Cultura e Lazer



Aniversário de Porto Alegre

De Alma Gaudéria a Kleiton & Kledir: quatro artistas que cantaram Porto Alegre

Grupo gaudério é um dos mais recentes a homenagear a Capital, que completa 247 anos nesta terça (26), em música

26/03/2019 - 08h22min

Atualizada em: 26/03/2019 - 13h15min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
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Nesta terça-feira (26), Porto Alegre completa 247 anos. E uma das maiores declarações de amor de filhos da Capital, sejam eles "legítimos", ou de coração, é registrar sua paixão pela cidade em forma de música, em uma obra que se eterniza pelo tempo. Neste especial do Diário Gaúcho, entrevistamos quatro representantes de diferentes ritmos. São estrelas que exaltam toda a sua paixão pela cidade em letra e verso. E o mais interessante: um dos mais recentes a gravar uma canção para Porto Alegre, o grupo Alma Gaudéria emplacou a sua homenagem em 2019, 38 anos depois que Kleiton & Kledir gravaram Deu Pra Ti. Prova de que declarar o amor pela capital dos gaúchos nunca sai de moda. Aliás, virou tradição! 

De onde vêm para onde sempre voltam

Divulgação / Divulgação
Grupo, com o Rio Guaíba, um dos cartões postais da cidade, ao fundo

Uma das bandas de maior destaque no cenário local, nos últimos anos, Alma Gaudéria resolveu cantar todo o seu amor pela Capital gravando a faixa Voo a Porto Alegre. Composta pelo gaúcho Eliseu Soares, radicado há mais de 20 anos em Orlando, nos Estados Unidos, a canção "caiu como uma luva" para o grupo, como conta Fernando Espíndola, voz solo e violão do grupo. 

A ideia de gravar a homenagem surgiu quando Eliseu assistiu ao show do Alma em solo norte-americano. Ele não conteve o seu gauchismo e logo saiu revelando aos músicos que tinha composto a canção para a sua cidade natal. 

— Porto Alegre é a sede do Alma, a banda é daqui. Temos uma relação com toda a cidade, levamos o nome de Porto Alegre para onde vamos. Toda vez que saímos (para viagens e shows), temos vontade de voltar. Porto Alegre é nosso ponto de chegada e nosso ponto de partida — afirma o canoense Fernando, 40 anos, que mora na Capital há duas décadas.  

Na semana passada, a canção teve clipe lançado especialmente para a ocasião.

— Sempre levamos Porto Alegre para onde vamos, seja para São Paulo, seja para Brasília _ diz Fernando, para completar:

— A ideia de gravar a música surgiu para homenagear o nosso porto seguro. E foi composta por um cara que mora há anos fora, mas que nunca esquece de sua cidade. 

Testemunha e espelho da cidade

Desde os anos 80, quando fundou o grupo Engenheiros do Hawaii ao lado de Carlos Maltz e Augusto Licks, Humberto Gessinger canta Porto Alegre. Um dos grandes sucessos, Anoiteceu em Porto Alegre tem em sua letra diversas referências à Capital. Uma delas fala do Rio Guaíba e de coisas típicas da época como os jornaleiros nas sinaleiras, logo pela manhã. 

Daryan Dornelles / Divulgação
Humberto lançou pelo menos duas canções que citam Porto Alegre

— Anoiteceu em Porto Alegre é uma colagem de vários momentos que vivi na noite da cidade, desde noites monótonas, em que nada acontece, até as épicas de conquistas futebolísticas (em um dos trechos, a banda inseriu a narração de Armindo Antônio Ranzolin em Grêmio x Peñarol, pela final da Libertadores da América de 1983, no Estádio Olímpico, na primeira conquista do time gaúcho) — explica o músico porto-alegrense, 55 anos. 

Certeza da volta

Humberto ainda gravou Por Acaso, que integrou o disco Simples de Coração (1995). O vocalista, que, entre 1988 e 1997, morou no Rio de Janeiro, exalta ali a saudade da terra natal. E cita pontos históricos que "fazem sentido para quem mora aqui", como o roqueiro pontua:

— E também para quem não conhece a cidade e esses locais. Gosto de jogar com esta dualidade de sentidos.

O músico voltou a morar em Porto Alegre. E diz que sabia que voltaria:

— Quando chegou a época de matricular Clara (filha do cantor que, hoje, mora na Suécia) na escola, achei que era a hora. Além de gostar da cidade, sinto que cada lugar aqui tem várias camadas de significados para mim. Hoje mesmo (20 de março, dia em que concedeu a entrevista) ensaiei na mesma sala do mesmo estúdio onde gravei a minha primeira "demo" (trabalho experimental), em 1985. Gosto de testemunhar as transformações da cidade através do tempo e acho que a cidade testemunha as minhas transformações em um jogo de espelhos.





Hino de amor tipo exportação

Isabel Ramil / Divulgação
Kleiton (esquerda) e Kledir (direita): hino marcante da Capital

Impossível não lembrar de Kleiton & Kledir e do hit Deu pra Ti. Composta pelos irmãos pelotenses em 1981, a faixa traz uma imediata identificação, pois fala de lugares clássicos de Porto Alegre como a Redenção e o Beira-Rio. Em entrevista por telefone, do Rio de Janeiro, onde os irmãos moram hoje, Kledir define a canção como "um hino de amor a Porto Alegre". Kledir, 66 anos, e Kleiton, 67, vieram de Pelotas para Porto Alegre em 1970. E ficaram por aqui até 1977, ano em que foram para o Rio, integrando o grupo Almôndegas.

O Brasil cantou

— A banda se desfez. Era 1981. Estávamos eu e Kleiton no Rio. Foi bem o momento em que estouramos no país, e não havia, naquela época, uma referência de artista gaúcho cantando na MPB. Tínhamos a Elis (Regina, 1945 - 1982), mas ela não se identificava muito com os costumes do Rio Grande do Sul. Então, acabou ficando uma coisa muito "os gaúchos Kleiton & Kledir". Foi bem marcante! — reconhece Kledir.

Para ele, a canção expressa bem o sentimento dos conterrâneos que saem de sua terra. Mas a terra não sai deles.

— Retrata uma saudade muito grande do que a gente tinha vivido em Porto Alegre. Vivemos a cidade de maneira intensa, quando estávamos na faculdade. A Redenção era muito presente no meu dia a dia — recorda Kledir.

Mesmo sendo um hino informal da cidade, Deu pra Ti arrebatou admiradores de diferentes cantos do país.

— Tem mineiro que curte Deu pra Ti, carioca que gosta. Isso é o barato! Sou eu cantando a minha terra, e todo mundo gosta disso. Esse sentimento que a gente canta é muito verdadeiro. Por isso, acho que a música teve tanta aceitação. 

 Ganhou vida própria 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Isabela, posando em um dos pontos mais conhecidos do Centro de Porto Alegre

 Em 1990, enquanto o país assistia ao curto período de Fernando Collor  na presidência da República (com o impeachment, ele foi afastado do cargo, em 1992), José Fogaça, hoje com 72 anos, era um dos senadores gaúchos no Congresso Nacional. A agenda atribulada e a vida corrida em Brasília, porém, não preencheram a saudade que o ex-prefeito da Capital sentia dos pagos. 

Surgia ali, em uma noite solitária, das mãos habilidosas de Fogaça – compositor de outro clássico do cancioneiro gaúcho (Vento Negro) – uma das músicas mais identificadas com a Capital: Porto Alegre É Demais. 

Da gaveta para o sucesso

Durante dois anos, a canção ficou guardada em uma gaveta, como revela Isabela Fogaça, mulher de Fogaça, até que ela decidiu gravar a faixa. Inicialmente, Porto Alegre É Demais foi incluída em um disco só com canções que homenageavam a Capital. Mas, quando o produtor Ayrton dos Anjos, o Patineti, ouviu a canção, “decretou” que seria sucesso. A faixa virou o carro-chefe do álbum batizado com o nome da música.

— O disco vendeu 125 mil cópias, e a canção virou o grande destaque do álbum. É curioso porque a música ganhou pernas próprias, foi andando sozinha, entrou na programação da Semana de Porto Alegre, há muitos anos, quando o Zaffari a usou em suas propagandas após me pedir autorização. É uma grande honra para um artista ter um hit desse tamanho — celebra Isabela, 58 anos, que nasceu em Bagé, mas mora na Capital desde 1980.

Diante da saudade e do amor cantados na faixa, ela elege um local como o seu preferido: o Parque da Redenção.

— É exatamente como diz a letra. Amo Porto Alegre, passear pelo Brique, nas manhã de domingo. É meu “fraco” chimarrão na mão, encontrar as amigas. O Brique é uma referência para quem vem do Interior, e todo porto-alegrense gosta também — afirma Isabela. 

 


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