Pequenos gestos têm o poder de mudar realidades? Para os alunos do Colégio Estadual Antônio de Castro Alves, de Alvorada, pequenas ações, como a coleta de tampinhas de garrafas PET, podem mudar a vida de cães e gatos que hoje estão em situação de abandono nas ruas da cidade. Tudo começou quando a cachorra apelidada de Dona Castrão (em alusão ao nome da escola) passou a fazer parte da rotina dos alunos. Em meados de abril deste ano, ela começou a ficar em espaços da instituição. A atitude da cachorrinha, que fazia questão de entrar em várias salas para pedir petiscos e carinhos, sensibilizou Mikaela Nascimento Pereira, 16 anos, aluna do segundo ano do Ensino Médio.

— Era um dia normal de aula. Fazia umas duas semanas que a Dona Castrão tinha aparecido na escola, e todo mundo já a conhecia. Ela ia nas turmas, pedia carinho, comida. Foi quando eu e alguns colegas decidimos criar um perfil no Instagram para ela — relembra a estudante. 

Em algumas semanas, a rede social se transformou em um álbum de fotos do animalzinho. Desde o início, os alunos queriam financiar a castração dela. Além disso, tinham como objetivo encontrar um lar responsável para o animal. Isso porque um outro cão, que chegou na escola meses antes, havia morrido atropelado na frente da instituição de ensino. O receio de que Dona Castrão tivesse o mesmo destino fez com que os alunos pensassem em alternativas para resolver a situação da cachorra. 

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— Estávamos pesquisando lugares para castrar ela. Foi quando eu lembrei que, no ano passado, os alunos do terceiro ano fizeram um projeto para arrecadar tampinhas — conta Mikaela.

Novo lar

Uma instituição da cidade, engajada na causa animal, faz a venda dos materiais arrecadados e fornece a castração gratuita. Os beneficiários são, principalmente, animais em situação de rua. Desde abril, galões foram disponibilizados na escola para que a castração fosse realizada. Em menos de 10 dias, a quantidade de tampinha arrecadada já era suficiente para custear a operação de Dona Castrão. Alguns professores se juntaram para também financiar o banho da cachorra em uma petshop.

Assim como alunos, professores e funcionários da escola se encantaram pela história e simpatia de Dona Castrão. 

— Eu sempre fui apaixonada pela Dona Castrão, desde o início. Ela entrava na sala de aula e ficava ali comigo — relata a professora de Português Bruna Folmann, 29 anos.

Pelo fato da cadela ser de porte grande e estar acostumada a viver nas ruas, a professora imaginava que ela não se adaptaria em um apartamento. Por essas questões, ficou definido que ela passaria os dias de recuperação em um lugar que tivesse pátio. Porém, um imprevisto fez com que a cachorra não pudesse ficar no local definido. Foi quando Bruna resolveu levá-la para casa. Juntas durante alguns dias, chegou o momento de Dona Castrão ir para outro local. Ela ainda precisava receber medicação e não poderia ficar sozinha no apartamento.

— Nesse dia da troca (de residências) eu chorei, já estava bastante apegada. E vi que ela já estava identificando a minha casa como a casa dela. Daí eu vi que era um desejo dela também. Hoje ela tem até plano de saúde — conta, emocionada, a professora. 

Garota propaganda na escola

Após o final feliz da Dona Castrão e da professora Bruna, os alunos seguem engajados em arrecadar tampinhas de garrafas PET. O objetivo atual é castrar e promover a adoção do cachorro Chico, que aparece com frequência na escola, como Dona Castrão fazia. Chico também ganhou uma conta no Instagram. 

Pela escola, fotos da Dona Castrão estampam galões grandes para incentivar a doação de tampinhas de garrafas PET. Após a castração da cachorra, Mikaela, que também faz parte do grupo de comunicação do colégio, percebeu uma diminuição na doação dos materiais. 

— Queremos continuar arrecadando e queremos achar um lar para o Chico — explica a aluna.

Para celebrar o Dia Mundial dos Animais, comemorado em 4 de outubro, foi aprovado na escola o Projeto Dona Castrão, em que os alunos participarão de uma série de atividades para refletir sobre a importância de arrecadar as tampinhas e sobre as melhores práticas no resgate dos animais em situação de rua. 

— Vamos convidar pessoas para falarem sobre a importância de não resgatar os animais sem ter para onde levá-lo. Queremos que os alunos saibam de que maneira eles podem ajudar efetivamente — explica a professora.

Como doar

///  Para doar tampinhas e saber mais sobre a rotina de Dona Castrão e de Chico acesse no Instagram: @donacastrao e @sr.chico_alves.

/// Já os projetos desenvolvidos pelos alunos do Colégio Estadual Antônio de Castro Alves podem ser conferidos no Instagram @castrogram.