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Conselho Federal de Psicologia critica abordagem de pedofilia em "O Outro Lado do Paraíso"

Em nota, o órgão fala que a novela "presta um desserviço à população"

06/02/2018 - 11h52min

Atualizada em: 06/02/2018 - 17h09min


Raquel Cunha / TV Globo

A trama de Laura (Bella Piero) em O Outro Lado do Paraíso já rendia polêmicas antes mesmo de começar a ser desvendada. Lá no início da novela, o autor Walcyr Carrasco foi criticado por abordar a pedofilia no horário nobre, mas, na época, ele garantiu que não envolveria a pequena Luisa Bastos, intérprete de Laura na primeira fase. A parte difícil ficará mesmo com Bella Piero, 22 anos, que nos próximos capítulos revelará que na infância era abusada pelo padrasto, Vinícius (Flávio Tolezani).

Nas últimas semanas, Laura passou a sofrer com a repulsa que sente ao ato sexual. Recém-casada com Rafael (Igor Angelkorte), a menina chorou muito ao perder a virgindade na noite de núpcias. Depois disso, se recusou a voltar a fazer sexo com o marido. Há ainda o trauma que ela tem de tartarugas.

A verdade virá à tona quando Adriana (Julia Dalavia), por meio de hipnose, fizer Laura se lembrar dos abusos sofridos quando era criança. Em conversa com Clara (Bianca Bin), Adriana explicou que fez um curso de coach, técnica  em que o profissional ajuda o cliente a chegar a determinados pontos escondidos de sua memória. 

Toda essa abordagem de pedofilia, abuso, aversão ao sexo e outras questões comportamentais envolvendo a personagem Laura chamaram a atenção do Conselho Federal de Psicologia. Por meio de uma nota em seu site oficial, o órgão repudiou a forma como Walcyr Carrasco tem mostrado temas tão delicados, e acusou a Rede Globo de prestar um "desserviço à população".

Confira a nota, na íntegra:

"Mesmo compreendendo o caráter de uma obra de ficção, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) entende que a telenovela O Outro Lado do Paraíso, por se tratar de uma obra capaz de formar opinião, presta um desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos um tema tão grave como o sofrimento psíquico de personagem cuja origem é o abuso sexual sofrido na infância.
Quanto ao argumento de que se trata 'apenas' de ficção, lembramos que são as novelas da Rede Globo que, como estratégia de elevar a audiência, frequentemente buscam embaralhar as barreiras do ficcional e do real, entre outras formas, introduzindo nas tramas fatos e temas candentes da sociedade.
É consenso no Brasil de que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que tem a habilitação adequada. Isso é amplamente reconhecido por diversas políticas públicas, entre elas o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que empregam essas profissionais em larga escala. Mesmo na saúde suplementar, o exercício do cuidado psicológico é reconhecido e regulamentado. Há normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que obrigam os planos de saúde a oferecerem atendimento por profissionais da Psicologia.
Somos uma profissão regulamentada pela Lei 4.119, de 27 de agosto de 1962, os cursos de Psicologia são aprovados e fiscalizados pelo Ministério da Educação e o Ministério da Saúde reconhece a Psicologia como uma profissão da saúde. As mais prestigiadas universidades públicas e privadas oferecem formação em Psicologia e nossa ciência e profissão passam rotineiramente pelo escrutínio das pesquisas acadêmicas. Tudo isso confere segurança à sociedade de que se trata de uma ciência e profissão respaldadas ética e tecnicamente.
Saudamos como positiva a manifestação de diversos grupos e escolas de coaching, que, manifestando-se sobre o ocorrido, afirmaram compreender que os transtornos mentais devem ser cuidados por profissionais da saúde mental.
O CFP faz um alerta à sociedade para que não se deixe iludir. As pessoas devem buscar terapias adequadas conduzidas por profissionais habilitadas para os cuidados com a saúde, particularmente a saúde mental."
Conselho Federal de Psicologia



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