Entretenimento



Celebração

#éolouca: Louca Sedução comemora 20 anos mirando a expansão

Um dos mais tradicionais do pagode, grupo vem fincando sua bandeira em Santa Catarina, e já foi apadrinhado por produtor paulista

04/05/2019 - 12h00min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
Enviar E-mail

Há 20 anos, Lelê e Fofo, dois irmãos criados no meio do samba, deram a largada na história de um dos grupos de mais sucesso do pagode gaúcho: o Louca Sedução. De lá para cá, o Louca, como ficou conhecido, passou por perrengues, conquistas, mas mostrou sua força ao seguir na batalha e chegar a duas décadas de vida no melhor momento de sua trajetória: expandindo os seus horizontes e a mil com preparativos para celebrar a data. Como diz a hashtag que os músicos criaram no Instagram, #éolouca!

Fernando Gomes / Agencia RBS
O grupo: depois de 20 anos na peleia, celebrando o sucesso

O começo de tudo

Em abril de 1999, o Tri Legal - Suingue e Pagode, evento que marcou época no cenário local, apontava o surgimento de uma das bandas que viria a ser uma das mais duradouras do pagode gaúcho. A função reunia três das principais trupes do gênero por aqui: Pagode do Dorinho,  Senzala e Toque de Mel, que chegaram até a gravar um disco ao vivo no Opinião. 

Esse momento significativo para o pagode gaúcho representou também um “sacode” na vida dos irmãos Alessandro Antunes "Fofo" e Leandro Antunes "Lelê". 

Na época, Fofo integrava o Pagode do Dorinho, e Lelê, Toque de Mel. Assim que acabou o show do Tri Legal, Lelê e Márcio Boca, que estava no Dorinho, toparam o desafio de formar um novo grupo a convite de Fofo. 

— Mesmo que a gente integrasse bandas de destaque, não tínhamos autonomia para tomar decisões nem autonomia sobre as nossas composições. Então, decidimos encerrar as nossas trajetórias nestes grupos naquele dia mesmo e fundar o Louca Sedução — relembra Fofo, que chamou os primos para completar o time.

Em um mês, estouro

Vieram, então, para a formação Luciano e Jeferson (primos de Lelê e Fofo, também da Ala dos Pandeiros da Imperadores do Samba, um dos berços do Louca), Anderson Vieira e Marcelo Amaro. Um mês depois da criação da banda, os músicos assinaram contrato com a gravadora Raízes, selo que tinha artistas de destaque na época, e começaram a ganhar o devido espaço no cenário local. 

Reprodução / Reprodução
Ala dos Pandeiros, berço do Louca

— Estouramos muito rápido várias músicas meio que simultaneamente, mas começamos a notar que a banda tinha engrenado quando emplacamos a canção Carta Marcada — lembra Lelê.

Entra e sai, entra e sai

Cerca de dois meses depois, Luciano e Jeferson deixaram a banda. Passados 11 meses, foram as vezes de Anderson e Marcelo saírem do grupo.

Em 2009, entrou no time Jorge "Bolão" e, em 2011, Márcio deixou o Louca quando entrou César Teco no lugar. Daquele ano pra cá, a formação segue firme e forte. Compõem o Louca: Leandro Antunes, o Lelê (vocais), Alessandro “Fofo” (banjo), César “Teco” (pandeiro) e Jorge Bolão (tam-tam), que não revelam suas idades em uma espécie de combinação entre eles. 

Paixão que vem de berço

Com origem humilde (Lelê, Fofo e Bolão são do bairro Partenon, e Teco, de Viamão), o Louca começou a ser sonhado bem antes do Tri Legal. Lelê e Fofo têm na família uma sólida base musical. O pai, Jorge Luiz, 62 anos, é nome conhecido do Carnaval de Porto Alegre. Já dirigiu a bateria de escolas como a Acadêmicos da Orgia e a Imperadores do Samba. 

— Começamos como ritmistas, participando da bateria mirim da Imperadores ainda bem pequenos. Nossa raiz é no Carnaval. Nascemos escutando música — revela Fofo. 

Para o Brasil ver

Para César "Teco", um dos principais momentos da banda foi, justamente o começo, quando poucos acreditavam que aquela reunião de amigos poderia dar tão certo.

— Naquela época, só os familiares acreditavam no nosso potencial. Fomos construindo o nosso sucesso por meio de nossas composições, apostando no trabalho autoral – afirma ele.

Em 2006, o Louca chamou a atenção do país ao participar da gravação do programa Central da Periferia, da TV Globo, comandado por Regina Casé. Na época, a estrela da emissora apresentou um grande show na Esplanada da Restinga, na Zona Sul, com a presença de artistas locais, como o Louca, para cerca de 30 mil pessoas. 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Com Regina Casé (esquerda), na Restinga

Entre altos e baixos até estabilizar 

Em 2013, o episódio em que  242 pessoas morreram, durante o incêndio da Kiss, em Santa Maria, também impactou o grupo. O endurecimento das regras de segurança nas boates de todo o país acabou por fechar muitas casas noturnas por todo o Estado. 

— Perdemos muito espaço para fazer show. Nós, que sempre dependemos 100% da música, fomos obrigados a migrar para outras áreas — lembra Bolão, complementado por Fofo:

— A gente fazia de 25 a 30 shows por mês, e, basicamente, em casas noturnas do Interior. As que não fecharam demoraram para reabrir até se adequarem às exigências. Não estávamos conseguindo manter nem 10 shows por mês!  Foi complicado.  

Perrengue

Lelê passou a atuar com a produção musical de outros artistas, Bolão conseguiu emprego como  vendedor, Teco virou instrutor de autoescola, e Fofo se dividiu entre oficinas de percussão e a rotina em um escritório de contabilidade.  Aos poucos, o grupo, que fazia de 25 a 30 shows por mês nos áureos tempos, começou a retomar o ritmo de apresentações. Mas o sinal de alerta estava ligado: era preciso expandir os mercados.

Já retomando os bons tempos, o Louca fez um dos shows locais da Fifa Fan Fest, em Porto Alegre, evento que movimentou as sedes da Copa do Mundo, no Brasil, no ano de 2014. 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Em 2014, na Fan Fest

Em 20 anos, a banda só teve uma parada, em 2017: Lelê foi trabalhar no Aeroporto Salgado Filho, Bolão foi para a prefeitura de Porto Alegre, Teco, para uma loja de conveniência, e Fofo foi tentar a vida como recepcionista em um salão de beleza. Mas, depois de seis meses, o grupo retomou a sua estrada e decidiu viver do que mais aprecia: a música.

Expansão 

Em 2018, o grupo começou a expandir mercado. De acordo com Fofo, a ideia inicial era manter sempre a sua base em Porto Alegre, mas a expansão se mostrou necessária.

— Chegou um momento que, por mais que as coisas melhorassem em Porto Alegre, a gente notou que o mercado de Santa Catarina estava muito melhor (em relação ao gaúcho). Como queríamos ficar conhecidos no resto do país, entendemos que a melhor maneira de começar seria entrando lá — afirma Fofo.

Na hora certa

Hoje, os pagodeiros comemoram o resultado da ousadia. Em uma agenda de 10 a 13 shows por mês, ao menos dois são em terras catarinas, principalmente na região de Florianópolis. 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Em Floripa, no primeiro show na expansão do grupo

— De segunda a segunda, tem opção de casas noturnas com de shows por lá. Entramos muito bem lá — comemora Lelê.

Para celebrar os 20 anos do Louca Sedução, os músicos preparam projetos especiais em diferentes plataformas. Há cerca de duas semanas, lançou o mais recente clipe, da faixa Te Esquecer na Marra. Em poucos dias, já soma 50 mil visualizações no YouTube, índice significativo para uma banda gaúcha independente. 

Em junho, gravarão, ao vivo, o projeto batizado de Biografia no Boteco Exportação, na Cidade Baixa. Vinte sucessos da banda darão origem a um disco, que será lançado nas plataformas digitais, e a um registro ao vivo no YouTube. 

— E temos um projeto em gestação para um show no Rio de Janeiro, no fim deste ano, ou no período pré-Carnaval. Temos notado que, a cada ano, aumenta o número de gaúchos que passa o Carnaval por lá. A nossa ideia é fazer um espetáculo para essa galera, em uma casa da Lapa (um dos principais bairros boêmios da capital fluminense) — afirma Fofo.

Chave para o sucesso

Para Lelê, o fato de o grupo ter chegado aos 20 anos de estrada com uma boa agenda de shows, lançando materiais inéditos e mantendo a admiração dos fãs, é resultado de uma série de fatores.

— Perseverança, muito amor pela profissão, sempre pensar em fazer algo de qualidade para o nosso público. Dentro da banda, a gente cobra muito um do outro mutuamente — entrega.  

Hoje, Lelê explica que o Louca funciona como uma empresa. Um escritório cuida da parte comercial da banda.  Outra empresa fica responsável pelo marketing do grupo. Ao todo, o "negócio" Louca Sedução movimenta 24 pessoas.

— Mas tudo sob o nosso comando — garante Lelê.

Sampa com padrinho

Pronto para novos voos, o grupo também dá os primeiros passos no principal mercado fonográfico do país: São Paulo. Em julho de 2018, o Louca gravou um EP, com as faixas Otário, Madrugada e Te Esquecer na Marra, em Sampa. A produção ficou a cargo de um dos mais renomados nomes do país. Pezinho já produziu trabalhos da Turma do Pagode, de Thiaguinho e do Exaltasamba.

Conectados

— Há dois anos, começamos os contatos com Pezinho. E ele não está sendo só produtor musical, abraçou o grupo, como se fosse dele. Nossas músicas chegaram no centro do país por meio dele. Temos contato no restante do país por conta do Pezinho — reconhece Fofo. 




MAIS SOBRE

Últimas Notícias