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Daner, o herói: saiba quem foi o homem que morreu afogado após salvar a família do temporal em Porto Alegre

Funeral do técnico de som de 45 anos ocorrerá a partir das 3h desta quarta-feira, no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, no bairro Azenha

17/08/2022 - 08h40min

Atualizada em: 17/08/2022 - 08h41min


Jean Peixoto
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Laura Becker
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Marcelus Trois / Arquivo Pessoal
Daner Hernandez Silva, 45 anos, foi levado pelas águas do Arroio Moinho na noite de segunda-feira (15)

 O som dos comentários bem-humorados e a flauta em dia de jogo do Grêmio não serão mais ouvidos pelos amigos e familiares de Daner Hernandez Silva, 45 anos. O técnico de som morreu na noite de segunda-feira (15), quando resgatava a esposa, a sogra e três enteados no bairro Coronel Aparício Borges, na zona leste de Porto Alegre, durante o temporal que atingiu o Rio Grande do Sul

Daner foi arrastado pela força da água, junto à casa onde estavam, para dentro do Arroio Moinho, próximo à Rua da Represa. Após uma madrugada intensa de buscas, o corpo foi localizado por volta das 10h30min desta terça-feira (16), próximo ao Anfiteatro Pôr do Sol.

Morador de Canoas, onde passou o Dia dos Pais com suas três filhas e um filho do primeiro casamento, além da neta, ele havia retornado com a esposa, Alessandra Dornelles, para Porto Alegre na noite de domingo (14). 

Alessandra conta que Daner havia trabalhado no domingo e passou a segunda-feira na casa dela. No fim do dia, levaram o carro dele ao mecânico juntos e, quando voltavam para casa, a chuva estava começando, mas a seguir se intensificou e já invadia o terreno logo após a chegada deles.

O casal se conhecia há 13 anos, mas eles começaram o relacionamento durante a pandemia. Alessandra o descreve como um “pai sensacional” e um “amigão”. Ela lembra que o marido sempre pensava no próximo e que era muito querido pelas pessoas. 

Apoio da família 

Nesta terça-feira, parentes e amigos de Alessandra se mobilizaram para apoiar a família. Enquanto alguns ajudavam na limpeza e reconstrução da casa, outros prestavam auxílio à mulher e às crianças. Todos são unânimes em tratar Daner como um herói.  

A sobrinha de Alessandra, Esther Dornelles, 22, mora no mesmo bairro, mas em um local mais afastado do Arroio Moinhos. Ela conta que assim que a chuva de granizo parou, desceu correndo para ajudar a tia. 

— Eu recebi a ligação da Mariana (uma das crianças resgatadas) dizendo que a água tinha levado o Daner. Quando cheguei, elas estavam todas sujas e disseram que não tinham mais visto o Daner — afirma.  

Esther também ressalta que a atitude de Daner nunca será esquecida pela família. 

— Ele foi um herói para nós, nunca esqueceremos disso. O Daner sempre tratou a minha tia como uma rainha e sempre cuidou das crianças também — destaca. 

Quem reforça as ações positivas de Daner é Denilson Dornelles, cunhado da vítima. Segundo ele, Daner sempre esteve presente nos momentos bons e ruins da família. 

— Nós perdemos nosso pai no mês passado, e o Daner nunca deixou de apoiar a Alessandra. Ele foi um guerreiro, salvou meus sobrinhos, mas é uma perda muito trágica, irreparável — lamentou. 

Profissional e amigo querido 

O empresário do ramo de eventos Marcelus Trois, 35, com quem Daner trabalhou durante 12 anos, lembra do amigo pela sua alegria e generosidade. Atuando na produção de eventos corporativos, eles viajavam por diversos locais do Estado. Daner era responsável por montar os equipamentos e operar a mesa de som. Algumas vezes, também trabalhava como DJ. 

Trois comenta que Daner havia pedido folga para 3 de setembro porque teria a formatura de um afilhado em Porto Alegre. Ele lembra que, mesmo quando passou necessidades durante a pandemia de coronavírus, Daner seguiu participando das ações solidárias para ajudar as pessoas que mais precisavam. Por isso, o empresário considera que a forma como o amigo morreu traduz em atitude a pessoa que ele foi. 

Marcelus Trois / Arquivo Pessoal
Thedy Corrêa , Marcelus Trois e Daner Hernandez com colegas durante um evento de que participaram

— Ele ter falecido salvando quatro pessoas não é algo que surpreenda porque ele era assim. Um cara de um coração gigante — sublinha. 

Além da parceria nos eventos, Trois e Daner participavam do mesmo grupo de voluntários formado durante a pandemia para ajudar pessoas que precisavam de alimentos, roupas e até de empregos. Intitulado movimento Graxa RS, o grupo de voluntários se reuniu para arrecadar fundos para garantir um funeral digno ao amigo e auxiliar na reconstrução da moradia da família. Até as 19h30min desta terça-feira, o grupo já havia arrecadado mais de R$ 14 mil em doações. 

Entre as muitas pessoas com quem interagiam nesses encontros estava o cantor e vocalista da banda Nenhum de Nós, Thedy Corrêa, que lamentou a morte de Daner e também ajudou na vaquinha feita pelos amigos. 

— Era um cara muito competente, baita profissional e muito gente boa. Ele trabalhava eventualmente na operação de som nas minhas palestras, e sempre foi atencioso e dedicado. Uma tragédia perder um cara como ele dessa maneira. Com o passar do tempo, eu nem precisava olhar para o lado, pois ele já havia pego o tempo perfeito para entrar e sair com a trilha. A gente se divertia trabalhando juntos, pois ele gostava muito do que fazia — recorda Thedy. 

Atos fúnebres 

O funeral ocorrerá a partir das 3h desta quarta-feira, na capela ecumênica três, no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, na Avenida Professor Oscar Pereira, 423, no bairro Azenha. Inicialmente, o funeral seria na capela um, mas houve alteração para um local maior.

O cerimonial religioso de despedida está previsto para ocorrer às 10h30min, na mesma capela. O sepultamento deve ocorrer às 11h, no mesmo cemitério.

Marcelus Trois / Arquivo Pessoal
Daner com os amigos



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