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Folia na Capital

Veja como foi a primeira noite de desfiles das escolas da série Ouro do Carnaval de Porto Alegre

Cinco agremiações pisaram na passarela do Complexo Cultural do Porto Seco

05/03/2023 - 17h30min

Atualizada em: 05/03/2023 - 17h31min


Alexandre Rodrigues
Alexandre Rodrigues
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André Ávila / Agência RBS
Bambas da Orgia, que abriu os desfiles da série Ouro, homenageou a escola de samba Portela, do Rio de Janeiro

Nem mesmo o céu nublado da madrugada deste sábado (4) tirou o entusiasmo do público que foi ao Complexo Cultural do Porto Seco, na zona norte da Capital, para acompanhar a primeira noite de desfiles das escolas de samba de Porto Alegre. A previsão de chuva não se concretizou por completo – foram apenas alguns instantes de precipitações fortes. Já a expectativa por uma noite especial foi superada, provando que este primeiro Carnaval sem as restrições sanitárias impostas pela pandemia de covid-19 deve ficar marcado na história.  

Cinco agremiações da série Ouro pisaram na passarela Carlos Alberto Barcellos Roxo: Bambas da Orgia, Fidalgos & Aristocratas, Acadêmicos de Gravataí, Imperatriz Dona Leopoldina e Unidos de Vila Isabel. A festa só terminou ao amanhecer, com arquibancadas e camarotes ainda tomados de animação. 

O trabalho árduo das comunidades da Região Metropolitana encheu os olhos, e a madrugada deste sábado para domingo (5) reserva ainda mais surpresas. Império do Sol, Imperadores do Samba, União da Vila do IAPI, Estado Maior da Restinga e Realeza se apresentam na disputa pelo primeiro lugar. Os ingressos já estão esgotados. 

O evento marca o início do mês de aniversário de 251 anos de Porto Alegre. Veja como foi a primeira noite de desfiles da série Ouro: 

Bambas da Orgia 

Já passava da 1h quando a águia na comissão de frente da Bambas da Orgia entrou imponente. O que pôde ser visto foi uma homenagem à altura do grande destaque do enredo: a escola carioca Portela, que em 2023 completa cem anos de sua fundação. “Salve a nossa madrinha Portela” entoavam os integrantes e o público a cada paradinha estratégica da bateria.

Reafirmando o compromisso com as origens, a vice-campeã da série Ouro de Porto Alegre em 2022 levou para a avenida lembranças marcantes da forte ligação com a escola do Rio de Janeiro. Destaque especial para a menção em uma das alegorias a baluartes como Tia Surica, Monarco, Paulinho da Viola, entre outros. 

Confiante na vitória, a primeira porta-estandarte da escola, Mel Escobar, chegou na dispersão emocionada:

— É algo inexplicável. Esse ano estou fazendo 14 anos de avenida A gente enfrenta chuva, a gente enfrenta sol, a gente enfrenta vento, tudo pelo Bambas. Viemos maravilhosos e fortes para mais um título. As outras escolas que fiquem ligadas. 

Fidalgos & Aristocratas 

Com o enredo Laroyê Xica da Silva Xica é Modjuba – Um Legado Africano, a Resistência de uma Raça, a Fidalgos & Aristocratas homenageou a força guerreira de Xica da Silva. A escrava que virou rainha no século 18 no Brasil teve sua linha do tempo traçada na passarela.

A sede de vitória ficou clara, já que a escola não economizou na imponência das alegorias. Um verdadeiro show de iluminação e fumaça tomou conta da avenida. Os maiores carros da noite foram os apresentados pela agremiação — um, inclusive, quase não passou pela porta da garagem destinada às escolas no Complexo Cultural do Porto Seco. O que despertou mais atenção, no entanto, foi a segunda alegoria, ao trazer integrantes acorrentados à frente.

— Nós viemos representando os escravos da corte, reverenciando a Xica da Silva. Nossa ala era surpresa, ninguém contava que a gente vinha fazendo parte do carro alegórico. Passamos um mês coreografando — contou eufórica a técnica em nutrição Sônia Mara Bispo, membro da Fidalgos há dois anos. 

Acadêmicos de Gravataí 

“A onça negra chegou”, e chegou com tudo — até de óculos. Focada nas comemorações dos 260 anos de fundação de Gravataí, em 2023, a Acadêmicos de Gravataí desfilou a projeção de uma cidade futurista. Dos carros elétricos à sustentabilidade das energias renováveis, passando pelo industrial, cultura, esporte e educação. Uma realidade surrealista retrata com muita tecnologia, como no caso das fantasias enfeitadas por luzes do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira.

— É uma sensação inexplicável (carregar a bandeira da escola). Eu amo meu pavilhão, amo a minha onça. Estou muito feliz e muito satisfeita com o nosso trabalho — afirmou a porta-bandeira Fabi Santos.

— Carregamos com a gente uma comunidade inteira. O pavilhão representa a história de todos os fundadores, as pessoas que já foram e as que ainda hoje estão coroando essa apresentação. Pena que não temos desfile das campeãs aqui, senão estaríamos com certeza — completou o mestre-sala Leandro (Chuva).

Foram um total de três alegorias. O abre-alas aterrissou com uma nave espacial trazendo nela índios guaranis. Já a última teve espaço especial para autoridades, convidados e representantes políticos de Gravataí. 

Imperatriz Dona Leopoldina 

Essenciais no dia a dia urbano, os garis ganharam destaque no enredo Sozinhos somos fortes, juntos somos imbatíveis! A cooperação nos fará campeões!, da Imperatriz Dona Leopoldina. A escola, que homenageou o cooperativismo, fez questão de colocar para cruzar a avenida de um jeito diferente os profissionais responsáveis pela limpeza do sambódromo. 

Com a bateria, outro símbolo marcante. Todos os integrantes vestiram os tradicionais uniformes (doados pela Cootravipa e estilizados para o desfile) laranja — a cor também faz parte da bandeira da escola de samba, ao lado do preto e do branco.  

— É de uma importância tamanha (trazer o tema do cooperativismo), um enredo que traz a comunidade para perto do ser humano, para perto do que a gente faz no dia a dia. Não tem preço — afirma a intérprete Mariana Lima, que puxa o coro da escola há cinco anos — A sensação é de dever mais do que cumprido. É sempre uma honra estar desfilando pela escola do meu coração, e estão representando não só a Imperatriz, mas as mulheres no carro de som. Estou muito, muito feliz. 

Unidos de Vila Isabel 

A primeira noite de desfiles das escolas da série Ouro acabou com a Unidos de Vila Isabel perguntando: o que vale ouro pra você? O enredo desdobrou o metal precioso para além de símbolo de riqueza, mas também na religião, no cotidiano e no imaginário popular. 

A escola de Viamão, segunda colocada da série Prata em 2022 e promovida ao grupo principal em 2023, entrou no palco da folia por volta das 6h, com o dia claro. Mas nada diminuiu a empolgação dos integrantes. Janaína Ferreira, uma das musas da escola, era só animação antes mesmo de pisar na passarela:

— A Vila Isabel é sempre energia boa. A nossa comunidade luta muito para ser reconhecida no Carnaval de Porto Alegre, e a gente chega sempre assim, com força e garra. A Vila Isabel é maior do que tudo. Estou muito confiante pelo título, viemos para vencer.

O último carro alegórico a passar pela avenida, a águia da Vila Isabel, fechou com chave de ouro — fazendo jus ao tema — a primeira noite de desfiles do Carnaval de Porto Alegre.


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