Fé e música
"Depressão existe, sim", diz padre Marcelo, recuperado da doença
Religioso, que lança DVD após três anos de hiato, afirma que superou o mal com muita oração, exercícios físicos e com a música.
Aos 50 anos, completados em 2017, padre Marcelo Rossi mostrou que nem todo o sucesso, os milhões de livros e discos vendidos, a admiração de multidões o livraram de um mal dos mais terrenos, e modernos: a depressão. Porém, com a força de quem passa mensagem positiva para milhões de fiéis, com muita oração e exercício físico, o religioso garante ter superado os piores momentos, voltado ao seu peso normal e retomou o que faz de melhor: se apresentar para centenas de pessoas, levando boas mensagens e vibrações.
E é isso que ele faz no seu mais recente lançamento, o DVD Imaculada, gravado no Santuário Mãe de Deus. Em entrevista exclusiva, ele relembra momentos complicados e revela como os superou.
Uma celebração especial
O álbum Imaculada (R$ 25, preço médio, o CD e R$ 30, o DVD), foi gravado em agosto deste ano, no Santuário Mãe de Deus, em São Paulo, em celebração aos 300 anos da aparição da Imagem de Aparecida - ela foi encontrada por pescadores em 1717 e acompanha o Brasil desde que o país era colônia de Portugal.
O DVD reúne algumas canções inéditas de padre Marcelo, 50 anos, como Acaso Não Sabeis e Chuva de Graça e alguns sucessos dos 20 anos de carreira do religioso, como Anjos de Deus e Erguei as Mãos e quebra um jejum de três anos sem lançamentos musicais - o último havia sido o CD O Tempo de Deus, em 2014.
No período, lançou o livro Philia, em 2015, (Editora Globo, R$ 20), que relata a cura de sua depressão, com exemplos práticos e orações, ressaltando a importância do amor para superar males contemporâneos. Já o mais recente livro, Ruah (2016, Editora Globo, R$ 30), no qual ele se propõe a quebrar os paradigmas de que gordura é saúde e magreza é doença, por meio de exemplos de alimentação saudável.
Susto e realidade
O novo disco do paulista tem 18 faixas na versão em DVD e 14 no CD, e conta, ainda, com making of e missa comandada pelo sacerdote. Com produção de Guto Graça Melo, culturado nome do meio musical, o álbum fez com que o santuário se transformasse em um palco cheio de imagens católicas e teve uma banda que acompanhou o padre, deixando o show com ares modernos. Por ironia do destino, toda a estrutura usada para o espetáculo fez com que o padre acabasse caindo no palco, enquanto cantava Sonhos de Deus, faixa de 2014.
— Quando eu vi, não acreditei na estrutura. Tinham espelhos e contra a luz, não dava para enxergar. Eu tenho o pé tamanho 47 e tinha um trilho do tamanho exato do meu pé. Então, no início, eu estava com medo. Aí, eu pisei em falso, cai e me liberei. O que está no DVD, incluindo a queda, mostra o que eu sou — afirma Marcelo.
De padre para padre
Mesmo com a espiritualidade elevada, padre Marcelo não é o único sacerdote famoso a sofrer com males tão terrenos. Companheiro de batina, e tão famoso quanto, principalmente por conta de suas postagens bem-humoradas e por ser considerado "padre-galã", Fábio de Melo confessou, em agosto, ao Fantástico, que foi acometido de síndrome do pânico. No Instagram, o religioso admitiu que ficou uma semana trancado em casa, com sensação de morte e tristeza profunda:
— Pensei: "Não tenho mais coragem de enfrentar as pessoas"— declarou Fábio, na época.
Fábio de Melo chegou a se esconder embaixo da cama por causa do medo, mas agora está medicado e cumprindo seus compromissos. Próximo de Fábio, Marcelo mostra preocupação com o amigo e conta que aconselhou o amigo a se afastar da mídia.
— Ele também me ajudou, me aconselhou a entrar nas redes sociais, onde eu posso ter um diálogo melhor com os jovens, que é um público que eu quero atingir. Essa geração está muito sem propósito, não sabe o que está fazendo na Terra. São coisas básicas que o ser humano está perdendo — afirma Marcelo.
Voltando algumas casas
Para entender os problemas que o padre cita nesta entrevista, é preciso voltar alguns anos no tempo, quatro, mais precisamente. Em 2013, o religioso sofreu de depressão e anorexia, uma série de problemas decorrentes da fama, segundo ele.
— Passei minha pior fase (em 2013). De 80 e poucos quilos, cheguei a uns 130. Depois, comecei a perder, perder, fiz uma dieta maluca, comendo alface e hambúrguer. Aí, tomei um susto. Fui ficando a cada dia mais magro. Mas não me via magro — afirmou o padre, em 2014, em entrevista ao Diário Gaúcho, por conta do lançamento do disco O Tempo de Deus.
Na época, como agora, ele afirmava que, para superar a depressão, o mal do milênio, segundo suas palavras, amparou-se na música, nas orações e nos exercícios físicos, e negou a suspeita de fãs, de que o emagrecimento tenha acontecido por alguma doença.
"Eu estava vivenciando a minha libertação da depressão que me atingiu"
Diário Gaúcho — Por que esse hiato tão grande entre o último DVD e este?
Padre Marcelo Rossi — Eu estava vivenciando a minha libertação da depressão que me atingiu. Passei pela depressão durante sete meses e 22 dias, e me libertei no primeiro dia de outubro de 2013 (entenda o caso ao lado). Esse DVD foi uma excelência mística e sobrenatural. Eu tive uma segunda chance, um encontro com Cristo por meio da música. Percorri muitas cidades brasileiras com o meu livro (Philia, Editora Globo, R$ 20), que relata minha cura da depressão.
Diário — Por que o senhor trocou o horário de seu programa (Momento de Fé) na Rádio Globo (antes, ia ao ar das 9h às 10h da manhã)? Agora, vai da meia-noite até a 1h, de segunda a sábado.
Padre Marcelo — Durante a minha depressão, eu me acomodei. Agora, quero chegar no público jovem. Quando propus a mudança, me disseram: "Padre, você é louco". essa era a pior hora dos problemas que passei. Eu ligava a tevê e não tinha nada para ver. Eu fiz uma promessa: "Um dia, eu vou fazer um programa levando Deus para as pessoas". Sou eu, a palavra de Deus e meu violão E você tem que ver, (a audiência) está bombando.
Diário — De que maneira o senhor acredita que chegou a esta cura da depressão?
Padre Marcelo — Conversando com as pessoas, elas me diziam coisas ótimas, cantavam para mim. Foi um grande processo de terapia. Venci a depressão por meio da fé.
Diário — O senhor sempre destacou a importância da prática de exercícios físicos na vida (o religioso se formou em Educação Física, em 1989). Acha que eles o ajudaram a sair da depressão?
Padre Marcelo — Vou lhe dizer uma coisa: a sensação de prazer que a endorfina proporciona, de prazer, você só consegue comendo chocolate, por exemplo. Mas, como o chocolate tem alguns problemas, como a gordura que está presente nele, o segredo é o exercício cardiovascular. Faço, ao menos, 60 minutos por dia. E não tomo mais nenhum remédio.
Diário — Para quem olha o senhor de fora, animando centenas de pessoas em missa, passando mensagens positivas, é curioso saber que caiu em depressão..
Padre Marcelo — Tive que me libertar de uma coisa que eu achava que não existia. Aprendi que depressão existe, sim. Durante muitos anos, eu ajudei as pessoas a se libertarem dela, e de outras angústicas. E eu fui cair nela. Mas encaro tudo isso como uma segunda chance.
Diário — Como o senhor enxerga a fé nos dias de hoje? Aliás, como o senhor enxerga os dias de hoje
Padre Marcelo — Acredito que as pessoas estejam vivendo um mundo descartável, um mundo de fast food. Sabe aquela coisa, as pessoas não comem (a comida), elas engolem? É isso que eu vejo hoje.
Diário — E a lição que fica de tudo isso?
Padre Marcelo — Digo isso para várias pessoas que me perguntam. Se cuide, a longevidade passa muito pelos cuidados que você tem consigo mesmo. Tudo depende de sua qualidade de vida. E eu estou sendo previdente com a minha vida.
O padre em números e momentos especiais
—Marcelo Mendonça Rossi nasceu em 20 de maio de 1967, em São Paulo.
— Em 1990, inspirado por uma minissérie sobre a vida do Papa João Paulo II (1920-2005), decidiu dedicar-se ao sacerdócio. Formou-se em duas faculdades além da anterior que havia feito, Educação Física: Filosofia e Teologia.
— Foi ordenado padre em 1994.
— Estourou em 1997, quando lançou o CD Canções para Louvar ao Senhor, com 3,5 milhões de cópias vendidas.
— Em 2000, reuniu uma multidão, calculada, na época, em mais de dois milhões de pessoas, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, em uma grande missa, batizada de Missa da Paz.
— Em 2003, estreou no cinema no papel do Anjo Gabriel, no filme Maria, Mãe do Filho de Deus, visto por mais de 2 milhões de pessoas, com nomes como Luigi Baricelli e Giovanna Antonelli. No ano seguinte, estrelou Irmãos de Fé, no papel de um padre que catequiza um menor infrator da Febem após lhe entregar uma Bíblia.
— Todos os domingos, às 6h, apresenta na Rede Globo o programa Santa Missa em seu Lar _ no Rio Grande do Sul, o programa não é exibido.
— Em 2010, lançou seu primeiro livro, Ágape. No mesmo ano, recebeu do Papa Bento XVI, no Vaticano, o prêmio Van Thuan 2010 - Solidariedade e Desenvolvimento (Evangelizador Moderno 2010).
— Já lançou 12 CDs e 5 DVDs, que já venderam mais de 12 milhões de cópias.
— Entre os projetos futuros, está a produção do filme Médico de Homens e Almas, uma biografia do apóstolo São Lucas, e a inauguração do Santuário Marcelo Rossi, em São Paulo, com capacidade para mais de 100 mil pessoas.