Em Alvorada, uma moradora do bairro Stella Maris está contando com a solidariedade para doar material escolar a crianças da comunidade. A ação é uma iniciativa da faxineira e recicladora Rita de Cássia Simas Pereira, 44 anos, que tem como meta conseguir em torno de 250 itens até 20 de fevereiro, dias antes do início do ano letivo.

Lápis, tesoura, cola, caderno e outros materiais que possam ser usados pelas crianças nas aulas são aceitos. A entrega para os estudantes ocorrerá em um campinho da região. Até o momento, porém, Rita não recebeu doações.

— Eu só tenho a fé de que eu consiga alguma coisa, mesmo. Se eu não conseguir, vai ser uma desilusão não só para eles, que são crianças, como para mim — desabafa.

LEIA MAIS
Jardim Itu e Jardim Sabará: moradores criam lista com 42 melhorias para os bairros
Em Alvorada, idosa espera há quinze anos por cirurgia
Músico de Viamão sonha em ter instrumento próprio

Gosto por ajudar

— Já vem de berço.

É o que percebe Rita ao falar sobre as ações solidárias que faz, por conta própria, há pelo menos 15 anos. Ela lembra que o pai, que vendia verduras pelas ruas em cima de uma carroça, dava alimentos para as famílias dos jovens que trabalhavam com ele. Já a mãe, que era faxineira, abria a casa para receber e incentivar meninas a fazerem e venderem crochê e doces.

Mesmo com pouco, Rita se engaja em doar para quem tem menos — seja roupa, comida ou o que for necessário.

A moradora estudou até a segunda série do Ensino Fundamental, mas deseja que os filhos sigam adiante. Aliás, foi durante as aulas que a filha Graziela, 11 anos, viu colegas indo sem material para a sala. A percepção da menina se uniu à da mãe, que notava o mesmo.

— Eu sempre emprestava os meus. Só que não me devolviam, então, eu ficava sem. Daí comecei a pedir para minha mãe se ela tinha dinheiro para comprar uns extras para eu dar. Ela falou que ia tentar dar um jeito de fazer doação para ajudar. Acho bem legal a ideia – explica Graziela.

História de vida

Moradora do bairro desde bebê, Rita viu a região deixar de ser campo para ser tomada por casas. Ao pensar no presente, avalia que há um descaso na área em relação ao cuidado com as crianças. A falta de atividades fora do horário da escola, por exemplo, é um dos problemas que percebe.

Ao ajudar, ela diz que quer desviar as crianças do foco das drogas e proporcionar um futuro melhor. 

A experiência de vida também a engajou nessa trajetória:

— Eu já passei fome. Eu tive um filho com 17 anos e não tinha nada para dar a ele. É horrível para uma mãe ver o filho pedir, chorar e tu ter que botar uma água com açúcar, dar para ele se acalmar e rezar que o outro dia seja melhor, que alguém olhe por ti para te dar um grão de comida.

Ação anterior

No Natal passado, a moradora de Alvorada conseguiu doar livros e pacotinhos com doces para os pequenos. Ela teve a ajuda de uma vizinha, a estudante Franciele Wainstein, 29 anos. 

Sobre o dia da entrega, a jovem conta que foi "satisfatório" ver a alegria do momento.

— Acho que é bem importante esse movimento. Tem muita gente carente aqui, que realmente precisa — destaca Franciele, sobre as ações feitas pela vizinha.

O sonho de Rita é montar, nos fundos da casa onde mora, uma cozinha para que possa vender comida e também, claro, doar a quem precisa.

Como ajudar

/// As doações de material escolar podem ser entregues na Rua São Gabriel, 55, no bairro Stella Maris.

/// Para saber mais, entre em contato com Rita pelo WhatsApp (51) 98420-1400.

Produção: Isadora Garcia