Vou comentar com vocês algo que falo pouco aqui. Dois dos meus seis filhos são autistas. Essa descoberta levou nossa família para um outro patamar de cumplicidade e afeto. Para mim, foi um desafio gigantesco, sou um cara que ganha a vida falando, usar as palavras para alcançar milhões de pessoas é meu ganha pão. Para minha surpresa, os dois pequenos que tenho são não verbais, ou seja, não é falando que vou me comunicar com eles. 

Tive que encontrar outras formas de ouvir as mensagens que não eram ditas em palavras. Os olhares, as respirações e os toques passaram a ser palavras escondidas em um labirinto de sons e gestos que no começo me assustaram. Aos poucos, cada conexão ganhou um novo significado, cada vez que um deles respondia um gesto meu com outro gesto, com um sorriso ou com um aconchego meus olhos marejavam. 

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Meus outros filhos também entenderam que falar alto não era certeza de ser mais ouvido, já que Izael tem hipersensibilidade na audição, tínhamos que falar baixo e com bons argumentos. Ezequiel tem ouvido absoluto e se comunica por melodias de música, ele tem a música de comer, de dormir, de brincar e por aí vai. Essa paixão dele por música me fez aprender a tocar piano e esse virou um momento em que nós alinhamos os corações em uma melodia. 

Já escrevi várias músicas graças a esse presente que a vida me trouxe e, hoje, agradeço a Deus por ter me dado essa oportunidade. Se você que está lendo acredita que seu filho ou filha esteja no espectro autista, comece logo a fazer os exames de investigação e não tenha medo do resultado. Autismo não é doença, é característica.