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Veja como superar os desafios da Língua Portuguesa em seleções

O Português é um dos grandes obstáculos para quem busca uma vaga de emprego. Por isso, o DG conversou com especialistas e apresenta dicas de como se aperfeiçoar

07/07/2022 - 08h05min


Caroline Souza / Universidade Feevale
Letícia buscou mais conhecimento da língua mesmo estudando Letras na universidade

O cuidado com a Língua Portuguesa, de acordo com o diretor-presidente da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), Rogério Grade, deve ser motivo de atenção para quem busca se empregar em atividades de todos os níveis. Não à toa, ele diz que a falta de qualificação é o principal empecilho para o preenchimento das mais de 7 mil vagas divulgadas pela instituição em todo o Estado atualmente.   

– É preciso se preparar e se capacitar em diversos aspectos, inclusive no que diz respeito ao domínio da língua. Até mesmo porque isso vai ser exigido depois, para se comunicar com clientes e mesmo com colegas – aponta. 

Foi pensando nisso que a estudante de Letras, Letícia Raquel da Silva, 20 anos, decidiu ir atrás de mais lições de português. Moradora de Nova Hartz, no Vale dos Sinos, ela é uma entre tantos jovens que concluíram o Ensino Médio em meio à pandemia, tendo aulas online. À época, já notava o prejuízo causado pela falta de contato direto com os professores. Os problemas ficaram ainda mais evidentes, porém, com o ingresso na universidade e a busca por um trabalho. 

E o caso dela não é isolado. De acordo com uma pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), 83,5% dos candidatos a vagas de estágio e aprendizagem são reprovados nos processos seletivos porque não apresentam conhecimento suficiente de gramática. O levantamento, que considerou o desempenho de 59,7 mil concorrentes de todo o país, mostrou um agravamento da situação. Em 2019, quando o último dado foi apresentado, o índice de reprovação era de 50%.  

O resultado é pior entre jovens que estão no Ensino Médio, 89% deles não são aprovados. Porém, nem mesmo quem está em cursos de graduação com grande exigência de leituras e de escrita escapou: 85% dos candidatos que estudam Letras, como Letícia, por exemplo, reprovam. 

Busca por qualificação 

Letícia diz que mesmo estando em um curso que tem a Língua Portuguesa como base, compreendê-la é um dos seus principais desafios. Levando em conta isso e ciente de que escrever bem era essencial para seu desempenho no ambiente acadêmico e no mercado de trabalho, ela resolveu buscar opções de qualificação. 

– Eu sentia muitas lacunas de conhecimento e tinha muitas dúvidas. Algumas coisas básicas, como a forma de conjugar um verbo. Então, decidi retomar e esclarecer isso – conta. 

A alternativa encontrada foi um curso na própria Universidade Feevale, instituição em que ela estuda, em Novo Hamburgo. Gratuita, a iniciativa é oferecida pela faculdade para qualquer aluno que esteja cursando ou já tenha concluído o Ensino Médio. As instruções são divididas em módulos e contemplam, entre outros assuntos, aqueles que geram mais apreensão na hora de escrever. 

– Acho que me ajudou muito, principalmente porque preciso escrever bastante. Consegui respostas que não tive no Ensino Médio porque não estavam nos materiais da escola – avalia Letícia. 

Os aprendizados deram mais confiança para a estudante, que atualmente faz estágio em uma escola. Ainda assim, ela reconhece que o aperfeiçoamento da Língua Portuguesa é um caminho longo e que vai exigir bem mais. 

– Eu acho que mesmo que eu não cursasse Letras, eu precisaria e iria atrás de aprender mais. Quem conhece a língua vê a forma como escrevemos e cria uma imagem nossa. 

Mais difícil para quem começa

Natural do Equador, Eva Fabbiana Bez Galarza, 18 anos, também recorreu ao curso na Feevale. Foi o primeiro passo dado por ela, que reside há oito meses em Estância Velha, para aprender a Língua Portuguesa, já que havia concluído os estudos básicos inteiramente em seu país de origem. 

– Tinha muita dificuldade com a pronúncia de algumas palavras e, na escrita, com os acentos – revela. 

Ter cumprido todas as etapas do curso, conta, não fez apenas ela sentir-se mais familiarizada com o Brasil. Foi essencial para que pudesse ingressar na faculdade de Ciências Biológicas e para conseguir o trabalho que ocupa a outra metade da sua rotina diária. Eva lembra que, antes da oportunidade na própria universidade, onde estagia atualmente, sentiu muitas dificuldades em seleções. 

– Aqui, as pessoas falam muito rápido, e, muitas vezes, eu precisava pedir para que elas repetissem porque eu não conseguia entender. Sinto que isso fazia não quererem me contratar, como se não valesse a pena – recorda. 

Outra forma importante de aprender mais sobre a Língua Portuguesa, para a estudante, é por meio da leitura. Aos poucos, Eva vai compreendendo os múltiplos sentidos e as mais diversas regrinhas do idioma. 

– Já consegui ler três livros em português. Eram pequenos e simples, mas me ajudaram muito – relembra.

Quem se dá mal nas seletivas

/// 83,5% de todos os candidatos não passam por falta de conhecimento em Língua Portuguesa.
/// Entre estudantes de ensino médio, a taxa sobe para 89% .
/// Alunos de Letras e Direito têm índice de reprovação superior a 85%.
/// Já entre os futuros engenheiros, 73% são reprovados.

Fonte: Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube)

Dificuldades são estímulo

Para a coordenadora de treinamento e desenvolvimento do Nube, Yolanda Brandão, a importância de saber e ter segurança com a Língua Portuguesa também independe do tipo de trabalho, se estágio ou carteira assinada, e da área. 

– A comunicação na nossa língua mãe é o que vai pautar as nossas relações. Dentro do ambiente de trabalho, vai garantir se eu vou ser bem compreendido, se eu vou expressar bem a minha ideia – explica. 

Ela aponta que, no caso da Língua Portuguesa, os problemas vão além do indivíduo. Ou seja, que vêm desde o ensino básico. Porém, complementa, uma vez identificados, eles devem ser um estímulo para que os candidatos busquem se aperfeiçoar.  

– É claro que muitas pessoas têm uma rotina atribulada, em que as atividades cotidianas exigem muito tempo e dedicação. Mas sempre há tempo e é tempo de aperfeiçoar o conhecimento – comenta.

Repensar o ensino

Na visão do coordenador do Programa de Pós-graduação em Processos e Manifestações Culturais da Universidade Feevale, Daniel Conte, as dificuldades com a Língua Portuguesa são reflexo de uma defasagem antiga nos sistemas de ensino. Algo que foi potencializado pela pandemia e que seguirá mostrando seus efeitos. 

– Dentro de 10 anos, a deficiência com a linguagem será pior. Veremos isso quando quem estava sendo alfabetizado nestes dois anos chegar ao mercado – lamenta. 

Mesmo com o prognóstico negativo, o professor salienta que é fundamental encontrar um caminho para aproximar os alunos da língua. Diz que é preciso buscar novas formas de ensino, não pautadas pela explicação pura de conceitos.  

– No caso da escrita, as pessoas têm medo porque ela é colocada como algo sagrado. Muitas vezes, alguém nos dá uma aula sobre determinado assunto e, quando pedimos que escreva, acaba não conseguindo. É preciso que os indivíduos se apropriem da língua – avalia. 

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Leitura e mais leitura

Neste sentido, Daniel, que é professor de Língua Portuguesa na graduação e também do curso de extensão oferecido pela Universidade Feevale, sinaliza que a leitura é o principal caminho para se qualificar. E, neste caso, quanto mais e mais variada ela for, melhor. 

– Ninguém aprende se não for pela leitura. É preciso incentivá-la amplamente. Há muitos sites que disponibilizam materiais de qualidade, clássicos e obras que são gratuitas, de domínio público – diz Daniel. 

Ele frisa também que é preciso deixar o preconceito de lado. Isso porque, atualmente, é possível cultivar o hábito de ler através de fontes diversas, sobretudo digitais:

– Jogos online, revistas e outros materiais da rede, tudo isso é leitura. Não apenas aquele livro clássico que nos acostumamos. 

Escrever, escrever e escrever

Yolanda destaca a necessidade de aperfeiçoar a escrita. Ela aponta que cursos, oferecidos gratuitamente por universidades ou até mesmo na internet, ajudam. Mas sinaliza que é necessário treinamento.

– Como é que se desenvolve a habilidade de escrever bem? Escrevendo. Como qualquer habilidade na vida, quanto mais exercitamos, melhor é nosso desempenho. Nenhum texto se constrói de bate pronto – explica.  

Escrever, ler, reler e reestruturar os textos até que o conteúdo faça sentido é o principal conselho de Yolanda. Pedir a opinião de outras pessoas, afirma, também é uma boa dica. Cuidados importantes, sobretudo, porque em seleções de emprego é normal estar sob pressão, o que também pode atrapalhar. 

– Antes mesmo de sermos chamados para uma entrevista, estamos sendo avaliados. Quando enviamos o nosso currículo, precisamos ter cuidado com o que escrevemos nele e na mensagem do e-mail, se for o caso – orienta. 

Onde se aprimorar

/// O programa FuTUro Feevale oferece um curso gratuito, composto de vários módulos, em formato EAD e com a possibilidade de interagir com um professor de ensino superior para sanar dúvidas. O único requisito é estar cursando ou já ter concluído o ensino médio. A inscrição é feita no site bit.ly/fut-feevale. Depois disso, é necessário enviar e-mail para cursoseeventos@feevale.br solicitando as informações de acesso. 

/// No site do Nube (bit.ly/nube-teste) é possível realizar um teste ortográfico para avaliar conhecimentos. Ele é gratuito e é necessário apenas se cadastrar. 

/// Já no canal do Nube no YouTube (bit.ly/nube-videos) há vídeos com dicas e instruções relacionados à Língua Portuguesa. 

/// Quem busca por leituras, pode encontrar diversas opções gratuitas de literatura no Portal Domínio Público (bit.ly/dom-publico). 

Fonte: Universidade Feevale, Daniel Conte e Yolanda Brandão

Produção: Guilherme Jacques



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