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Curtiu ou não curtiu?

Fim dos likes? Especialistas e influenciadores digitais opinam sobre a mudança no Instagram

Cris Silva, Rodaika e a cantora Vanessa são usuárias fiéis da rede social e dão seus pitacos

27/07/2019 - 10h00min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
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Paquetá / Divulgação
Rodaika aposta na humanização de processos ainda tão mecânicos

"Se gostou, dê o seu like". "Quantos likes essa fofura merece?". Essas e outras frases típicas dos digital influencers (influenciadores digitais, em bom português) estão com os dias contados. Tudo porque, desde o dia 17, o Instagram passou a ocultar o número de curtidas em fotos no Brasil.

Agora, pelo celular, cada usuário tem acesso apenas aos próprios números. Ainda é cedo para prever o impacto dessa novidade na carreira de quem tem no Insta a sua principal ferramenta de trabalho. 

Mas, procurados por Retratos da Fama, especialistas em redes sociais e usuários ilustres da ferramenta tentam analisar as primeiras consequências da mudança no Instagram para quem encontra na internet um meio de compartilhamento de imagens, pontos de vista, produtos e até serviços.

A justificativa da rede social é que a iniciativa seria “uma forma de reduzir o impacto à saúde mental das pessoas”. Sem ter acesso às curtidas alheias, o usuário ficaria menos competitivo. Será?

Para Karen Sica da Cunha, consultora digital e professora da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos da PUCRS, não é de hoje que o Instagram se mostra preocupado com a saúde mental de seus adeptos:

— Em julho deste ano, a plataforma adotou uma ferramenta contra bullying, que solicita aos usuários reconsiderarem o que estão escrevendo em caso de comentários identificados como ofensivos. Com esta mudança, a pressão diminui, e o ambiente tende a ficar menos tóxico e competitivo.

E essa busca por curtidas tende a sair do controle. Para a professora, as redes sociais podem se tornar, sim, um instrumento de pressão psicológica sobre os usuários:

— A quantidade de likes é o principal instrumento dessa pressão, pois é a prova social de que o conteúdo está sendo lido e curtido pelas pessoas.

E você curtiu a mudança? Nossas personalidades influenciadoras falam a respeito.

Muito além dos coraçõezinhos

Fernando Gomes / Agencia RBS
@realcris.silva : 73,2 mil seguidores

A interação real, no dia a dia, importa muito mais do que um mero like (curtida) no Instagram. É nisso que acredita Cris Silva, da 92 (92.1 FM), colunista do Diário Gaúcho e apresentadora do Posso Entrar?, da RBS TV. 

— A gente não pode se esquecer de que vive no mundo real, não pode deixar de dar um abraço, de se aproximar das pessoas que são de verdade, de saber como elas estão. Nos preocupamos muito em dizer como a gente está, e nos esquecemos de perguntar como está o outro — avalia. 

Para Cris, visualizar ou não as curtidas é o que menos importa. O que vale é a qualidade da interação virtual com os seus seguidores, não a quantidade. 

— Prefiro ter menos curtidas e mais comentários. Gosto de pessoas que consigam trocar uma ideia, não só ir ali colocar um coraçãozinho — afirma a comunicadora.

O Instagram como negócio

Se na sua origem, o Instagram parecia apenas uma rede social para compartilhamento de imagens, a realidade que se desenhou, com o passar do tempo, foi de uma mudança de comportamento na maioria dos usuários. Surgiram os influenciadores digitais, pessoas que lucram com as postagens, ultrapassam os limites entre o real e o virtual e fazem da internet uma ferramenta de trabalho. Com isso, marcas e anunciantes começaram a se utilizar dessas pessoas tão influentes para divulgarem produtos e serviços. Daí a importância do número de likes como forma de medir o engajamento do público com o que foi anunciado.

Outros engajamentos

Na opinião de Luciane Bemfica, especialista em desenvolvimento e gestão de marcas pessoais, a ocultação de likes pode obrigar os anunciantes a buscarem novas formas de fechar contratos com os digital influencers. 

— A curto prazo, vai dificultar a identificação de novos potenciais influencers para as marcas que caçavam pessoas com base no número de likes dos posts. Se a mudança vai levar as empresas a patrocinarem mais os próprios posts e não a contratar terceiros, só o tempo dirá — afirma a especialista em Negócios Digitais com MBA pela UniRitter Laureate Internacional Universities. 

Já a professora Karen Sica acredita que, com o tempo, a criatividade será a principal arma dos usuários na busca por engajamento nas redes sociais.

— Diante deste novo cenário, há uma exigência de novas medidas criativas para conquistar fãs. Os influenciadores precisam se dedicar à criação de conteúdos ainda mais relevantes, autênticos e que, realmente, gerem impacto sobre as outras pessoas — aposta.

Likes ocultos, "pero no mucho"

Instagram / Reprodução

Apesar da ampla divulgação sobre o número oculto de curtidas, a mudança no Instagram ainda está em fase de testes. Tanto que ainda é possível visualizar a quantidade de coraçõezinhos ganhos via computador. 

— Não li nada oficial sobre a versão desktop. Mas imagino que tirem (a visualização de likes), porque estão fazendo em etapas — opina a especialista em desenvolvimento e gestão de marcas Luciane Bemfica.

Em poucos dias, usuários já começaram a usar o famoso jeitinho brasileiro para burlar a nova regra do Instagram. Influenciadores digitais passaram a postar, na linha do tempo ou nos Stories, uma captura de tela que mostra quantas curtidas determinada foto teve. 

Os dois lados da mesma moeda

Mirage Três Figueiras / Divulgação
@clausevanessa : 51,1 mil seguidores

Embora a mudança seja recente, já provocou discussão de sobra a respeito dos prós e dos contras de se exibir as curtidas dos usuários. Se, por um lado, pode impactar positivamente na saúde mental de quem se preocupa em excesso com a quantidade de likes, há as dúvidas de quem trabalha com a sua marca — pessoal ou profissional — nas redes.

Tanta polêmica deixa alguns influenciadores divididos. É o caso da cantora Vanessa, da dupla com Claus:

— Não é novidade que existe um mercado por trás das curtidas e dos seguidores. Por esse motivo, sim, super concordo com essa nova ação do Instagram. Quanto à competição, não sei bem ao certo o que pensar, porque acho que quem se dedica, se esforça e tem conteúdo relevante a compartilhar deveria se destacar dos demais... Conflitante!


Da contemplação à competição

Cristiano Cardoso / Divulgação
@rodaika : 329 mil seguidores

Apaixonada pelo Instagram desde o início, Rodaika, comunicadora da Atlântida (94.3 FM) e influenciadora digital, combina o pessoal e o profissional na hora de usar a ferramenta. Além dos cliques de viagens, fotos da família e dos amigos, tem na internet uma ferramenta poderosa de trabalho.

— O Instagram se presta muito bem ao negócio. Se tornou um palco, um lugar onde tu consegues colocar muito bem serviços e produtos — garante ela.

O fato de ser uma ferramenta multiuso ampliou vertiginosamente o número de usuários do Instagram. E, com isso, a rede social se tornou um lugar propício para buscar o lucro a qualquer preço. 

Ou melhor, ao preço de muitos likes. E é aí que mora o perigo!

— A partir do momento em que a ferramenta passou a ser usada também para vender, as pessoas passaram a trabalhar por intermédio do uso de imagem. As coisas complicaram um pouco, porque o clima ficou mais competitivo do que contemplativo — analisa Rodaika.

Instagram / Reprodução
Com Alexandre Fetter e o filho, Théo: é vida real no Insta

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Para a influenciadora, ocultar o número de curtidas — ou qualquer outra mudança que possa ser feita no futuro — não deve ter um impacto tão grande assim.

Instagram / Reprodução
Parceiros que se conectam ao seu estilo de vida estão lá

— No geral, eu acho que isso não vai abalar a rede social, que vai continuar forte, vai continuar crescendo. Acredito que o Instagram vai evoluir para outras mudanças, talvez controlando melhor os comentários, não exibindo o número de seguidores. Talvez transformando, humanizando um pouco mais esses processos que se tornaram tão mecânicos, a ponto, inclusive, de serem comprados.


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