Inspirado nos moldes gregos, possui capacidade para 450 espectadores e fica no Centro Internacional de Arte e Cultura Humanista Recanto Maestro, entre os municípios de Restinga Sêca e São João do Polêsine, a cerca de 30 quilômetros de Santa Maria.

Em Brasília, a Concha Acústica é uma referência para encontros culturais. O arquiteto Oscar Niemeyer desenhou uma estrutura composta por três projeções retangulares. Também acrescentou uma plataforma em forma de trapézio, com um setor circular côncavo. O palco possui uma concha acústica de 42 metros de comprimento, além de cinco de altura (na parte mais alta). Já passou por duas reformas desde sua inauguração. 

Por sua vez, a Concha Acústica do Taquaral, em Campinas, no interior de São Paulo, é composta por um palco de 140 metros quadrados, além de uma concha acústica de 14 metros de altura. Fica no Parque Portugal e recebe espetáculos. Em uma reforma feita em 2013, passou por troca do piso do palco, melhorias na iluminação, recuperação da parte de concreto de sua estrutura. Houve obras, ainda, nas arquibancadas e a construção de rampas para acessibilidade de pessoas com algum tipo de limitação física.

O Teatro L’Occitane, situado em Porto Seguro, na Bahia, é outro exemplo de sucesso. Possui uma extensa área de mais de 6 mil metros quadrados, em meio às falésias e à Mata Atlântica. Tem capacidade para receber 2,1 mil pessoas e foi concebido para receber eventos variados. Há dois palcos sobrepostos (um aberto e outro fechado) e o sistema de refrigeração do ambiente é natural.

Fora do país há muitos exemplos. Um deles é o Parco della Musica, localizado em Roma, na Itália, onde ocupa uma área de 55 mil metros quadrados. Oferece ao público três salas de concerto, um parque e um teatro ao ar livre. No total, o lugar possui 7,6 mil assentos. Mais de 1 milhão de pessoas visita o lugar por ano. Em comum, quase todos passaram por reformas ou melhorias constantes para estarem ainda em funcionamento.



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