Na adolescência, Leandro Batista Lima morava na Restinga, Zona Sul da Capital, e já era apaixonado por música, mas quase não tinha contato com instrumentos. Até que um de seus tios deixou um violão em sua casa.
— Acho que ele esqueceu. Vi que o violão estava só com três cordas, mas resolvi arriscar, adorava música. Comprei uma daquelas revistinhas que trazem as letras e melodias das canções e fiquei ensaiando. A primeira que tentei foi Lanterna dos Afogados, dos Paralamas, de quem sou fã — relembra Leandro, que utiliza o nome artístico Le Batilli, 30 anos, e mora na Cavalhada, atualmente.
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O tempo passou, Le foi pegando gosto pela coisa e montou duas bandas de rock na Restinga. A primeira, amadora, tocava em colégios do bairro. Já a segunda teve mais destaque, fazendo até shows em festivais do gênero na Capital. Porém, criado em uma comunidade de efervescência de ritmos, o artista queria algo diferente. Foi aí que decidiu migrar para a carreira solo, sem um gênero único.
— Antes, eu tinha uma pegada Pearl Jam. Depois, passei a misturar tudo: pagode, rock, baião. Se bobear, até funk, eu farei (risos) — afirma o músico, que completa:
— Não tenho pudor, toco o que gosto. Sempre fui fã do Pagode do Dorinho, por exemplo. Então, decidi fazer essa mistura, algo diferente.
Mudança
Há cerca de cinco anos, porém, a vida de Le mudou. Ao descobrir um linfoma intramedular (tipo de tumor na coluna), ele começou a perder os movimentos das pernas. Hoje, é cadeirante.
— Ao começar a mexer na medula, para procedimentos, isso foi acontecendo. E vou te dizer, foi complicado no começo, sempre fiz esportes, sou faixa vermelha de tae-kwon-do — diz.
Porém, com superação e força de vontade, ele passou a ver as coisas com outros olhos:
— Depois disso, fiquei mais contemplativo com tudo, sabe? Agora, presto a atenção em tudo, nas coisas mais simples. E passei a ter mais tempo para a música.
Em 2017, Le já lançou o primeiro disco de sua carreira solo, o excelente Retalhos, que tem faixas como Em Mim e Serão Meus os Teus Filhos.
Ótima fase

Para completar a boa fase, foi selecionado para participar do Festival Rock Gaúcho, no Araújo Vianna, em setembro. Organizador do evento, Nei Van Soria foi um dos “padrinhos” de Le.
— Ele descobriu meu som pela internet. Disse para me inscrever, que eu teria boas chances. Fiquei surpreso, cara. Imagina: um ídolo conhecer teu trabalho? — relembra Le, que conheceu no festival nomes como Humberto Gessinger e Duca Leindecker:
— Humberto foi gente boa, disse que curtiu meu som. Bah, felicidade demais! — comemora Le, que deve lançar outro disco em 2018.
Pitaco:
Paulista, do grupo Samba Tri, fala sobre o som de Le:
— A voz dele me fez lembrar, por um instante, uma referência marcante do Rio Grande do Sul, Humberto Gessinger. Gostei demais. Som inovador, a batida da bateria é legal – afirma o sambista, que complementa:
— Essa mistura que ele faz, de samba e de pop, demonstra que está tentando algo diferente. Para isso, não basta só talento, tem que ter estudo e dedicação.
Participe da seção!
— Para participar, mande um pequeno histórico da sua banda, dupla ou do seu trabalho solo, músicas e vídeos e um telefone de contato para jose.barros@diariogaucho.com.br.
— Para falar com Lê, ligue para 9855-36167.
— No site diariogaucho.com.br/retratosdafama, confira a performance do artista.