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Beyoncé assume discurso político em "Lemonade" e dá novo significado à sua carreira

Falando sobre negritude e feminismo, cantora lançou novo álbum-visual

27/04/2016 - 18h26min

Atualizada em: 27/04/2016 - 19h18min


Vanessa Scalei
Vanessa Scalei
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Logo no início do vídeo, cantora aparece quebrando carros pelas ruas de Nova Orleans

Com uma ode ao empoderamento da mulher negra, Beyoncé surpreendeu ao lançar, no último sábado, Lemonade, seu novo álbum-visual-conceitual. Desta vez, não é a forma que impressiona – a própria cantora já havia produzido outros dois trabalhos aliando música e imagens. Agora, a temática é a responsável por uma verdadeira virada na carreira deste ícone da cultura pop atual.

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Cantando sobre amor e infidelidade, Beyoncé avança para falar sobre condição feminina, negritude e violência. Lemonade é um disco político, colorido por sons que ultrapassam o tradicional R&B e passeiam por rock, reggae e country.

– É um álbum bem situado, com uma clara ideia de consciência política de uma artista que não tinha, até então, esse discurso. A dor privada dela (a suposta traição do marido, Jay-Z) e a opressão dentro do casamento são usadas também para pensar questões de gênero e de raça – explica Thiago Soares, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com trabalhos sobre cultura pop e entretenimento.

Para o pesquisador, Beyoncé, que sempre baseou seu trabalho em uma figura contraditória – falando sobre emancipação feminina ao mesmo tempo em que evocava valores tradicionais, como casamento e família –, agora dá uma nova direção ao seu discurso e à sua carreira.

– Em Lemonade, a artista aborda novas questões. Mesmo na cultura americana, a negritude sempre foi vendida de forma domesticada. Agora, ela canta sobre a condição da mulher negra, assumindo essa posição – analisa Soares.

O posicionamento de Beyoncé ao assumir sua negritude e falar disso sinaliza não só uma inovação pessoal, mas a transgressão de um padrão: o de "embranquecimento das cantoras pop".

– Quando uma artista que atinge milhões de pessoas como Beyoncé fala sobre a questão da mulher negra e traz referências históricas como Malcolm X, é muito importante pois coloca em evidência o debate sobre as questões raciais. É claro que sabemos que está inserida em uma lógica capitalista, mas isso não invalida seu discurso. Por muito tempo, a mídia e os fãs a trataram como se ela não fosse negra. Essa afirmação dela como negra e o enfoque no tema fazem com que as pessoas reflitam – afirma Djamila Ribeiro, feminista e mestre em Filosofia Política.

Já no nome do álbum Beyoncé deixa clara essa marca. Lemonade é uma referência a um hábito dos escravos americanos, que bebiam limonada acreditando que embranqueceria a pele.

Para além da temática, a cantora ainda protagoniza uma nova lógica no consumo da música pop. Depois de surpreender com Beyoncé, álbum lançado de surpresa em 2013, Lemonade agora é o grande artefato do Tidal, plataforma criada por Jay-Z, na disputa pelo mercado de streaming. Desta vez, o disco, com as 12 faixas escritas e coproduzidas por ela, teve um agenciamento, com a estreia sendo atrelada ao especial de mesmo nome exibido pela HBO. Por ser um álbum-visual, não basta apenas ouvi-lo; é necessário assisti-lo para entender o seu propósito. E o Tidal, onde foi disponibilizado com exclusividade nas primeiras 48 horas, é um dos poucos serviços que também suportam vídeos.

SERVIÇO
Lemonade
De Beyoncé
Lançamento, Pop, 12 faixas + Lemonade Film
Disponível na plataforma Tidal (assinatura mensal R$ 14,90) e no iTunes (US$ 17,99)



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