lady



Carga Pesada

Elas na boleia: conheça a rotina de uma mulher que viaja o Brasil guiando caminhão de carga

Mulheres representam 10% dos caminhoneiros da Região Metropolitana de Porto Alegre

06/01/2017 - 07h01min

Atualizada em: 06/01/2017 - 11h21min


Karina Chaves
Karina Chaves
Enviar E-mail

O para-choque do caminhão anuncia: ''É de menina''. O possante impõe certo medo pelas dimensões grandiosas, mas, ao mesmo tempo, é bem feminino: na boleia, ursinhos de pelúcia, no porta-luvas, maquiagens sobre o painel. Na direção, está Vanessa Mariano Machado, 34 anos, que, há 15, optou pela estrada.

Ela é uma das 200 mulheres que representam 10% dos caminhoneiros da Região Metropolitana cadastrados no Sindicato dos Empregados em Transporte Rodoviário de Carga do Rio Grande do Sul (Sinecarga). Paranaense a serviço
de uma empresa gaúcha, ela percorre o Brasil guiando um veículo de 30 toneladas, que carrega 35 mil litros óleo vegetal, sem perder a graça, o bom-humor e o respeito dos colegas.

Leia mais
Saiba como ficar com um olhar marcante
Afinal, do que os homens gostam nas mulheres?

Foi com o pai, Luiz Carlos Machado, 58 anos, que mora em Ponta Grossa, no Paraná, e exerce até hoje a profissão, que Vanessa aprendeu a amar os caminhões e a estrada. – Eu trabalhava com ele fazendo o serviço burocrático de escritório. Mas a minha vontade mesmo era de encarar a boleia. Um dia, ele me deu a chave do caminhão que tinha na época para eu fazer o meu primeiro frete. De lá pra cá, nunca mais parei – conta Vanessa.

O começo não foi fácil. Enfrentou fome, frio e cansaço, além de preconceito. Mas nunca pensou em desistir:– Chegava nos postos para abastecer e ouvia: ''Tem certeza de que tu vai conseguir pilotar este caminhão''?. Mas, a cada quilômetro rodado, tinha mais certeza de que estava na estrada certa.

Brasil afora

Vanessa viaja todo o Brasil. A cada semana, são cerca de cinco mil quilômetros rodados. Em tempos violentos, embora nunca tenha sofrido acidente nem assalto, lança mão de algumas regrinhas de segurança.

– Procuro dormir onde abasteço e peço para os frentistas para estacionar perto das bombas onde eles passam a noite e podem me ver – conta a motorista, que não abre mão da vaidade, mesmo em ambientes masculinos: – Não deixo de passar batom e rímel. Gosto de me vestir com as roupas da moda e procuro sempre um posto que tenha tomada para que eu possa secar meu cabelo e fazer minha chapinha.

Saudade é companhia constante

Mãe de Carlos Leonardo Filipouski, oito anos, Vanessa está sempre conectada com o filho, que mora com os avós maternos, no Paraná. – Ele tira foto das tarefas escolares, me manda por whats, e eu ligo para fazermos o tema juntos. Nas férias, ele viaja comigo. É o meu copiloto – conta ela, resiliente diante da distância que aperta o coração:

– Pago a prestação de casa, os estudos do meu filho e ajudo meus pais. Não tenho do que me queixar. De quebra, a estrada ainda lhe trouxe um amor. Foi nas andanças pelo país que ela conheceu seu atual namorado: o também caminhoneiro Arielton Soares, 32 anos, – Estamos juntos há três anos. Quem sabe, mais adiante, com a benção de São Cristóvão (padroeiro dos caminhoneiros), a gente não se casa?

Mais delicadeza e atenção

Segundo o presidente do Sinecarga, Paulo Roberto Barck para dirigir veículos de grande porte, basta ter habilitação do tipo AB. Ele ressalta, ainda, que, cada vez mais, as empresas de transporte têm aberto espaço para as mulheres, por sua atenção volante, cuidado com a mercadoria e empatia com a clientela: – De uns cinco anos pra cá, as empresas estão procurando mais mulheres, pois elas têm uma delicadeza muito maior tanto com o patrimônio quanto no atendimento com os clientes.



MAIS SOBRE

Últimas Notícias