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Bonde da chalaça

25 anos de Acústicos & Valvulados

Banda celebra trajetória lançando discos de vinil e DVD ao mesmo tempo em que prepara novo trabalho de inéditas e livro que conta sua história

25/12/2015 - 14h22min

Atualizada em: 25/12/2015 - 14h23min


Gustavo Brigatti
Gustavo Brigatti
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Na noite de Natal, muita gente espera pela visita do Papai Noel. Mas, na madrugada de 24 para 25 de dezembro de 1990, em vez do bom velhinho com um saco de presentes, quem apareceu foi o então imberbe Rafael Malenotti com uma fita VHS cheia de clipes da banda Stray Cats. Era o início da história dos Acústicos & Valvulados, que começam agora a comemorar 25 anos de carreira.

Mas esse encontro entre Malenotti e os outros três membros fundadores da banda – o guitarrista Alexandre Móica, o baterista Paulo James e o baixista Roberto Abreu – não se deu ao acaso. Como um bom conto natalino, ele é resultado de uma série de “acidentes”. O primeiro foi o gosto em comum por rockabilly, uma das inúmeras vertentes musicais que compunham o cenário da Osvaldo Aranha nos idos de 1990.

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– Eu tocava em uma banda de rockabilly chamada Os Nelson, enquanto o Roberto, o Móica e o Paulo James organizavam umas festas do gênero. Mas a gente nem se conhecia – lembra Malenotti. – Tanto que, numa delas, no Instituto de Artes da UFRGS, não me deixaram entrar porque eu estava de bermuda e chinelo. Um puta calor e queriam que eu usasse jaqueta de couro (risos).

Mais adiante e mais enturmado, Malenotti conseguiu ser convidado para outra festa do pessoal rockabilly – desta vez, na noite de Natal. Chegou lá devidamente paramentado e com a tal fita VHS de clipes de uma das maiores influências daquela gurizada, a referida banda norte-americana Stray Cats. Segundo o vocalista, por volta das 3h, um palco foi montado, e ele assumiu os vocais, mandando clássicos do gênero, como Come on Everybody e Summertime Blues, ambas do mestre Eddie Cochran.

– Só me lembro deles me convidando para ensaiar no dia seguinte. Peguei dois ônibus até a Zona Sul e o resto daí é história – comenta Malenotti.

História que se tornou oficial no decorrer do ano seguinte, quando a turma escolheu o nome da banda (“inspirado em uma seção de rockabilly de um fanzine de Curitiba”) e montou o famigerado Bafo de Bira – mistura de estúdio e salão de festas que abrigaria a cena do rock porto-alegrense dos anos 1990. Faziam parte desse cenário bandas como Tequila Baby, Ultramen e Comunidade Nin-Jitsu, que, apesar de beberem em fontes específicas e trabalharem sonoridades diferentes, se uniam na estética de chalaça.

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Mas a veia rockabilly, de início estranha, acabou sendo um diferencial para os Acústicos & Valvulados. Chamaram a atenção do então VJ da MTV Luiz Thunderbird, que levou o quarteto para a TV, e a exposição deu gás para que a banda participasse da coletânea Chá das Quatro (1994) e lançasse seu primeiro disco, God Bless Your Ass (1996), que traz a regravação de Minha Fama de Mau, de Roberto e Erasmo Carlos – duas das maiores referências do grupo.

– Os Acústicos surgiram em um período de entressafra do rock no Rio Grande do Sul, em que as bandas ainda estavam em busca de identidade – analisa Porã, jornalista e comunicador da rádio Atlântida que acompanhou a cena dos anos 1990 em Porto Alegre. – Tanto que eles foram encontrar o próprio caminho a partir do segundo disco, quando começaram a cantar em português e gravaram seus maiores sucessos, como Até a Hora de Parar, Fim de Tarde com Você e Milésima Canção de Amor.

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De fato, na virada dos anos 90 para os 2000, o rockabilly foi cedendo espaço para novas influências, franqueando a entrada dos A&V em novos universos – e possibilitando, por exemplo, abrir shows de Echo & The Bunnymen e Strokes no Brasil e dividir palcos com Paralamas, Skank e Titãs em festivais por todo o país.

– Reparamos que o público respondia bem mais quando cantávamos em português, então foi inevitável – conta Malenotti.

Nos anos 2010, sentindo a quebra do mercado fonográfico, a banda decidiu se autogerir, controlando da distribuição de discos à venda de shows. Desde então, foram dois álbuns de estúdio – Grande Presença (2010) e Meio Doido e Vagabundo (2014) – e a coletânea Diamantes Verdadeiros (2014), além de uma agenda de cerca de 80 apresentações por ano com uma formação que conta, além de Malenotti, Móica e Paulo James, com Daniel Mossmann (guitarra), Diego Lopes (baixo) e Luciano Leães (teclados).

Em 2016, o bonde da chalaça não deve diminuir o ritmo. Além do lançamento em vinil 180 gramas de Meio Doido... e Diamantes..., os A&V estão lançando um DVD com os clipes das músicas de Grande Presença, preparando um novo disco de inéditas e um livro com histórias da banda.

– Estamos no momento de aproveitar o que construímos nesses anos e de ter nos tornado referência para quem faz e gosta de rock no Brasil – avalia Malenotti. – É um alicerce seguro para nos mantermos na estrada por um bom tempo ainda.


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