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"Nosso vigia é Deus"

Pague quanto puder, e se não puder, leve de graça: a banca solidária de frutas e legumes na Zona Sul

Tenda foi instalada há cerca de um ano por Sildo Mundt, 66 anos, caseiro de um sítio na Estrada Jorge Pereira Nunes, no bairro Campo Novo

09/05/2022 - 20h44min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Sildo Mundt, 66 anos, é caseiro de um sítio na Zona Sul

Sem caixa registradora, maquininha de cartão ou etiqueta com preço. Sistema de segurança, tampouco — foi substituído por um guardião especial, como indica a única placa da banca a céu aberto instalada na Estrada Jorge Pereira Nunes, no bairro Campo Novo, zona sul de Porto Alegre:

"Não temos câmera, nosso vigia é Deus".

A quitanda, que recebe contribuições espontâneas, é de Sildo Mundt, 66 anos, caseiro de um sítio no local. Tem estrutura de madeira e cobertura para os alimentos, colocados em caixas em frente ao painel que cita a proteção divina.

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O anúncio descreve também a forma como o pequeno comércio funciona: "Pegue as frutas que precisar e deixe a contribuição que achar justo. Se não tiver o que dar, pode pegar o que precisar".

— É para ajudar. Muita fruta acabava estragando, e eu vejo que tem gente que não pensa no próximo. Joga fora em vez de doar. Se todo mundo fizesse um pouquinho disso, o mundo seria melhor — afirma.

Mundt é natural de Agudo, município da região central do Estado. Na infância, com a família, aprendeu a lida no campo. 

Conta que, ao ver vizinhos em dificuldade na área rural da Capital, teve a ideia de repartir a colheita, que em alguns dias inclui aipim, chuchu, banana e mamão, além da grande variedade de laranja, limão e bergamota. Atualmente, diz ter mais doações do que vendas.

— Tem mais ou menos um ano que coloquei isso aí. As frutas sempre saem, mas o valor que as pessoas deixam diminuiu. Só que o dinheiro não é o mais importante pra mim e sim que elas levem pra casa.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Mundt é natural de Agudo, na Região Central

Na manhã desta segunda-feira (9), o ponto bem organizado recebeu visitas antes das 7h: a caminho do trabalho, um morador da região perguntou quanto custava o quilo dos frutos. Ouviu que poderia deixar o que quisesse ou levar de graça, que não haveria qualquer constrangimento. O homem então encheu uma sacola e colocou R$ 2 no cofrinho.

Mundt vive sozinha na propriedade da Zona Sul. Ou melhor: tem a companhia de 10 gatos e outros tantos cães, pássaros, marrecos e de uma vaca de leite. Provocado se trocaria o sossego do local de pouco trânsito, acessado por uma via de chão batido, disparou:

— Me colocar em um apartamento? Seria o mesmo que me botar em uma prisão.


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