Coluna da Maga
Magali Moraes: garranchos sem fim
O que aconteceu com a minha letra? Era tão bonitinha e feminina. Teve uma época em que eu desenhava bolinha em vez de pingo no "i", olha que amor! Precisava ver o capricho dos meus cadernos no colégio. Eu escrevia com canetas de cores diferentes, sublinhava parágrafos importantes, anotava tudo. E o mais incrível: dava pra ler e entender.
Hoje a coisa tá feia. Cada vez que escrevo à mão, eu não me reconheço naquela letra torta. As primeiras palavras saem razoavelmente legíveis, depois parece que tomei um choque enquanto escrevia. É uma frase, mas podia ser um eletrocardiograma cheio de traços com pontas pra cima e pra baixo. Às vezes, nem eu sei o que escrevi. Encontro um papel dentro da bolsa e o que vejo? Consoantes assustadoras, vogais monstrengas, acentos ameaçadores. Até lista de supermercado vira um enigma. Já preenchi cheques que não sei como o banco não me chamou pra traduzir.
Dra. Maga
Acho que fiquei com letra de médico, sem nunca ter estudado medicina. Não, não. Essa síndrome se chama computador, e não tem cura. Faz tempo que o teclado virou uma extensão dos meus dedos. E tem o celular! Digito rápido, penso rápido, apago rápido e a letra sai linda. Posso escolher o tipo de fonte, o tamanho, o espaçamento. Já contei que nunca aprendi a digitar usando todos os dedos? No bom português, eu cato milho. Meus indicadores são os responsáveis por tudo que você lê aqui. O problema é quando o indicador direito e o polegar seguram uma caneta.
A letra diz tudo sobre a personalidade, pelo menos é o que garante a Grafologia. Eu chamaria de Desesperologia. Imagina especialistas analisando meus garranchos e acabando com minha autoestima? Eles iriam entender tudo errado, sou gente boa, o computador é o culpado. A partir de hoje, vou usar apenas post-it pra escrever à mão, os pequeninhos onde só cabem duas palavras. Assim eu me garanto na caligrafia.