A cada dia, 57 motoristas são autuados por usar o telefone ao dirigir em Porto Alegre. Nem mesmo a infração gravíssima e a multa de R$ 293,47 inibem o comportamento. E a prática é mais comum do que os números levantados pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) sugerem. Em minutos, a reportagem de GZH flagrou dezenas de motoristas com a atenção desviada pelo celular nos principais cruzamentos da cidade. 

De janeiro a setembro, 15.563 infrações do tipo foram registradas por agentes da EPTC em Porto Alegre. No mesmo período do ano passado, foram 19.895 multas, uma média de 73 a cada dia — redução de 21% de um ano para outro. Mas, ainda assim, essa é a quinta infração de trânsito mais comum na cidade. Em todo o Rio Grande do Sul, 44.403 motoristas foram flagrados ao telefone em 2023 até setembro, conforme dados do Detran.  

A infração está descrita no artigo 252, parágrafo único, do Código de Trânsito Brasileiro. A lei prevê a infração mesmo que o veículo esteja em imobilização temporária. Ou seja, mesmo parado no sinal vermelho ou em um congestionamento, o manuseio do celular pelo motorista é vedado, ainda que com o aparelho preso a um suporte. A utilização é permitida apenas com o veículo estacionado em local permitido.  

O desvio do foco do condutor é um fator de risco no trânsito. Conforme o gerente de Fiscalização de Trânsito da EPTC, Leandro Coelho, o uso do celular está relacionado à ocorrência de acidentes.  

— Ao volante, o condutor tem muitas coisas para cuidar ao mesmo tempo. Além do próprio veículo, questões como acionar a seta, as luzes do painel e a própria velocidade, tem todos os demais veículos na via. No momento que ele usa um celular, tira toda a atenção dessas coisas. Por mais que sejam poucos segundos, a depender da velocidade, são muitos metros percorridos sem ver o que está à frente dele — explica Coelho. 

Conforme o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, a constatação da infração é possível mesmo sem a abordagem pelo agente.  

Prática comum em Porto Alegre

O uso do celular ao dirigir é mais comum do que sugerem os dados oficiais de autuações em Porto Alegre. Em 20 minutos de observação no cruzamento das avenidas Plínio Brasil Milano, Augusto Meier e Carlos Gomes, na zona norte de Porto Alegre, na tarde da última terça-feira (28), a reportagem flagrou 10 motoristas em situações que poderiam ser enquadradas como infração por uso de celular.   

Em seis situações, o manuseio aconteceu com o celular preso a um suporte, incluindo um motociclista, com o veículo parado. Nos outros quatro casos, o condutor segurava o celular com uma das mãos, e dois deles continuaram o manuseio mesmo após arrancar com o veículo. No cruzamento da Avenida Princesa Isabel com a Avenida Bento Gonçalves, o resultado da observação de 10 minutos foi semelhante: cinco situações que poderiam ser enquadradas como infração. 

— Tem que se educar o condutor. É uma prática de costume da população. E não é um problema só de motoristas. Também observamos pedestres manuseando o celular e atravessando ruas sem olhar para os lados, gerando riscos iminentes de acidentes — analisa Leandro Coelho. 

Infrações por uso do celular ao volante em Porto Alegre (até setembro) 

• 2023: 15.563  
• 2022: 19.895 
• 2021: 16.371 
• 2020: 12.807 
• 2019: 19.310 
• 2018: 24.136 
• 2017: 20.517