Ação preventiva
Argila e bags de areia funcionam no fechamento de comportas em Porto Alegre? Especialistas respondem
Com a alta do Guaíba, prefeitura tem apostado no reforço da estrutura para evitar enchentes


O fechamento de comportas do sistema de proteção contra as cheias, com o uso de bags e argila compactada, vem causando apreensão sobre a efetividade da medida em Porto Alegre. Especialistas avaliam que estruturas temporárias são eficazes para as previsões atuais de clima, mas podem ser insuficientes para eventos maiores, como a enchente de 2024.
Conforme o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), obras estão sendo feitas para garantir um sistema eficiente para eventos de igual ou maior proporção ao do ano passado.
As comportas de número 11, 12, 13 e 14 receberam reforço com argila e bags nesta semana. Essas estruturas temporárias funcionam como "diques emergenciais", explica Luiz Antônio Bressani, engenheiro geotécnico e professor aposentado da UFRGS. Elas buscam garantir a proteção da cidade e têm como cota de referência 4m50cm na Usina do Gasômetro. Isso significa que, enquanto o nível do Guaíba não ultrapassar essa marca, as barreiras temporárias devem ser suficientes para evitar alagamentos na região central.
Projeções feitas pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), nesta terça-feira (1º), indicam que o Guaíba deve ficar acima da cota de alerta, de 3 metros, podendo se aproximar da cota de inundação, de 3m60cm na Usina do Gasômetro, nos próximos dias. Portanto, é pouco provável que ocorram extravasamentos na região central da cidade nesta semana.
— (As contenções) São estruturas bastante razoáveis para essa condição. Então, não tem risco, praticamente. Não vai vazar água. Mesmo que (o Guaíba) subisse mais um metro e meio, que é impossível nessas condições de clima, ainda assim não vazaria — diz Bressani.
A opinião é compartilhada com o professor Fernando Dornelles, do IPH/UFRGS. Segundo ele, as contenções feitas com bags e argila conseguirão atender as condições atuais, mas precisarão ser aprimoradas ou substituídas a longo prazo. Dmae afirma que um plano neste sentido está em ação desde o ano passado (veja abaixo).
— Emergencialmente, funciona, mas tenho dúvidas se para um evento como o de 2024 não haveria problema — afirma o professor.
As comportas reforçadas

Segundo o departamento, as intervenções preventivas nas comportas 11, 12, 13 e 14, foram divididas em três etapas:
- Primeiro, houve o posicionamento de bags, com uma tonelada cada
- Depois, foi realizada a compactação de camadas de argila, formando pequenos diques na área
- Por fim, pedras-rachão foram colocadas para a proteção das estruturas temporárias
Ainda conforme o Dmae, os materiais usados e que vem gerando polêmica são comumente usados em obras para contenção temporária de cursos d'água, a exemplo do que ocorreu na obra de reconstrução do talude do Dilúvio.
Obras definitivas e melhorias no sistema
A reestruturação das comportas do sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre teve início em julho de 2024, após a enchente histórica, com a contratação da empresa que projetou as novas estruturas — tanto de fechamento definitivo, quanto de substituição. As obras começaram em maio deste ano.
Das 14 comportas existentes no sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre, três foram fechadas em definitivo — 3, 5 e 7 —, por meio da obra de extensão do Muro da Mauá. Outras quatro (1, 2, 4 e 6) foram reformadas, passando por melhorias de vedação e mobilidade.
Sete estruturas têm obras em andamento: as passagens 8, 9, 10 e 13 serão fechadas em definitivo, com concreto armado. O custo para a intervenção é de R$ 3,1 milhões.
Já as comportas 11, 12 e 14 serão substituídas por portões projetados para suportar a força do Rio Jacuí, com um investimento de R$ 8,2 milhões.
As obras de fechamento definitivo devem ser concluídas em até seis meses, enquanto a substituição dos portões antigos tem previsão de 10 meses.