Notícias



Pós-Yakecan

Semana de frio e tempestade aumenta busca por albergues, mas não alcança toda a população em situação de rua em Porto Alegre

Apesar dos esforços da Fasc, apego das pessoas por sua região e pertences ainda é desafio para levar atendimento a todos que precisam

23/05/2022 - 10h44min

Atualizada em: 23/05/2022 - 10h48min


Roger Silva
Roger Silva
Enviar E-mail
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Um total de 689 das 818 pessoas em situação de rua catalogadas pela prefeitura buscou abrigo nas estruturas da prefeitura

A tempestade subtropical Yakecan e as baixas temperaturas desta semana fizeram com que 689 das 818 (84%) pessoas em situação de rua catalogadas pela prefeitura buscassem abrigo nas estruturas oferecidas pelo município desde a segunda-feira (16) em Porto Alegre. De acordo com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), 449 obtiveram atendimento em pousadas particulares bancadas pelo Executivo municipal, enquanto outros 48 foram ao Ginásio Tesourinha, subindo a média de acolhimentos, normalmente concentrada nas 240 vagas em albergues noturnos.

As equipes da Fasc reforçaram a presença nas ruas e as conversas periódicas com os sem-teto, alertando dos riscos de seguirem expostos ao frio extremo e aos ventos do ciclone. Porém, o vínculo delas com a região onde passam seus dias, com seus pertences ou até mesmo uma condição psicológica que as fazem acreditar que estão confortáveis onde vivem são desafios para as equipes de assistência social tirá-las das ruas.

— Há uma questão de saúde mental, tanto de uso de substâncias quanto da ordem psíquica, quando naturaliza a permanência na rua, pois perdem a capacidade de raciocinar e avaliar a quantos riscos eles estão expostos por seguir na rua — explica a coordenadora de Abordagem Social da Ação Intercomunitária de Atendimento Social (Aicas), Cristina Szymanska Donay.

Em ambas as situações, o foco da Fasc é levar atendimento de maneira contínua nos programas de assistência ao maior número de pessoas. O acompanhamento tem como objetivo tirar esses indivíduos da situação de rua.

— Em situações extremas, como a do ciclone que vimos esta semana, estávamos nas ruas oferecendo a abordagem e explicando o que vinha por aí. Se a pessoa quisesse, entrava no carro e ia conosco pro albergue. Se não quisesse, ganhava cobertor e orientação para passar da melhor maneira possível as próximas horas, e voltávamos no outro dia para oferecer de novo nossos serviços de assistência — detalha, ressaltando o que é o verdadeiro problema, na visão dela: — O que falta em Porto Alegre é uma política de habitação social. Esse socorro no frio é provisório. Estrutura do Tesourinha, albergue para combater o frio e semelhantes não resolvem a vida de uma pessoa, pois não dá um lugar para ela morar. É preciso que a habitação seja considerada um direito público. É algo que já está na Constituição, mas não é cumprido.

Oferta e demanda

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Pessoas permanecem nas ruas por apego à região ou aos seus pertences

No primeiro trimestre de 2022, 818 pessoas em situação de rua foram abordadas pelas equipes da Fasc, segundo os registros da fundação. Há 240 vagas em albergues coletivos, os chamados Centro Pop, e a prefeitura paga para hospedar 350 pessoas em quartos de hotéis e pousadas pela cidade, totalizando uma oferta de 590. Nesta semana, foram 449 pessoas que, em vez de dormir na rua, passaram a noite em 13 pousadas, conforme a Fasc.

Ao longo do inverno, o total de vagas disponíveis deve chegar a 700, somando os albergues e as pousadas. Essa alternativa foi desenvolvida nos últimos dois anos, quando os albergues precisaram reduzir a capacidade de atendimento por conta do distanciamento necessário pelo coronavírus. A solução se mostrou positiva também para outro problema da Fasc: a descentralização da estrutura física de atendimento no mapa da cidade. As encarregadas explicam que a população que vive nas ruas da Zona Sul ou de outros locais afastados, por exemplo, muitas vezes não quer buscar atendimento no Centro por não se sentir cômoda no deslocamento ou segura com quem vai encontrar em outra região da cidade.

— Muitas vezes, a pessoa tem seu vínculo de apoio comunitário em um determinado local e não quer se deslocar. É delicado, pois queremos atendê-la, mas não podemos exigir que ela se sujeite a uma situação que não é de seu interesse ou a conflitos que ela tenha em determinada vizinhança — elucida a coordenadora da proteção social especial, Helena De La Rosa.

— Cada caso é avaliado de uma maneira. Não há um protocolo. Na prática, é uma construção de vínculo. Vamos várias vezes até ela para entender quais as demandas e capacidades da pessoa. Mostramos sempre que existe condição de superar a situação de rua — complementa Cristina.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias