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Atendimento especializado 

Como funciona o serviço de referência para comunidade LGBT+ e pessoas com HIV/aids da UFRGS 

Centro de Referência em Direitos Humanos oferece assessoria jurídica, social e de saúde mental nos bairros Centro Histórico e Santana 

05/08/2022 - 12h44min

Atualizada em: 05/08/2022 - 12h47min


Isabella Sander
Isabella Sander
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Coordenador do CRDH, Guilherme Gomes Ferreira diz que havia uma demanda reprimida pelo atendimento na Capital

Porto Alegre conta há cerca de um mês com seu primeiro serviço público de referência à comunidade LGBT+ e a pessoas que vivem com HIV/aids. O atendimento é gratuito e multissetorial, com a oferta de assessoria jurídica, social e de saúde mental realizada por profissionais e graduandos vinculados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

O Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH) funciona de segunda a sexta-feira. De manhã e à tarde, ocorre no formato portas abertas, no primeiro andar da Rua Uruguai, 300. À noite, o serviço é prestado na Rua Ramiro Barcelos, 2.777, sala 310, mediante agendamento. 

Apesar de o serviço nesses moldes, com portas abertas e multissetorial, ter sido iniciado recentemente, o projeto de extensão da UFRGS voltado a pautas ligadas ao público LGBT+ e a pessoas com HIV/aids existe há 10 anos. Até então, o foco era na formação de trabalhadores da rede pública de assistência social, educação e saúde. Agora, a partir de uma emenda parlamentar de R$ 700 mil da deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL), para além destas capacitações, ocorre também o atendimento direto dos casos que surgem, sejam eles de pessoas que buscam o próprio centro ou de encaminhamentos feitos por alguma instituição. 

— Ontem (quarta-feira, 3), por exemplo, a gente foi no (presídio) Madre Pelletier para matriciar o caso de um homem trans que está lá. Uma psicóloga nos procurou e nos propusemos a ir semanalmente lá fazer o atendimento dele e discutir com a equipe o melhor encaminhamento daquilo — exemplifica Guilherme Gomes Ferreira, coordenador do CRDH. 

Entre as demandas, está o encaminhamento do passe livre no cartão TRI, ao qual pessoas com HIV/aids têm direito, além de atendimento em saúde mental e orientação sobre assuntos como retificação do nome no registro civil e outras questões jurídicas. 

Uma das beneficiadas é Camila Brittes, 33 anos. A diarista conhece há 15 anos a ONG Somos, que já realizava esse tipo de atendimento. Na época, participou de um projeto voltado para jovens gays. Depois, se manteve vinculada à entidade. Após sua transição, recebeu ajuda para retificar seu nome no cartório e, hoje, conta com o apoio do CRDH para ajudar sua mãe em uma questão judicial. 

— Lá dentro, me sinto acolhida. No poder público, é precária a situação. Tem muito profissional que ainda precisa aprender a lidar com pessoas LGBT+. Já passei muitas vezes pelo desconforto de me tratarem pelo sexo masculino — comenta Camila. 

Guilherme relata que a ideia do centro de referência surgiu após o grupo perceber que Porto Alegre era uma das únicas capitais do Brasil que não possuía um serviço público voltado para a população LGBT+ e para pessoas com HIV/aids. Após abrirem as portas, identificaram uma demanda reprimida. 

— Em duas semanas, a gente já atendeu 42 pessoas, o que é um número bom. E são sempre pessoas que demandam vários atendimentos. Não é só uma questão pontual: são várias visitas, reuniões, discussão de caso, elaboração de documentos técnicos — cita o coordenador. 

A interseção entre população LGBT+ e pessoas com HIV/aids, conforme Guilherme, acontece não por pessoas LGBT+ serem mais atingidas, e sim pelo estigma que lhes envolve quando se fala nessa doença. Não por coincidência, muitas ONGS, segundo ele, se especializaram em ambas as temáticas. 


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