Depois da batalha
Perto do desfecho, "Game of thrones" está cada vez melhor
Escolhas coerentes dão consistência à dramaturgia da série, uma versão mais adulta das superproduções fantásticas recentes de Hollywood
Depois do catártico nono episódio, há chances de o décimo e último capítulo da sexta temporada de Game of thrones ser protocolar – parece que tudo o que podia acontecer imediatamente foi entregue de uma única vez ao público pelos autores desta que é a mais grandiosa das séries de televisão. Será mesmo?
A verdade é que, enquanto os fãs mais ansiosos reclamavam de alguma monotonia, Got deu passos fundamentais para fechar todas as pontas que vinham sendo abertas desde 2011, indicando que seu grande arco dramático
está próximo de ser completado.
É claro que o fim não virá às 22h deste domingo, quando a HBO exibirá os últimos 60 minutos de Got em 2016. O primeiro ano em que a trama da TV tomou a frente da dos livros de Goerge R.R. Martin (o sexto volume, correspondente à sexta temporada da TV, segue inédito nas livrarias, assim como as suas sequências) apenas lançou as bases para o que será o longo e aguardado inverno. Vale lembrar: este décimo capítulo é intitulado The winds of winter – ou "os ventos do inverno". Quando 2017 chegar, tudo pode ser ainda mais impressionante – graças à habilidade de quem criou e roteirizou a série, ou seja, David Benioff, D.B. Weiss e o próprio Martin.
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A "batalha dos bastardos" vista no capítulo anterior (se não viu, pare de ler que aí vem spoiler) foi brilhantemente coreografada – como poucas outras produções audiovisuais já vistas. O requinte visual é um trunfo de Got – já reparou como a fotografia quente das sequências em Dorne muda para os tons gélidos do Norte sem que a harmonia estética se perca? E, de fato, certas construções na medida para chocar ou emocionar o espectador (Sansa só apareceu na citada batalha, como um Deus ex-machina, depois que se pudesse explorar todo o suspense possível) dão a impressão de que se trata de mais uma produção fantástica infantiloide como aquelas nas quais Hollywood se especializou. Não é isso: Got tem muito mais a oferecer.
Enquanto as fantasias aproximam a série do imaginário da Idade Média (transformando em realidade o que era sonho à época), a ressurreição de Jon Snow e sua trajetória de figura messiânica a unir inimigos em torno do bem comum lembram Jesus Cristo. É como se Got sintetizasse, em si, elementos que ao longo dos séculos foram moldando o homem contemporâneo. É pretensioso, mas a complexidade com que se lida com os instintos e as motivações mais íntimas dos personagens dá estofo à trama. Trata-se de uma versão melhorada de todas as superproduções recentes do gênero, mais rica em seus simbolismos, mais universal e, sobretudo, mais adulta.
Daenerys enfim atravessará o mar para chegar a Westeros? Melisandre será punida? Arya finalmente encontrará Sansa e Jon Snow? E Lord Baelish, o que exigiu para intervir na batalha? Talvez mais importante do que isso: a religião se sobrepujará ou perderá espaço na luta pelo poder em King's Landing? Got abriu muitos flancos, estruturando sua narrativa a partir da busca por respostas a perguntas como essas. Agora, as questões em aberto parecem convergir. Ficou claro que é questão de tempo, pouco tempo, para que as soluções sejam apresentadas – e se conclua, ao que tudo indica de maneira inteligente e coerente, uma das mais ricas construções da dramaturgia recente.
GAME OF THRONES
Décimo e último capítulo da sexta temporada.
Domingo, às 22h.
Na HBO.
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