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De Capão da Canoa a Rainha do Mar

Vendedor de puxa-puxa há mais de três décadas percorre 40 km por dia pela praia: "Clientes lembram da infância"

Feito com melado de açúcar mascavo, o doce faz mais sucesso entre adultos do que entre as crianças no Litoral Norte

18/01/2023 - 11h32min

Atualizada em: 18/01/2023 - 12h32min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Anselmo Cunha / Agencia RBS

— Olha "aêêê", o "puxa-puxêêê".

É assim, com adaptação da letra final para não estragar a rima, que Alexandre Vieira Pereira, 51 anos, transporta um doce carregamento: centenas de puxa-puxas, doce à base do melado de açúcar mascavo vendido no Litoral Norte. Produzido em Capão da Canoa, o produto é acondicionado em um plástico transparente e embalado em um pacote com 10 unidades. Mas não é tão fácil de ser encontrado.

— Quando eu comecei, tinham muitos “puxa-puxeiros”. Até que decidi vender também. Hoje, só tem eu aqui — garante, reforçando a percepção da reportagem de GZH, que não encontrou concorrente no mesmo ramo, em Capão.

Os gritos que anunciam a aproximação do vendedor são puramente “no gogó” — ele não usa megafone ou caixas de som para chamar atenção do público. Não raro, chega ao fim do dia com a garganta gasta, pelo extenso trajeto percorrido: em torno de 40 quilômetros, ida e volta, de Capão à Rainha do Mar, balneário do município de Xangri-Lá. O percurso é feito em uma bicicleta já bastante usada, de quadro vermelho e guidão enferrujado. 

As reações ao se deparar com o puxa-puxa variam, segundo o ambulante: do espanto de ainda encontrar o doce em forma de palito até sorrisos de morder e esticar o melado preso aos dentes.

Com bom movimento, são feitas cerca de 50 vendas por dia — com sorte, até um pouco mais. A clientela mais fiel, responde sem dúvida, é composta por adultos com a memória ativada pela iguaria.

— Os clientes lembram da infância, como uma freguesa que vai levar para Porto Alegre 20 pacotinhos, para repartir com os empregados da empresa dela. Tem uma outra que até pros Estados Unidos levou uma vez — afirma.

Parte da carga vai na garupa, em uma caixa comumente usada para carregar frutas e verduras. Outro suporte, de cor azul, foi adaptado na dianteira, com uma variação do puxa-puxa misturado com amendoim, ao lado de mandolates e rapaduras.

Sob o sol escaldante, por vezes é necessário descer do pedal e continuar a viagem a pé, empurrando o veículo sobre a areia fofa. Tal esforço, em 35 anos de profissão, gerou um cansaço e uma frustração admitida: não conseguiu juntar dinheiro para realizar o que define como um sonho, tirar a CNH para poder guiar uma moto, diminuindo o esforço exigido pelas pernas.

— Eu olhei pra fazer a carteira, só pra pilotar moto tá em torno de R$ 2,3 mil. Se algum empresário me desse uma força, eu podia ter uma motinho e vender em Porto Alegre no inverno, ou ir à Torres no verão — vislumbra.

Uma bicicleta elétrica também ajudaria, mas é igualmente inacessível — da venda de puxa-puxa, sobra menos de R$ 2 mil por mês. A renda ainda é reforçada com o trabalho da esposa, Maria do Carmo, que é faxineira. 

Contato para quem quiser ajudar pode entrar em contato pelo telefone (51) 99791-0054. Ouça a entrevista com o vendedor de puxa-puxa no programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha, realizada na manhã desta quarta-feira (18): 



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