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Prejuízo para os motoristas

Ruas esburacadas geram serviço extra nas oficinas e borracharias de Porto Alegre

Reportagem percorreu estabelecimentos da Capital e ouviu de mecânicos e borracheiros: estado das ruas aumenta demanda

28/07/2018 - 08h00min


Jeniffer Gularte
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Na Rua Carlos Barbosa

A sequência de dias chuvosos transformou as ruas de Porto Alegre em um cenário lunar. Trafegar em vias esburacadas sem maltratar o veículo desafia os motoristas. Azar de quem tem que driblar os panelões no asfalto, vira trabalho extra para oficinas mecânicas e borracharias. 

Nesta semana, o Diário Gaúcho percorreu estabelecimentos nas zonas sul, leste e norte da Capital para verificar como o estado das vias reflete nos seus negócios. Seis confirmaram que o movimento de clientes aumentou devido à chuva e à buraqueira. 

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Quatro deles estão localizados na Zona Leste que, segundo o Centro da Divisão de Conservação de Vias Urbanas da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim), tem maior demanda por conserto de asfalto esburacado na cidade. A região inclui bairros como Lomba do Pinheiro, Glória, Cristal, Cruzeiro e Partenon.

Jeniffer Gularte / Agência RBS
Luiz Fernando tem mais trabalho após dias de chuva

Só uma borracharia na Rua Santana recebeu 200 pneus para consertar em três dias. Na percepção do borracheiro Luiz Fernando Cardoso, 44 anos, a chuva influencia diretamente a qualidade da via, o que gera mais trabalho para ele. O local funciona 24 horas por dia e, em vários momentos, tem fila de carros. 

Em épocas prolongadas de chuva, os profissionais chegam a atender 50 motoristas vítimas do problema em um dia. Sem chuva, cai para menos da metade. 

– O cliente chega nervoso, xingando a prefeitura – diz Luiz.

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Pai e filho
O mecânico Luiz Silva, 39 anos, e o filho Kevyn, 19 anos, quase não dão conta do serviço na oficina localizada no alto da Avenida Oscar Pereira, no bairro Cascata. 

Na quarta pela manhã, cinco carros estavam na fila de espera por conserto. Um deles, com a suspensão comprometida por ter passado sobre um buraco. 

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Rua Oswaldo Rolla tem calçamento aparente

– Dependendo do tamanho, o buraco destrói uma suspensão e faz o motorista perder o controle do carro. Tenho atendido até mais tarde para dar conta – diz Luiz.

Na terça-feira à noite, o taxista Alberto Altermann, 62 anos, caiu em um buraco na Avenida Carlos Barbosa, no bairro Medianeira. Com o impacto, a calota da roda caiu e o aro entortou. Prejuízo de R$ 100. Taxista há 35 anos na Capital, ele avalia que as ruas nunca estiveram tão malconservadas:

– Parece que houve um bombardeio no asfalto. De dia, até dá para desviar, mas, à noite, tu não enxerga o buraco. 

Jeniffer Gularte / Agência RBS
O taxista teve prejuízo de R$ 100

"Quanto mais chove..."
A borracharia da Avenida Bento Gonçalves onde trabalha Cesar Ribeiro, 56 anos, chega a receber 30 carros por dia com pneus arrebentados por buracos. 

– As pessoas se perguntam: “Quem vai pagar meu prejuízo?”.

Na Lomba do Pinheiro, o borracheiro Anildo Azevedo, 51 anos, recebeu, em uma manhã, oito motoristas pedindo socorro por problemas nas rodas: 

– Consegui atender só quatro, os outros precisavam trocar completamente o pneu, e não tenho estrutura para isto. 

Quem trafega pela Estrada João de Oliveira Remião não tem como fugir dos panelões, o que garante faturamento para Anildo.

– Quanto mais chove, mais dinheiro ganho – afirma. 

Jeniffer Gularte / Agência RBS
Anildo lucra mais em dias de chuva

Foco nos locais de maior circulação
Questionada, a Smim informou que, como choveu a semana inteira, não foi possível realizar os serviços tapa-buracos. A ações permanecem inviabilizadas enquanto a chuva continuar. A prefeitura informa que a prioridade é tapar os mais prejudiciais à fluidez e à segurança viária. 

A Smim também destaca que, desde 20 de abril, quando os trabalhos de tapa-buraco foram intensificados, a operação já passou em 332 ruas diferentes. Atualmente, atuam três equipes da prefeitura e três terceirizadas na operação. A população pode direcionar pedidos para o telefone 156.

Fernando Gomes / Agencia RBS
Bem na frente de uma borracharia, na Bento Gonçalves, um baita buraco

A água é inimiga?
Sim, principalmente do asfalto sem manutenção. Glicério Triches, coordenador do Laboratório de Pavimentação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que a água da chuva, ao cair sobre o asfalto trincado, dá início ao problema. Ao passar sobre a estrutura molhada, o veículo transfere pressão para a água. E a água, por sua vez, faz pressão na lateral das trincas, deslocando  partículas de asfalto e formando o buraco.


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