Acumular as tarefas de casa, do trabalho e de mãe é complicado para qualquer mulher. Mas, se ela trabalha à noite, pior ainda. É o caso da auxiliar de farmácia Rosane Gravana, 31 anos, do Bairro Glória. Desde janeiro, ela cumpre o horário das 19h às 7h, uma noite sim, outra não.

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A adaptação ao novo turno levou tempo e, para dar certo, contou com uma santa ajuda. Separada, quem cuida do filho de Rosane, Kayã, um aninho, enquanto ela trabalha e, pela manhã, quando dorme, é a mãe dela, Miriana Gravana.

Foram duas as motivações que levaram Rosane a passar para o horário da noite. A primeira foi o salário, que aumenta, pelo menos, 20%, graças ao adicional noturno. A segunda foi a possibilidade de participar mais da rotina de Kayã.

- Como optei por não colocá-lo na creche, esse horário me dá a vantagem de ficar mais tempo com ele - diz a mamãe zelosa, que é separada.


O dia da mamãe é todinho para o pequeno Kayã. Foto: Lauro Alves / Agência RBS

Mas a decisão da mudança de turno não foi tomada sozinha. Nas manhãs seguintes às noites em que Rosane trabalha, quem cuida do pequeno enquanto ela dorme é a mãe, Miriana, 58 anos, que mora com ela e largou o emprego para ficar com os netos. Além de Kayã, ela toma conta de Isabela, cinco anos, da sua outra filha. 

- Se não tivesse a ajuda dela, eu não teria como assumir essa rotina - avalia Rosane.

Chegando em casa, a auxiliar de farmácia se certifica de que Kayã está bem e vai dormir. O horário de acordar, porém, varia.

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- A rotina do meu filho determina a minha. Se ele dorme por volta do meio-dia, como é o normal dele, eu durmo junto, até por volta das 14h. Se não, tenho que acordar e ficar com ele, já que minha mãe tem outros compromissos - explica ela.

Descanso valioso
Quando trabalhava durante o dia, Rosane dormia à noite e acordava cedo. Estar de pé de madrugada, só quando o filho acordava. Por isso, a adaptação não foi fácil.

- Nos primeiros meses, eu sentia muito sono. Isso sem falar no mau humor. Ainda hoje, se não durmo o suficiente, fico assim. Para mim, trabalhar durante a noite é temporário - relata.

Mas engana-se quem pensa que, quando está de folga, ela tem alguma dificuldade para dormir durante a noite:

- Em 48 horas, eu consigo virar totalmente a minha rotina. Até porque preciso cuidar do Kayã e fico cansada. Quando durmo nas noites de folga, é diferente, eu descanso mais - diz.

Sono é saúde
Médico pneumologista e especialista em Medicina do sono do Hospital da Puc, Fábio Maraschin Haggstram alerta que trocar o dia pela noite pode trazer malefícios:

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- Fisiologicamente, a noite é hora de dormir. Quando escurece, liberamos o hormônio indutor do sono, a melatonina. Por isso, quem trabalha em turno invertido pode ter uma qualidade de sono inferior à ideal.

O especialista diz que, para descansar bem, é preciso observar três pontos: ritmo (ter horário para dormir e acordar), quantidade (em média, de sete a oito horas) e qualidade.

- A falta disso pode causar aumento de peso, dificuldade de perdê-lo, ronco, apneia, irritabilidade e ansiedade, entre outras coisas - alerta Fábio.

Como amenizar os efeitos
Para quem não tem como fugir do turno da noite, é possível suavizar os malefícios. Veja!

/// Tente dormir as horas que seu corpo necessita. Se você ficar "devendo", seu corpo tende a cobrar esta dívida no futuro.

/// Escolha o horário que seu corpo se adapta melhor para dormir.

/// Pratique exercícios físicos e se alimente bem.

/// Avalie seu sono com um profissional.

/// Mantenha seu quarto escuro, silencioso e com temperatura agradável (entre 20ºC e 24ºC).

/// Escolha colchão e travesseiro adequados.

/// Evite cafeína (presente em café, chocolate e refrigerantes, por exemplo) algumas horas antes de dormir.