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Relembre outras novelas de realismo fantástico criadas por Aguinaldo Silva

O autor retoma o gênero na atual trama das nove, "O Sétimo Guardião"

24/11/2018 - 09h30min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
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Brenno Carvalho / O Globo

Realismo ou fantasia? Nem uma coisa, nem outra. Realismo fantástico é o dom de dar verossimilhança a elementos mágicos. É fazer com que os personagens daquela história vejam com normalidade seres e acontecimentos  sobrenaturais. 

Aguinaldo Silva bebeu da fonte do mestre Dias Gomes e, a partir daí, levou o público a grandes voos no realismo  fantástico. Relembre algumas das fantasias que saíram da mente fértil do autor direto para a telinha. Aliás,  por falar em fonte, a atual novela das nove, O Sétimo Guardião, tem um aquífero capaz de operar milagres. Como diria dona Milu (Miriam Pires), em Tieta (1989): "Mistéééério!"

Olha o passarinho!

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Em Pedra sobre Pedra (1992), a pequena cidade de Resplendor nunca mais foi a mesma depois da chegada de Jorge Tadeu (Fábio Jr.). O fotógrafo esbanjava charme e seduzia boa parte das mulheres da região, com predileção pelas casadas. Com tantos maridos traídos, era de se esperar que o bonitão tivesse um fim trágico. Porém, mesmo depois de morto, Jorge Tadeu aparecia para suas amadas, desde que elas comessem uma certa flor mágica. 

A trama tinha ainda o enigmático Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), que sentia uma forte atração pela lua cheia, tanto que acaba sendo puxado por ela no final da história.

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No último capítulo, outra cena emblemática: o vilão Cândido Alegria (Armando Bógus – 1930-1993) vira uma estátua. De pedra, é claro.

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Nem tudo que reluz é ouro

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Um misterioso forasteiro chegou a Tubiacanga prometendo transformar ossos humanos em ouro. Em Fera Ferida (1994), Aguinaldo inseriu elementos lendários como a pedra filosofal, atribuída a Nicolas Flamel (1330-1418), alquimista real que buscava o "Elixir da Longa Vida". Não à toa, Nicolau Flamel (Edson Celulari) seguia os passos de seu xará ilustre, mas com o intuito de enganar os poderosos de Tubiacanga. Como castigo por suas armações, Flamel começa a transformar tudo o que toca em ouro, incluindo sua amada Linda Inês (Giulia Gam).

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Outra personagem peculiar era Camila (Claudia Ohana). A jovem passava meses, até mesmo anos, em um sono profundo, e só acordava ao sentir o cheiro de sua comida favorita: estrogonofe de bacalhau.


Do outro lado do mundo

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Greenville era uma cidade cheia de esquisitices, a começar pelo sotaque dos moradores, uma mistura de inglês com nordestino. "Well", em uma das divertidas situações de A Indomada (1997), o delegado Motinha (José de Abreu) cai em um buraco e vai parar no Japão. 

Emoção e fantasia permearam as últimas cenas de Emanuel (Selton Mello). Depois de sofrer com visões e sensações estranhas por toda a trama, ele se revela um anjo, com direito a asas enormes e uma aura de luz. Mesmo depois de subir aos céus, o personagem celestial voltava com frequência para visitar sua amada Grampola (Karla Muga), afinal, "era anjo, mas não era de ferro", como o danadinho mesmo disse.

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"I'll be back"

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O final da vilã Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque (Eva Wilma) também teve um quê de sobrenatural. Após tentar matar Helena (Adriana Esteves), a megera morre queimada em uma cabana. Seu espírito sobrevoa a cidade e ameaça: "I'll be back — Eu voltarei!"


Realista, mas não muito

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Depois de A Indomada, Aguinaldo investiu em tramas mais realistas, como Senhora do Destino (2004) e Duas Caras (2007). Até mesmo Império (2014) tinha tudo para ser uma novela comum, até que as circunstâncias chamaram o autor de volta ao mundo fantástico que o consagrou. Drica Moraes, intérprete da vilã Cora, precisou se afastar da trama por problemas de saúde. A solução encontrada foi trazer de volta Marjorie Estiano, a vilã da primeira fase. Cora rejuvenesceu, sem explicações reais ou fantásticas para o fenômeno. Talvez a megera tenha bebido algum elixir criado por Raimundo Flamel, ou, quem sabe, se banhou na fonte da juventude de Serro Azul. Pouco importa, mergulhamos de cabeça na fantasia, sem questionar.

O último capítulo também deixou no ar um pouco do velho Aguinaldo do realismo fantástico. José Alfredo (Alexandre Nero) morreu — duas vezes, para ser mais exata — e apareceu na janela de sua mansão, para surpresa do público. Fantasma? Mais um blefe do Comendador? Jamais saberemos...


Bem-vindos a Serro Azul

TV Globo / Reprodução

A cidadezinha fictícia que foi citada tantas vezes nas tramas anteriores de Aguinaldo é cenário de O Sétimo Guardião. Em um lugar longe de tudo, distante dos avanços tecnológicos, há segredos em cada esquina. O gato León circula pela trama, com a missão de guiar o novo guardião da fonte da juventude. Marilda (Letícia Spiller) conhece bem os efeitos da "aguinha milagrosa", tanto que nem o marido dela, Eurico (Dan Stulbach) entende o segredo de tanto vigor e beleza de sua primeira-dama. 

João Cotta / TV Globo/Divulgação

León está sempre por perto de Luz (Marina Ruy Barbosa), uma jovem que possui estranhos poderes, como prever o futuro através de seus sonhos. A ligação dela com o felino será explicada em breve. Eduardo Moscovis — que também é um gato — entra em cena para interpretar a forma humana de León. Ele já foi guardião-mor da fonte, mas quebrou uma importante regra e foi castigado. 

Volta às origens

Em entrevista recente ao Extra, Aguinaldo comentou esta volta ao realismo fantástico depois de duas décadas:

— O realismo das novelas está perdendo para a realidade. No mau sentido, a realidade ficou mais interessante. Não dá para competir com o que está acontecendo. O mundo está pior.

João Cotta / TV Globo/Divulgação

Se o mundo aqui fora está complicado, nada melhor do que mergulhar na fantasia de uma boa novela. O Sétimo Guardião não traz apenas a magia de outros tempos, é uma volta ao "jeito antigo" de se fazer novela, quando pouco importava se as cenas eram ou não condizentes com a realidade. É ficção, no melhor sentido da palavra. E, para quem já "viajou" por Tubiacanga, Greenville, Resplendor e outras terras fantásticas, Serro Azul é um ótimo destino.


O "pai" do realismo fantástico

Popularizado por Dias Gomes (1922-1999), o gênero surgiu na teledramaturgia em meados dos anos 70, com Saramandaia (1976), obra na qual o autor, literalmente, deu asas à imaginação. No universo criado por ele, homens voavam, mulheres pegavam fogo de tanto desejo ou explodiam de tanto comer. Tudo era possível e, bem contadas, as histórias ganhavam vida diante dos telespectadores.

Em 1985, em parceria com Aguinaldo Silva, Dias Gomes apostou em uma pitada de fantasia na novela Roque Santeiro, fenômeno que marcou a história da teledramaturgia. Na trama de Porcina (Regina Duarte), a "viúva que foi sem nunca ter sido", o grande mistério era a dupla identidade do professor Astromar (Rui Resende), que virava um lobisomem nas noites de lua cheia. "Mistérios da meia-noite que voam longe..." Aliás, o ser metade homem, metade lobo, já havia mostrado suas garras em Saramandaia, na figura sinistra de Aristóbulo (Ary Fontoura).


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