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Do povo, família e de coração aberto: deixa Zeca te levar!

Cantor conversa com Retratos da Fama e abre o coração, no lançamento de seu 23º disco, Ser Humano. Fala de família, cerveja e de música.

16/05/2015 - 08h01min

Atualizada em: 16/05/2015 - 08h01min


José Augusto Barros
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Guto Costa / Divulgação

Após cinco anos sem lançar disco de inéditas, Zeca Pagodinho apresenta Ser Humano (R$ 22, preço médio), 23º CD da carreira de um dos bambas do samba nacional. Aos 56 anos, o músico, conhecido pelo bom humor e por apreciar uma cervejinha, está mais cascudo.

A morte do filho Elias, em janeiro, e do pai, Jessé, em março, abriram feridas difíceis de cicatrizar. Para tentar fechá-las, ele fez o que mais sabe e gosta: foi para o estúdio gravar sambas românticos e partido-alto. Retratos da Fama esteve nos estúdios da Universal Music, no Rio de Janeiro, para bater um papo com o cantor.

Nesta entrevista, você conhece um Zeca gente como a gente, amigo dos amigos, apaixonado pelos netos, ligado à família e, em pleno 2015, completamente avesso
à tecnologia.

Depois de cinco anos, um disco de inéditas

O disco Ser Humano mescla romantismo com sambas partido-alto e traz parceiros antigos de Zeca: Rildo Hora (diretor e arranjador em cinco faixas), Paulão 7 Cordas (arranjador em Perdão, Palavra Bendita), Almir Guineto (coautor de A Santa Garganta) e Serginho Meriti (coautor da faixa Samba na Cozinha).

O comediante Pedro Bismarck faz uma divertida participação com a voz de seu personagem Nerso da Capitinga, em Mané, Rala Peito. Zeca explica que Ser Humano demorou cinco anos para chegar, porque ele esteve envolvido em outros projetos grandes, como o Sambabook (preço médio de R$ 70) e o DVD Vida Que Segue (cerca de  R$ 30), em comemoração aos 30 anos de carreira.

Generosidade

Do novo disco, apenas Foi Embora é de autoria de Zeca. As demais foram escritas por parceiros, o que demonstra generosidade.

Zeca é conhecido por gravar sambas de outros compositores, como o sucesso Deixa a Vida me Levar, de Serginho Meriti e Eri do Cais. 

- Tenho composto pouco. Um pouco por preguiça (risos). Eu fazia música para Beth (Carvalho), Alcione, Martinho (da Vila) e Mussum. Hoje, todo mundo quer fazer disco autoral. O compositor ficou órfão. Eu sou um dos únicos que ainda segura para eles, gravo de outros - diz.

Processo de composição pra lá de convidativo...

No começo da entrevista, Zeca não fala muito. Começa algumas frases, não vai adiante, parece impaciente. Tira os sapatos e fica mais à vontade. Começa a circular pela sala de entrevistas da gravadora Universal, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Aos poucos, vai se soltando, fica sorridente e fala sobre um processo de composição bem diferente do usual.

- Faço (música) lá em Xerém (bairro da cidade de Duque de Caxias, no Rio, onde tem casa) ou no Quebra Mar, botequim de um amigo, aqui, na Barra, que a gente fecha pra isso. Fico lá e, quando ouço alguma coisa boa, olho para o Rildo (Hora, seu arranjador), e ele já sabe. Em duas ou três reuniões, a gente resolve. Levo um pernil ou leitão e bastante cerveja - comenta.

Seleto e exigente


Entrar no restrito círculo de bambas gravados por Zeca não é bem assim. O Quintal do Pagodinho, grupo que reúne compositores gravados pelo sambista, é motivo de orgulho para ele:

- Hoje, eles fazem show, têm vida própria, são craques. Tenho a mesma rapaziada faz tempo: o Zé Roberto, (Nelson) Rufino e Marcelinho Moreira. Agora, até entraram outros, como o Marquinho Índio.

O cantor revela que, seguidamente, compositores se aproximam dele nos bares que frequenta, mostrando um disco.

- Às vezes, desço para tomar um chope, o cara senta do meu lado e fala: "Escuta essa aqui". Geralmente, é uma porcaria. Ouço "Zeca, fiz um sambinha", e eu digo "Nem canta". Coisa boa não vem assim - sentencia.

Um brinde à moderação

Tema recorrente nas canções de Zeca, conhecido por apreciar uma loira gelada, a cerveja entra no bate-papo. Questionado se segue tomando as suas, o sambista lembra que já são 13h, o dia está bonito e, por isso, está na hora de beber:

- Mas de leve, porque a glicose tá braba!

Com o comentário, parece que ele se lembra de algo. O cantor se levanta (em uma das dezenas de vezes que faz isso durante a entrevista), para mostrar as caixinhas de remédios com comprimidos para cada dia da semana, e mostra: 

-Glicose, estômago, coluna. Uma porrada de troço.

São para controlar o seu colesterol e o ácido úrico.

Solidão, não!

Zeca, definitivamente, não gosta de ficar sozinho. Na entrevista, diz que, quando não está com netos e com a família, fica com os parceiros compositores. 

- Eles estão sempre comigo. Não gosto de ficar sozinho. Tenho três empregados, isso em dia normal. Em outros, são mais, quando tem festa. Rapaz, é tanta gente que nem sei mais quem é parente, e quem trabalha para mim - confessa.

Ao falar sobre os seus medos, deixa transparecer um lado muito humano e, ao mesmo tempo, bem-humorado:

- Tenho medo de morrer, de deixar essa vida boa, praia, de ver esses biquínis (risos).

Avesso à tecnologia

Informal, ao estilo Zeca Pagodinho de ser, o cantor atende, no meio da entrevista, o telefone. A surpresa é o aparelho: simples, diferente dos smartphones das estrelas da música.

Ele não consegue entender quem está do outro lado da linha e aproveita para reclamar por  terem colocado-o em um grupo de WhatsApp com pais de colegas de uma das filhas, Maria Eduarda (ele ainda tem Eduardo, Louiz e Eliza).

- Pedi para ela tirar isso do meu telefone, porque eu não sei usar - resmunga.

Família é a força motora

A entrevista chega a um tema dolorido para o sambista. Em janeiro deste ano, o cantor perdeu o filho, Elias Gabriel, 28 anos, devido a complicações por problemas pulmonares. Em março, faleceu também o pai, Jessé da Silva, por insuficiência cardíaca.

- Foi muito embolada (a gravação do disco). Fiquei três meses em estúdio, o que acho pouco, gosto de ficar mais tempo. Mas eu tenho que seguir gravando, fazer desse limão uma limonada. Não tem como parar. Perdi um filho, mas tenho dois netos (Noah, cinco anos, e Catarina, dez meses). Preciso trabalhar, preciso do estúdio, preciso da música, preciso continuar a viver. Aconteceu. A cabeça não pode ficar parada - revela.

Pai de Maria Eduarda, 11 anos, Eduardo, 27, Louiz, 26, e Eliza, 23, ele não nega que os netos são os seus xodós:

- Compro tudo o que meus netos pedem. E gosto de ficar em casa vendo Peppa Pig com a Catarina, ao invés de assistir a noticiários.

Romântico convicto

Zeca sempre cantou a mulher em suas músicas. Questionado se é romântico, responde que "sim", sem pestanejar.

Quando começa a falar sobre a beleza da mulher brasileira, comenta, aos risos:

- O que mais tem por aí, é mulher bonita. Mas é aquela coisa. É como quando você vê uma tartaruga em cima do muro. Alguém colocou ali. É como mulher bonita, tem dono. A minha (Mônica Silva, esposa, com quem está há 28 anos) tem!

Abaixo, confira vídeo de Zeca falando sobre o novo CD:


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