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Prefeitura de Porto Alegre pede autorização à Justiça para demolir o Esqueletão

Pedido tem como base estudo realizado pela UFRGS que revelou risco iminente de rupturas

05/08/2022 - 09h05min

Atualizada em: 05/08/2022 - 09h07min


GZH
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Anselmo Cunha / Agencia RBS
Prédio, atualmente desocupado, destoa como um sinal de abandono em pleno Centro Histórico de Porto Alegre

A prefeitura de Porto Alegre pediu ao Judiciário autorização para demolir o edifício Galeria XV de Novembro, conhecido como Esqueletão. A petição foi protocolada na manhã desta quinta-feira (4) pela Procuradoria-Geral do Município (PGM) junto à 10ª Vara da Fazenda Pública. O imóvel de 19 andares e tijolos vermelhos à vista, situado na Rua Marechal Floriano Peixoto, na esquina com a Otávio Rocha — área de intensa movimentação de pessoas no Centro Histórico da Capital — está inacabado desde a década de 1950. 

O pedido foi realizado com base em estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). De acordo com laudo e pareceres apresentados pelo Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (Leme) da instituição, a edificação apresenta risco iminente de rupturas localizadas, o que seria agravado em caso de nova ocupação. Em caso de incêndio, a estrutura não teria o tempo necessário de resistência ao fogo, podendo desabar. 

Até setembro do ano passado, quando ocorreu a desocupação total do imóvel, o prédio tinha quatro andares ocupados — três por moradores e um por comerciantes, no térreo. A recuperação da edificação, por sua vez, demandaria intervenções na estrutura e adequações para prevenção a incêndio, o que é inviável economicamente, segundo o estudo.

— É um avanço simbólico para resolver esse passivo histórico, que representa risco à população e compromete, urbanisticamente, o Centro Histórico da Capital — disse o prefeito Sebastião Melo, que no primeiro dia do seu mandato, em 2021, já havia levantado a possibilidade de levar o prédio "para o chão".

No pedido de demolição, o município destaca a inércia dos proprietários ao longo do tempo e os altos custos para a recuperação da edificação, exposta há quase 70 anos. Salienta, também, o risco que a estrutura apresenta para a população. “Tampouco há justificativa para o uso de dinheiro público para um possível retrofit, na medida em que é economicamente inviável, como concluiu o laudo, com enorme complexidade técnica”, informa a petição, assinada pela procuradora Eleonora Serralta.

Conforme o documento, "deixar o prédio no estado em que se encontra, com ou sem ocupação, representa risco à coletividade, de modo que não resta ao município de Porto Alegre outra alternativa a não ser requerer autorização judicial para a demolição do prédio”.

Anselmo Cunha / Agencia RBS
Imóvel de 19 andares fica na Rua Marechal Floriano Peixoto, esquina com a Otávio Rocha

O Código Municipal de Obras dispõe que a demolição total ou parcial de uma edificação poderá ser imposta quando executada sem licenciamento, em desacordo com o projeto licenciado ou quando julgada em risco iminente de caráter público. Os custos da demolição devem ser cobrados posteriormente dos proprietários, com taxa de administração de 15%.

A 10ª Vara da Fazenda Pública é o órgão em que tramita a ação civil pública ajuizada em 2003 pelo município contra os proprietários do imóvel. Na ação, a prefeitura pedia a interdição e desocupação total do prédio, autorizada pela Justiça no ano passado, e que os proprietários recuperassem e concluíssem a obra, o que nunca foi feito.

“Isso significa que não existe a alternativa de se esperar que os proprietários façam um retrofit no prédio, ainda que isso fosse viável técnica e economicamente”, conclui o pedido encaminhado ao Poder Judiciário.

Laudo mostra que prédio já atingiu tempo de vida útil

Segundo o laudo da UFRGS, 61% da estrutura de concreto armado do Esqueletão já atingiu o tempo de vida útil de projeto, e 6,7% do total se encontra com vida útil no fim, caracterizando falha de desempenho quando se leva em conta a corrosão. Isso significa que há risco de colapso parcial e riscos à população, ainda que o prédio continue desocupado.

O imóvel tem cerca de 300 proprietários, muitos dos quais sequer foram localizados para o ato inicial do processo judicial, que é a citação.

Em maio, GZH mostrou a preocupação dos comerciantes que trabalham e possuem lojas no entorno do Esqueletão. A maioria mostrava receio sobre uma possível demolição da estrutura afetar os prédios vizinhos.



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