Música
"Dividimos Edson & Hudson antes desse DVD e depois", diz Hudson, ao falar de nova fase
Cantor lançar com o irmão novo disco, com participações de nomes como Luan Santana e Jorge & Mateus
Desde a infância, Edson & Hudson viram que suas vidas seriam de desafios, mas, também, de glórias. Após uma breve separação da dupla, que parou em 2009 e voltou em 2011 - os sertanejos mostram no novo trabalho, repleto de participações.
A grande riqueza nos encontros
No novo CD e DVD, Eu e Você de Novo (R$ 20, CD, R$ 30, DVD, preço médio, disponível nas plataformas digitais), Edson & Hudson trazem 25 faixas, entre nove inéditas, como a canção-título e Trair É Bom, Mas É Pecado, e sucessos, como Azul, Festa Louca e Eu e Você de Novo. Gravado em Goiânia, em maio de 2017, traz duetos dos irmãos com Jorge & Mateus, em Esqueça que Eu te Amo e Deixa Eu te Amar, além de outras parcerias: com Luan Santana em Foi Deus, um dos grandes hits do álbum, e com Lauana Prado, em Quando me Beija.
Com 22 anos de estrada, a dupla sempre chamou a atenção pela mistura de rock, country e sertanejo, mescla presente no álbum. Com mais bagagem do que os sertanejos convidados para o trabalho, os irmãos comentam que o público acabou se mesclando.
— É engraçado, parece que estamos em uma transição de público. Pega um moleque de 19 anos que ouvia Azul há uns 10 anos, ou pouco mais, ele era quase uma criança. Hoje, ele acaba matando a saudade. Essa canção traz nostalgia, o que é muito bom. E, claro, temos o fã que é fã desde sempre — comenta Edson, que completa ao falar sobre o hit:
— Acho que (Azul) é o nosso É o Amor (sucesso responsável pelo estouro da dupla Zezé Di Camargo & Luciano).
Infância cheia de perrengues no circo
Nascidos e criados em família circense, os irmãos Cadorini passaram por perrengues na infância. Huelinton Cadorini Silva, o Edson, 43 anos, de São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, e Udson Cadorini Silva, o Hudson, 45, de Cássia dos Coqueiros, também do interior paulista, chegaram a morar no circo em que o pai, o palhaço e acrobata Beijinho, atuava.
Aos poucos, Hudson tinha cerca de dois anos, e Edson, poucos meses. Da época, sobraram recordações como as fotos que ilustram esse texto, pois uma enchente que atingiu a região levou embora quase tudo o que tinham.
A mãe, Helena, que era guitarrista e atriz circense, faleceu. E os meninos iam mudando de cidade para cidade, morando nos circos em que o pai atuava. Por conta do apoio do pai, Jerônimo, que percebeu o carisma e o talento dos filhos, os dois começaram a cantar. Edson com cerca de cinco anos, e Hudson, com sete. Inicialmente como Pep (Hudson) e Pupi (Edson), se apresentavam em praças, bares, rodeios, bailes e circos.
Em 1991, já como Edson & Hudson, passaram pelo show de calouros de Raul Gil, um dos primeiros palcos que chamaram a atenção, principalmente pelos riffs (progressão de acordes) da guitarra de Hudson, que viraram uma de suas marcas, aliás, pois não eram usuais na época.
Oficial
Em 1995, o primeiro disco foi batizado com o nome da dupla. Dois anos depois, surge um dos grandes hits, Festa Louca, que dava nome a outro álbum. Porém, foi em 2002, com o disco Acústico ao Vivo que veio o hit, que, até hoje, é marca deles: Azul.
Dali em diante, foi sucesso atrás de sucesso, como Galera Coração, Foi Deus e É Amor Demais. Em 2004, o disco O Chão Vai Tremer estourou hits como Porta-retrato. E o lançamento ainda durante a internação de Hudson (por dependência química) aconteceu em 2014, com o disco De Edson para Hudson. Ao longo da carreira, foram mais de 10 milhões de cópias vendidas, 21 CDs e seis DVDs.
Em 2009, a separação com ares mistério
A trajetória dos manos não foi das mais fáceis, mesmo enquanto dupla conhecida no país. Em 2009, em uma situação que nunca foi totalmente esclarecida, eles se separaram. Curiosamente, as dúvidas sobre o futuro da dupla começaram bem antes, em 2002. Foi quando eles lançaram o Acústico ao Vivo, que estourou o hit Azul.
— Quando a gente lançou esse disco, estávamos meio sem esperança, nem fomos direito ao estúdio. Comentamos: "Se não der certo esse disco, é porque a coisa tá feia demais da conta" — revelou Hudson em entrevista ao programa do Gugu, em 2017.
Em 2011, eles voltaram. Mas o período complicado estava recém começando.
Preso por dois dias
Em 2013, Hudson foi preso por porte ilegal de armas. Uma pistola e um revólver estavam no carro do sertanejo quando ele foi parado por uma blitz da Polícia Militar. Horas mais tarde, após ter pago fiança, uma denúncia anônima indicou à polícia de Limeira (SP) que havia mais armamento na residência de Hudson, em um condomínio da cidade. Dois dias depois, ele foi libertado.
Na época, em carta enviada à imprensa, disse ter sido ingênuo e irresponsável. Em entrevista ao Fantástico, pediu desculpa aos fãs e esclareceu:
— Não atiro em pessoas, tenho armas para coleção.
"Me sinto leve"
Em março de 2014, Hudson anunciou o seu afastamento dos palcos para se tratar de uma dependência química. Na época, ele passou sete meses internado em uma clínica em São Paulo, a pedido do pai, que percebeu que o filho estava sem controle.
Após a saída da clínica, o primeiro show da dupla foi em uma das principais casas sertanejas do país, o Villa Country, em São Paulo.
— Me tratei. Me sinto feliz na minha vida pessoal e na vida espiritual, principalmente, com Deus. Só Ele pode me julgar. Me sinto leve, recuperado, tudo está dando certo. Hoje, não bebo nem fumo — contou Hudson a Retratos da Fama.
Na entrevista, o sertanejo disse que o seu recanto hoje é a sua chácara, situada em um terreno de 50 mil metros quadrados, em Limeira, São Paulo, onde mora.
— Cuido das minhas galinhas, estou no meio da natureza, a minha casa é meu carregador de bateria, saio totalmente renovado. Sou meio caipira, apesar de gostar de rock (risos). Tô até puxando ferro, quero ficar forte como o Eduardo Costa (cantor sertanejo)! Gosto do contato com a natureza, crio meus filhos (ele tem cinco, sendo dois com a atual esposa, Thayra) ensinando a respeitar a natureza — afirma ele para, então, completar:
— Eu e o meu irmão só somos artistas no palco. Quando descemos, somos pessoas normais.
"Estou feliz com as Bênçãos de deus"
Durante cerca de 20 minutos, os irmãos conversaram com o Diário Gaúcho sobre o novo trabalho, a fase de paz que vivem e as provas de fogos por que passaram.
Na gravação do álbum, chamou a atenção a tua "beca" (no show, Hudson surge de terno preto, de colete e de gravata azul, diferente do que o meio sertanejo está acostumado a usar). É para marcar a nova fase?
Hudson — Claro! Eu sou mais despojado, mas vim de terno, bem alinhado, para dar esse choque mesmo, mostrar que está tudo novo, que estamos com energia. Nem uso muito terno, não! Foi para este projeto mesmo. Quando o Luan Santana me viu, disse: "Rapaz, 'cê' tá todo certinho e eu aqui, todo rasgado (risos)!". Dividimos Edson & Hudson antes desse DVD e depois. O álbum ficou ótimo, com uma roupagem bacana. Estou feliz com as bênçãos de Deus.
Vocês são de uma geração um pouco mais antiga do que a dos convidados. Como foi contar com eles no palco?
Hudson — Foi muito bacana, o Luan é um cara humilde, moleque gente boa. Quando fizemos o convite, ele fez questão de gravar uma música para nós (Foi Deus) e disse: "Seu Edson, eu quero gravar essa com vocês". Não tenho nem palavras para dizer o quanto o Luan foi gente boa com a gente! Nem tenho o que dizer de Jorge & Mateus, né?! E tem a Lauana Prado, que eu vou te dizer, anota aí: pode ser a próxima Marília Mendonça!
Vocês se separaram em 2009, voltaram em 2011, o Hudson passou por problemas em 2013 e 2014. Qual é a avaliação deste período todo?
Edson — Olha, me parece que a separação ecoou mais do que a volta. Já faz um tempão que voltamos. Sete anos, né? A própria imprensa fala muito disso, mas faz sete anos que voltamos, é bastante tempo. Às vezes, parece que esse DVD é a volta de Edson & Hudson...
Claro. Mas é inegável que, em 2011, as redes sociais não tinham a força que têm hoje. Nem surgiam duplas a todo momento. Depois, vieram os problemas com o Hudson, foi um longo período em que tiveram menos destaque. Isso confundiu os fãs, que não sabiam se a dupla estava ativa?
Edson — É uma boa avaliação, acho que foi culpa, também, da estratégia de lançamento por conta da nossa volta, lá em 2011. Nessa segunda fase, quando aconteceram os problemas com o Hudson, parece que as pessoas não tinham entendido que a gente já havia voltado. Agora, parece que estão absorvendo mais. Depois do estouro das redes sociais, vimos que tudo se inverte muito rápido, você vai do inferno ao céu em minutos. E o inverso também acontece.
O som de vocês é diferente de nomes que cantam temas como bebida e farra.
Edson — Nunca apelamos. Uma das coisas mais bonitas que temos é isso, não entramos em modismos. O arrocha era o ritmo do momento? Toda a sorte pro arrocha! O romantismo sempre impera sem apelar. Não foi à toa que Roberto Carlos ficou anos sem lançar nada e, quando lançou Esse Cara Sou Eu, teve a canção mais tocada por dois anos seguidos. Quando ouvir uma música que fiz, não quero ter vergonha dela.
Qual é a relação de vocês com a música gaúcha?
Edson — Tenho vários amigos aí, tem muito músico bom, somos fãs do Rio Grande do Sul! Gosto do Tchê Garotos, mas daquela fase antigona, do Gaúcho da Fronteira. Ah, e sou muito fã da Berenice Azambuja, ela é um espetáculo!