Notícias



Desastre climático

Três meses após vendaval, ainda é tempo de reconstrução em Guaíba

Tempestade em janeiro deixou mais de 4,5 mil imóveis danificados e alguns destruídos

17/04/2022 - 18h29min


Humberto Trezzi
Humberto Trezzi
Enviar E-mail
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Templo evangélico ficou destruído e começa a ser demolido para dar lugar a um outro, com o dobro do tamanho

Para quem testemunhou, o vendaval de 17 de janeiro em Guaíba parecia o fim dos tempos. Ventos uivantes, chuva incessante, telhados voando inteiros, janelas quebradas, muros desabando, árvores e postes caindo. Os minutos de fúria do clima completam três meses neste domingo (17) e muitos estragos ainda são visíveis na cidade de 90 mil habitantes. Mas a comunidade se uniu e grande parte dos imóveis começa a ser reconstruída.

Segundo dados da prefeitura, pelo menos 4,5 mil residências e prédios foram destelhados. Alguns continuam até agora inutilizáveis. É o caso de um dos principais colégios da cidade, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Carmen Alice Laviaguerre, a Ciep, em grande parte destruída. O pátio interno parece ter sido atingido por uma bomba: vigas de madeiras e telhas estilhaçadas como se fossem gravetos formam uma pilha de entulho. Janelas quebradas e fiação exposta completam o cenário de desolação. O colégio foi construído em 1991.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Pátio interno da escola parece ter sido atingido por uma bomba, tal a destruição causada pelo vendaval

LEIA MAIS
Guaíba contabiliza estragos após tempestade da tarde de segunda-feira
CTGs de Guaíba que foram destruídos por temporal fazem campanha para reconstrução

As obras de reconstrução começaram há poucos dias, em 25 de março, porque foi necessário fazer um pregão para escolha de quem assumiria o serviço. A vencedora foi a construtora ENE, que orçou o conserto do telhado em R$ 300 mil. O teto, o forro e a cozinha da escola terão de ser refeitos, revela o dono da empreiteira, Newton Lux. Para a troca de fiação, pintura e colocação de luminárias será contratada outra empresa.

— Vamos trocar mais de mil telhas grandes, com cerca de 2 metros de diâmetro. Vamos ver se até o meio do ano fica pronto — estima Newton.

A diretora da escola, Carla Salazar, lembra que o telhado de um pavilhão da escola voou inteiro e desabou sobre outro, provocando duplo prejuízo. Por sorte as crianças não estavam em aula. Os 200 alunos da rede estadual foram para a escola Aglaé Kehl. Já os 500 municipais, que também tinham aula no Ciep, foram absorvidos pela Escola Municipal Santa Rita de Cássia.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Pastor Oséias dos Santos Nunes e o templo atingido

— Um transtorno. Além disso, não pudemos retomar o turno integral, que era característico do Ciep. Agora eles têm só quatro horas de aula e vão embora — lamenta Carla.

A um quarteirão da escola, um templo teve o telhado arrancado e sofreu diversas rachaduras. É a sede da Igreja Batista Betel de Guaíba, que existe há 50 anos no município, mas o prédio tinha só dois anos. O prejuízo está estimado em mais de R$ 1 milhão, calcula o pastor Oséias dos Santos Nunes, responsável pelo local.

Neste sábado de Aleluia (16), operários empoleirados no que restou da estrutura se dedicavam a demolir os escombros do templo. O pastor pretende construir uma igreja com 2 mil metros quadrados de área, o dobro do tamanho da que foi destruída.

— Sem depender do poder público, com ajuda da comunidade. Temos um trabalho de auxílio a 120 famílias carentes, muitas com familiares dependentes de drogas. Fiéis têm contribuído para a reconstrução, já conseguimos dar entrada para as novas obras — salienta o religioso.

Na época do vendaval, o prefeito Marcelo Soares Reinaldo (PDT) decretou situação de emergência. Com isso, conseguiu ajuda rápida do governo federal, mais de R$ 500 mil. Ele estima que os prejuízos no município superam R$ 1,5 milhão (três vezes o recebido da União), apenas no que é responsabilidade do poder público (postes, telhados de repartições). A assistência social da prefeitura distribuiu 15 mil telhas e retirou 930 caçambas de entulhos em áreas públicas e privadas.

— Distribuímos 2,1 mil kits de alimentação e todas as telhas. Acho que agora há suficiente para cobrir todos os imóveis danificados — contabiliza o prefeito.

Em algumas avenidas ainda é possível encontrar postes inclinados pela ação do vento, mas que não parecem a ponto de desabar. É vida que retoma a normalidade. Só que os guaibenses, traumatizados, põem um olho no futuro e outro nos céus. Depois do vendaval, mais que a bonança, vem a cautela.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias