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Em Império, Xana é crossdresser: você sabe o que é isso?

Personagem de Aílton Graça traz à tona o assunto

09/11/2014 - 09h28min

Atualizada em: 09/11/2014 - 09h28min


Elana Mazon
Elana Mazon
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Xana, o personagem de Aílton Graça em Império, deixou o público e os seus amigos da novela confusos ao revelar, recentemente, que é crossdresser. O termo novo impressionou e deixou Lorraine (Dani Barros), coitadinha, toda confusa. Mas não era para tanto: crossdresser é simplesmente quando um homem veste-se de mulher.

Retratos da Fama entra no assunto e te ajuda a entender melhor este e outros termos relacionados à identidade e gênero sexual, além de relembrar personagens que causaram nas novelas por abordar a questão da sexualidade, cada vez mais presente.
Confira, ainda, o que Aílton pensa de Xana e como deve ser o casamento dele com Naná (Viviane Araujo).

Em busca do seu lugar

Com perdão do trocadinho, Aílton Graça é a graça de Império, na pele do crossdresser Xana Summer, um homem que se veste e age como mulher! Logo, ele deve gostar de outros homens. Certo? Não necessariamente!

Na história de Aguinaldo Silva, Xana contou para Lorraine (Dani Barros) que se veste de mulher porque sente necessidade, mas que nunca saiu por aí com "um bofe". Pelo contrário: ele tem uma forte queda pela manicure Naná (Viviane Araujo) e anda morrendo de ciúme dela, que está dando umas voltas misteriosas... 

Para o ator, a discussão ultrapassa a questão da sexualidade do cabeleireiro.

- É confuso para mim também, mas tento colocar como na emancipação feminina, quando as mulheres passaram a usar calça, mudar um pouco o gestual, sentar quase de perna aberta. O homem também vem buscando o seu lugar - disse Aílton ao jornal Extra.

Além do termo  crossdresser, existem outras expressões pouco conhecidas pelo grande público. Aílton já deparou com algumas:

- Descobri que tem os g0ys, que são os homens que ficam com outros homens, mas dizem que não são gays. E tem um monte de gente que se diz bissexual. Acho que está sendo colocado no centro da roda um outro perfil, do cara que tem essa mistura, que todo mundo olha e tem dúvida.

Está aberta a discussão

A recepção do público a Xana tem emocionado o seu intérprete.

- Fui professor de um menino há muitos anos. Ele teve um problema com a família porque se declarou gay. O pai já o agrediu. Descobri recentemente que esse mesmo pai chorou com a cena em que a mãe do Luciano (Yago Machado) está morrendo e pede para o Xana cuidar do menino. Ele disse ao filho: "me ensina como lidar com você". Havia 20 anos que eles não se falavam. Para mim, vale mais que tudo saber que isso aconteceu - contou Aílton.

Para Mauro Alencar, especialista em novelas, o público costuma lidar bem com os assuntos polêmicos colocados nas tramas. A história de Xana pode abrir portas para a discussão sobre outros tipos de relacionamentos:

- A novela certamente possibilitou a compreensão dos múltiplos afetos contidos na espécie humana, a exemplo do que assistimos recentemente em Amor à Vida e em Império.


Homenagem

Xana está agradando tanto ao público LGBT que rendeu a Aílton uma homenagem no Concurso Talentos de Dublagem, no Rio de Janeiro, que premiou o melhor transformista do ano, no mês passado. O troféu levou os nomes de Aílton e Viviane Araujo.

Casamento

Xana e Naná vão se unir por uma boa causa: a adoção de Luciano. Vivi e Aílton acreditam que o público vai torcer pela dupla. Apesar disso, ainda há dúvidas se a relação vai ser realmente de marido e mulher.

- Não sei se realmente serão um casal. Acho que Naná tem uma paixão por Xana, mas de alma. É um amor de irmão. Não sei se tem esse lado carnal - opina Viviane.

A amizade entre os atores só ajuda na interpretação.

- A gente se conhece do mundo do samba. O lado afetuoso que tenho pela Viviane foi emprestado para esses personagens - completa Aílton.

Na vida real

Um crossdresser famoso é o cartunista Laerte Coutinho. Ele já era bem conhecido por suas tirinhas quando, em 2010, resolveu assumir que gosta de vestir-se de mulher e passou a circular por aí com peças femininas no dia a dia.

Antes disso, suas escolhas e sua sexualidade ficavam debaixo do tapete. A partir daí, foi só polêmica! Ele também contou para todo mundo que é bissexual e, em 2013, posou sem roupa para as páginas da revista Rolling Stone.

Identidade x orientação

A psicóloga e sexóloga Lúcia Pesca, da coluna Falando de Sexo, explica que o crossdressing (em inglês, vestir-se ao contrário) não está relacionado a ser gay ou não.

- Quem pratica crossdressing adota a vestimenta, o papel do sexo oposto, mas não necessariamente é homossexual. Pode ser homo, hetero ou bissexual. A diferença é que essas pessoas não querem passar por mudanças físicas, como a de sexo.

Para a sexóloga, é importante diferenciar a orientação sexual de cada pessoa (gay, hetero ou bi) da identidade que ela assume.

- Ninguém escolhe uma certa orientação sexual. Ela é construída por diversos fatores: biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Uma criança, por exemplo, pode ter trejeitos do sexo oposto e não ser homossexual. Isso tem a ver com a identidade que cada pessoa assume.


Entenda este universo

Crossdresser: indivíduo de um sexo que age e se veste como o sexto oposto, mas não necessariamente sente-se atraído pelo mesmo sexo. O termo, em inglês, significa "vestir-se ao contrário". É o caso de Xana.

Transexual: é aquele que nasceu em um corpo de homem, mas assumiu características de mulher com o auxílio de hormônios, cirurgias plásticas e cirurgia de conversão sexual.

Travesti: nasceu com corpo masculino, mas assume todas as características de uma mulher, muitas vezes, graças a hormônios ou cirurgias plásticas. A diferença entre travesti e transexual é que o primeiro permanece com genitália masculina.

Transgênero: inclui qualquer pessoa que não se identifica com o comportamento esperado para o seu gênero biológico. Um travesti, um crossdresser e um transexual são considerados transgêneros.

Bissexual: gosta de homens e mulheres.

g0ys: são heterossexuais mais liberais, ou seja, homens que ficam com outros homens, mas não se consideram gays, pois não praticam sexo anal.

Metrossexual: é o homem urbano que se preocupa muito com a aparência. Este tipo de homem é vaidoso, gosta de investir em roupas e cosméticos, mas não necessariamente é gay.

Supportive Opposite: o site Brazilian Crossdresser Club (bccclub.com.br), que reúne diversos adeptos do crossdresser, apresenta esta classificação. O termo cabe para Naná: é a companheira de um crossdresser. Ela aceita e apoia suas escolhas.

Homossexual: é quem sente atração por pessoas do mesmo sexo. Homem que gosta de homem é gay. Mulher que gosta de mulher é lésbica.

Heterossexual: significa sentir atração por pessoas do sexo oposto.


Assunto nas novelas desde 1970

A discussão da sexualidade na tevê está cada vez mais em alta e não passa uma novela sem que o assunto seja abordado. Mas nem sempre foi assim. Em Torre de Babel (1998), o casal Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Sílvia Pfeifer) não agradou e acabou morrendo, junto com diversos outros personagens, na explosão de um shopping.

Para o especialista em novelas Mauro Alencar, foi nos anos 2000 que os gays passaram a aparecer com frequência nas tramas. O primeiro beijo gay masculino foi gravado por Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro, que interpretavam Júnior (Bruno) e Zeca (Erom), em América (2005), mas a cena não foi exibida. Na época, a TV Globo admitiu que cortou a cena do último capítulo. Coube a Niko (Thiago Fragoso) e Félix (Mateus Solano), em Amor à Vida (2013), protagonizarem o primeiro beijo gay entre homens nas telenovelas. E agora, quando será o próximo? Relembre!

COMEÇO - O primeiro gay em novela foi Rodolfo Augusto, um costureiro interpretado por Ary Fontoura em Assim na Terra Como no Céu (1970). Era exibida às 22h.

AGRESSÃO - Em A Próxima Vítima (1995), André Gonçalves interpretava Sandrinho. O personagem mantinha um relacionamento com Jefferson (Lui Mendes). No início, os dois ficavam juntos em segredo e causaram bastante polêmica. Apesar da boa aceitação do público, André Gonçalves chegou a ser agredido na rua, na época, por conta do personagem.

ELAS - Torre de Babel (1998) mostrou um casal de mulheres: Rafaela e Leila. Além de homossexualidade, a novela tratou de outros assuntos polêmicos, como drogas, infidelidade e violência. O início da trama não agradou ao público, e o autor Silvio de Abreu utilizou a explosão de um shopping para antecipar a morte de diversos personagens. Entre eles, Rafaela e Leila.

QUE GELO - Paraíso Tropical (2007) mostrou um casal bastante criticado. Rodrigo (Carlos Casagrande) e Tiago (Sérgio Abreu) eram casados na trama, mas, mesmo nas cenas em que os dois apareciam em casa, sozinhos, mal se tocavam. Ficaram conhecidos como casal iceberg.

FOI! - O primeiro beijo gay em novelas da Globo aconteceu entre o inesquecível casal Niko e Félix, em Amor à Vida (2013). Na trama de Walcyr Carrasco, Niko começou casado com Eron (Marcello Antony), mas os dois acabaram se separando. Já o personagem de Mateus é lembrado pelo bom humor e pelas más atitudes. O tão esperado beijo só rolou no último capítulo.

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