Entretenimento



Piquetchê

"Se tu não tens tua base, não consegue fazer nada", diz Renato Borghetti

Patrono dos Festejos Farroupilhas, ele se diz honrado pela lembrança e fala sobre a importância de cultivar as tradições

07/09/2018 - 12h00min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
Enviar E-mail

Trinta e quatro anos após o lançamento do emblemático disco Gaita-Ponto, primeiro álbum de música instrumental brasileira a ganhar o Disco de Ouro, por vender mais de 100 mil cópias, o dono desta obra, Renato Borghetti, é homenageado em um dos eventos mais simbólicos da cultura gaúcha. Em 2018, Borghetti, 55 anos, é o patrono dos Festejos Farroupilhas. 

José Augusto Barros / Agência RBS

Borghettinho, como é conhecido, ocupa o "cargo" oito anos depois do pai, outro ícone do tradicionalismo. Rodi Borghetti, 85 anos, foi patrono dos festejos em 2010. Um dos grandes momentos de Borghetti como patrono será no próximo dia 13, quando se apresentará no Palco Principal do Acampamento Farroupilha, ao lado dos alunos da Fábrica de Gaiteiros, menina dos olhos do músico. A iniciativa produz gaitas de oito baixos para uso dos futuros músicos _ atualmente, 500 guris e gurias têm aulas no projeto, que está presente em oito cidades gaúchas (Porto Alegre, Guaíba, Barra do Ribeiro, Tapes, Butiá, São Gabriel, Lagoa Vermelha e Bagé) e duas catarinenses (Lages e Blumenau). 

Porém, curiosamente, por conta da agenda internacional de Borghettinho, o pai Rodi, a partir do dia 16 deste mês, será convocado a assumir as funções do filho. De lá até o fim do mês, o gaiteiro faz uma pequena temporada de shows na Áustria, na Suíça e na Alemanha. Claro que em momentos importantes, como na chegada da Chama Crioula, nesta sexta-feira (sete), o patrono estará presente. Na solenidade de extinção da Chama, no dia 20, quem estará é Borghettão, como o pai do músico é conhecido. 

Confira a entrevista com Renato Borghetti, feita no Acampamento Farroupilha:

Qual o sentimento ao receber um convite para algo tão simbólico e caro aos gaúchos, como patrono dos Festejos Farroupilhas?

Uma grande alegria e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade. Me criei dentro do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Desde pequeno, frequento o 35 CTG (um dos mais tradicionais da Capital). Muito antes de eu tocar, eu dançava na Invernada Artística. Então, quase todo o meu círculo de amizades começou em função do CTG. E, com certeza, eu toco e faço música por causa dessa convivência. A maneira de demonstrar o amor que tenho pela cultura gaúcha, pela minha origem, pelo lugar onde eu nasci, é através da gaita, pois eu não canto (risos), eu não consigo expressar isso com letras. Então, essa é minha forma de expressar o quanto gosto do Rio Grande do Sul. 

Conheça momentos marcantes da trajetória de Renato Borghetti
Renato Borghetti e Yamandu Costa celebram 20 anos de parceria

Como será essa divisão de patronato, entre tu e teu pai?

Desde que recebi o convite do Nairo Callegaro (presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho) e do Victor Hugo (secretário estadual da Cultura, Turismo e Lazer), disse a eles que minha agenda previa esses shows. Mas eles ressaltaram que, mesmo assim, minha presença seria importante, principalmente no acendimento da Chama Crioula (que ocorreu em Iraí, dia 10 de agosto) e na chegada da Chama ao Acampamento. Depois, o pai assume e tudo estará em ótimas mãos, ele tem muita história. E eu disse que gostaria de estar presente, dentro das possibilidades. 

Diário de uma Estrela: Renato Borghetti

Tu és um cara conhecido fora do Brasil, faz turnês pela Europa há muitos anos. Qual o sentimento de ser lembrado para uma distinção tão importante, justamente no "quintal" da tua casa? 

Acho muito importante. Se tu não tens a tua base, o teu ponto de partida, não consegue fazer nada em lugar nenhum. Acho que é super importante saber a origem do teu trabalho, da tua música, a tua origem pessoal. Tivemos, há pouco tempo (em agosto), a perda do (tradicionalista que serviu de modelo para a Estátua do Laçador) Paixão Côrtes, que era um belíssimo exemplo disso que eu estou falando. Ele que queria saber de tudo, por que temos essa cultura, por que usamos essa vestimenta, por que temos a nossa culinária, a nossa música, nossas danças. E, mais do que isso, por que temos esse comportamento. Acho que o gaúcho tem muito disso, sabe valorizar e cultuar a nossa história e a nossa cultura. 

E é essa cultura daqui, tão presente no Acampamento Farroupilha enquanto um símbolo, que tu tentas levar para a Europa?

Exatamente, tento mostrar esse Rio Grande do Sul pois, quando se fala em música brasileira no Exterior, se fala em samba. E não vejo problema nisso, não é errado, o Brasil é o país do samba, acho o samba muito bonito. Só que temos que explicar que o Brasil é muito grande, tem dimensões continentais, aqui temos diversos tipos de música e de cultura. Na Europa, quando digo que, em alguns pontos da Região Sul, cai neve, é algo totalmente fora dos padrões para um país tropical. Da mesma maneira, nossa cultura tradicionalista é um contraponto a toda aquela coisa de samba, mulatas, Brasil, Carnaval. E isso não é uma queixa, pelo contrário. Gosto de mostrar esse outro lado do Brasil.

 Qual tua relação com o Acampamento?

Como porto-alegrense, minha ligação com o Acampamento sempre foi muito forte, venho desde a primeira edição (em 1981), embora não tenha o costume de acampar o mês inteiro aqui.








Últimas Notícias