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Novas ondas e cepas mais transmissíveis: especialistas refletem como será o próximo semestre da covid-19

Profissionais da saúde analisam possíveis cenários; estudo indica picos da doença até 2024 

04/07/2022 - 08h54min

Atualizada em: 04/07/2022 - 08h55min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Jefferson Botega / Agencia RBS
Grandes mudanças ocorreram neste ano, como a encerramento oficial de leitos covid-19

Os primeiros seis meses de 2022 consolidaram um cenário esperado há dois anos: a menor letalidade da covid-19. A vacinação avançou: em janeiro, 70% dos brasileiros tomaram duas doses e, a despeito de duas ondas de Ômicron, o número de hospitalizações e mortes foi menor do que em ondas anteriores. 

Ainda assim, não foi um semestre leve: no Brasil, a covid-19 matou 52.360 pessoas – 3.583 delas, no Rio Grande do Sul. As piores fases foram em fevereiro e junho, meses das duas ondas de Ômicron – uma quando a variante avançou pela primeira vez, outra após a desobrigação do uso de máscaras e a chegada de novas subvariantes.

Grandes mudanças ocorreram neste ano. Houve liberação do uso de máscaras em ambientes abertos e fechados, fim do estado de emergência em saúde pública, encerramento oficial de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com coronavírus, indicação de quarta dose para adultos e vacinação em crianças. 

Da versão “original” da Ômicron, a BA.1, chegamos à BA.4 e à BA.5, cepas que driblam ainda mais nosso sistema imunológico e se tornam mais transmissíveis – o que permite que pessoas infectadas há 40 dias já se reinfectem. As vacinas mantêm proteção e evitam casos graves. 

Entre janeiro e março, na primeira onda, a Ômicron provocou um recorde de infecções – no Rio Grande do Sul, mais de 17 mil novos casos por dia e um pico de quase 60 mortes diárias, segundo dados do Ministério da Saúde. 

Hoje, a segunda onda de Ômicron é mais branda, mas ainda traz impactos: entre 15 e 20 gaúchos morrem por dia de coronavírus, quatro vezes mais do que o registrado em maio. Cerca de 3,5 mil casos são registrados oficialmente por dia em solo gaúcho, mas o número é largamente subnotificado devido a autotestes e muitos casos leves.

— É exatamente o que previmos em 2020: quando 70% da população estivesse vacinada, a emergência acabaria e controlaríamos a covid. É obvio que o pior parece já ter passado, mas a pandemia não acabou. Há pessoas que se infectam várias vezes por acharem que estão vacinadas e não precisa fazer mais nada, mas quem faz isso tem mais risco de doença grave ou de ter sequela — comenta a imunologista Cristina Bonorino, consultora do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). 

Espera-se que eventuais novas variantes não mudem completamente o cenário – seja porque grande parte das pessoas já está vacinada, seja porque a tendência é de que mutações moldem o vírus para ser mais transmissível, mas menos letal, como vem acontecendo. 

Ajudaria no controle da epidemia se mais pessoas completassem o esquema vacinal. Até o momento, 81% dos gaúchos tomaram a segunda dose e 55,4% tomaram a terceira, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES). A nível nacional, são 79% brasileiros com duas doses e 50% com três. A meta do Ministério da Saúde é aplicar três doses em 90% das pessoas. 

O perfil dos doentes é bastante diferente hoje: quem adoece gravemente apresenta a saúde fragilizada, como idosos, imunossuprimidos ou indivíduos com doenças graves, acrescenta Alexandre Zavascki, médico infectologista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

— Nós, que vimos muitas pessoas jovens e sem doença morrer, vemos que isso não tem acontecido mais. É um avanço. Mas todos convivemos com pessoas idosas e um dia também seremos frágeis, então podemos aprimorar o convívio com a covid, sem negar que a doença existe, mas tomando algumas precauções, o que inclui uso de máscaras e questões de engenharia, como melhorar a ventilação de locais fechados — diz Zavascki. 

A ciência ainda não sabe precisar quanto tempo dura a proteção gerada pelas vacinas, mas cientistas estimam que comece a reduzir cinco meses após a injeção. Sabe-se que é possível se reinfectar 40 dias após pegar covid. E estudos mostram que a quarta dose parece trazer menos impacto do que a terceira. 

O surgimento de vacinas atualizadas pode trazer avanço no controle do vírus - estima-se que será necessário vacinar-se uma ou duas vezes por ano, neste momento. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estuda uma vacina em spray nasal, o que teoricamente teria maior potencial de bloqueio da transmissão do vírus do que as vacinas atuais. Como resultado, menos pessoas pegariam o Sars-Cov-2 no futuro.  

Até 2024 

Para os próximos anos, o médico Alexandre Vargas Schwarzbold, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cita estudo de imunologistas e epidemiologistas da Universidade de Harvard, publicado na revista Science, segundo o qual ondas da covid-19 devem ocorrer até 2024. 

Por essa perspectiva, o “novo normal” de hoje perduraria por mais dois anos, quando o coronavírus finalmente se assemelharia ao comportamento de outros vírus respiratórios e deixaria de causar tantas mortes quanto hoje. 

— As primeiras ondas foram altas, de picos maiores. Até 2024, devemos viver com pequenas ondas, mais baixas, em função da maior imunização, mas perdurando porque há muitas regiões do mundo não completamente imunes. Para o ano que vem, provavelmente a questão sazonal do frio vai ser mais determinante para uma piora porque teremos mais pessoas vacinadas — reflete Schwarzbold.

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