No final do ano passado, a professora de inglês Vanessa Pellin Dutra, 48 anos, teve uma surpresa com a conta de água de sua residência: a tarifa de dezembro veio com um valor seis vezes maior do que a média cobrada nos meses anteriores.  

– Normalmente, a gente paga um valor de R$ 300, mas nesse mês veio R$ 1.900. Quando eu vi, caí para trás, porque isso só podia ser um erro de leitura. É muito acima do normal – afirma a moradora do bairro Tristeza, na Capital.

Assim que identificou a cobrança, ela procurou o Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) para pedir a revisão. Como tem a cobrança cadastrada em débito em conta, o valor já foi cobrado. No contato, o órgão informou que uma posição definitiva sobre a cobrança deve vir apenas após 120 dias. 

O caso de Vanessa não é o único. Nas últimas semanas, diversos leitores entraram em contato com o DG relatando situações semelhantes. No site Reclame Aqui, destinado ao registro de reclamações contra empresas, a reportagem também identificou um aumento. Foram mais de 40 reclamações relacionadas à tarifa de água dos meses de dezembro e janeiro. Em todas, o relato é de um valor muito acima da média dos meses anteriores. 

Retomada 

Ao DG, a assessoria do Dmae explicou que o aumento se deve à retomada da leitura dos hidrômetros após meses de cobrança por médias. Em 1º de novembro, a empresa Atlantis Saneamento, vencedora da última licitação, retomou o serviço interrompido durante a enchente.

Desde maio, a cobrança vinha sendo feita a partir de um cálculo que considerava o consumo de meses anteriores. A prática seguia um acordo firmado entre o Dmae e o Ministério Público do RS, que também previa a isenção da tarifa para imóveis atingidos pelas águas.  

Antes disso, o departamento já vinha enfrentando inconformidades no serviço prestado pela terceirizada responsável pelas leituras. Em novembro de 2023, o contrato com a empresa Fimm foi rompido por contas com valores incorretos. A partir de março do ano passado, a empresa responsável pelas leituras passou a ser a Conceito Prestação de Serviços, por meio de um contrato temporário. Contudo, o vínculo foi rompido por inconformidades.

Apesar desse contexto, os leitores consideram a cobrança de dezembro excessiva e atípica. Na casa de Vanessa, o consumo indicado na conta veio 100 metros cúbicos acima da média, que costumava ficar em 32 metros cúbicos. 

– Eu guardo um histórico das contas desde 2020 e em nenhum momento tivemos um consumo tão elevado. Eu posso ter me excedido nesses meses (após a enchente), mas não para dar uma conta acima de R$ 1 mil – defende. 

A casa em que a professora mora com o marido e a filha, 

10 anos, fica na Rua Landel de Moura, no bairro Tristeza. Segundo ela, o consumo da família é racional:  

– A gente é super consciente e racionaliza ao máximo. Faria sentido, por exemplo, uma cobrança maior quando começamos a limpar a piscina, mas, no ano passado, a gente só começou a lidar com isso em dezembro.

O alto volume de reclamações tem obrigado o Dmae a atrasar as revisões. Entretanto, o número de solicitações não foi divulgado pelo departamento. Em um período normal, o prazo costuma ser de 90 dias, mas para Vanessa, o prazo informado foi de 120 dias. 

Nas redes sociais, o órgão também tem respondido os usuários informando que deverá haver atrasos nas avaliações. 

Como solicitar a revisão

/// Para casos semelhantes, o órgão orienta que os moradores peçam a revisão das contas e não paguem tarifas com valores muito acima ou muito abaixo da média.

/// Os moradores devem enviar um e-mail para dmae@dmae.prefpoa.com.br com uma foto da conta e uma foto do hidrômetro em que apareçam os quatro números pretos. 

/// Caso haja confirmação de que não houve cobrança em excesso, e sim apenas o reajuste do período tarifado por média, o cliente pode aderir ao parcelamento em até 60 vezes, sendo até 12 parcelas sem juros.

Produção: Guilherme Freling