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“Bom Sucesso”

Armando Babaioff comenta perfil do supervilão Diogo: "É um personagem completamente amoral"

Na novela das sete, ator vive um advogado sem escrúpulos e interesseiro

30/11/2019 - 06h00min


Amanda Souza
Amanda Souza
*Rio de Janeiro
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VICTOR POLLAK / TV Globo,Divulgação
Diogo (Armando Babaioff) é o grande vilão de "Bom Sucesso"

Quando Bom Sucesso estreou, em 29 de julho, o público já sabia que Armando Babaioff interpretaria um advogado sem escrúpulos, interesseiro e que vivia um romance com Gisele (Sheron Menezzes), a assistente pessoal de sua esposa, Nana (Fabiula Nascimento). O que poucos esperavam, no entanto, é que o personagem Diogo surpreenderia, no desenrolar da trama, com uma curva dramática tão intensa, tornando-se o principal vilão da novela das sete. A partir de agora, a história de Rosane Svartman e Paulo Halm conduz Diogo pelo rumo da psicopatia e da crueldade. 

Nas sequências previstas para as próximas semanas, o advogado vai tentar matar Alberto (Antonio Fagundes) pela segunda vez. Isso depois de ter sido o responsável pelos assassinatos de Eric (Jonas Bloch) e Felipe (Arthur Sales).

Neste bate-papo, o artista recifense de 38 anos comenta as características doentias do personagem, sua dedicação à dramaturgia, o papel da responsabilidade social da classe artística e não esconde sua empolgação com a atual fase na carreira:

 – Talvez, agora, eu esteja no momento mais importante da minha vida.

Quais características tu imprimes ao personagem?  
Quero que as pessoas amem me odiar. Ele é um psicopata tupiniquim, cafona. O comportamento dele é de um típico brasileiro que quer fazer parte da alta-sociedade, mas que não tem jeito, não tem modos. Ele acha que usar sapato sem meia é chique. Não entende que não nasceu naquele lugar, que não pertence àquele lugar. Este personagem já me tira o direito da dúvida. Não posso fingir que ele não é vilão. Ele é, mas não gosto deste título. A partir do momento em que se intitula, parece que ele vai pedir até um copo de água de forma estúpida e mal-encarada, e não é assim. Já que meu personagem se veste como se veste, e é considerado vilão, comecei a pensar nele de outra forma, levando-o para o humor. Apesar da grosseria, ignorância e forma como ele trata as pessoas, usando as fraquezas delas para se beneficiar, pensei: “Por que não ir para o lado do humor?”. No fundo, quero que as pessoas tenham raiva de gostar do vilão. Boa pessoa ele não é de fato. As coisas que fala e faz são assustadoras, é um sujeito amoral… Aí, quero colocar o humor para, justamente, dar aquela graça.

João Cotta / TV Globo,Divulgação
Nana (Fabiula Nascimento) não desconfia dos crimes do marido

A relação tóxica que Diogo desenvolve com Nana e Gisele provém dessa índole obscura?
Quem conhece a natureza do personagem, como nós, pode afirmar isso. Quem não conhece, não. Tudo o que ele fala para a mulher (Nana) é o que ela quer ouvir, tudo o que diz para a personagem da Sheron, a Gisele, é o que ela quer ouvir também. Então, para as duas, ele, de verdade, é aquilo que parece, o que é muito legal. Esse lugar é interessante, pois, o tempo inteiro, Diogo joga com o público. Estou flertando com o público o tempo inteiro. Por exemplo, quando eu faço o comportamento dele sozinho, não uso aquela cara do Diogo por acaso, pois, na cena, ninguém o está vendo, aquele gesto, aquela reação, estou fazendo para o público de casa, do tipo “entenderam, né?”. É a famosa triangulação do teatro. 

Então, estás te divertindo com o Diogo?
Eu vou gravar com uma felicidade que você não imagina. A demanda de cenas tem sido muito grande, é um trabalho árduo. Eu nunca trabalhei tanto na minha vida, mas eu nunca fui tão feliz.

Teu personagem é um vilão sedutor?
Nem sei se eu consigo fazer essa coisa da sedução. Eu brinco um pouco... É uma coisa tão canalha ser sedutor, é uma coisa tão absurda ser sedutor, que  acho divertido (risos). Ele tem uma cueca vermelha que eu adoro. Isso é ser sedutor? Não sei, essa é a marca registrada dele. Não me inspirei em ninguém para fazer esse lado, fui buscando da minha cabeça. Acho divertido porque é cafona, é engraçado. Antonio Fagundes, se não me engano, fazia uma novela em que usava essa mesma cueca vermelha e fez muito sucesso. Então, é uma homenagem a ele (risos). 

Em Bom Sucesso, tuas parceiras mais constantes em cena são Fabiula Nascimento e Sheron Menezzes. Como é a experiência com as duas atrizes?
Fabiula é uma das melhores atrizes com as quais já contracenei. Ela é uma mulher incrível, escuto muito, presto muita atenção ao que ela faz, tudo o que propõe ajuda. Ela não é uma atriz surda: tem uma escuta aberta, que presta atenção no que você está fazendo e é uma parceira, uma amiga de uma novela anterior (Segundo Sol, em 2018, em que interpretou Ionan, e ela, Cacau). A gente já se gostou de cara. Sou muito amigo do Emílio (Dantas, também ator e marido de Fabiula). Então, quando a gente soube que ia trabalhar junto, comemorou soltando rojão (risos). Com Sheron, é a mesma coisa: é uma amiga de longa data, conheço ela desde a minha segunda novela (Duas Caras,em 2008), há mais de 10 anos. Quando a gente soube que iria fazer par romântico, foi incrível. Eu não poderia estar mais feliz. Talvez, agora, eu esteja no momento mais importante da minha vida.

Como é dar vida a um infiel na TV em tempos de empoderamento feminino?
Ele também é esse cara machista. Só ama a si. Não sei nem se tem essa paixão toda pela Gisele. Ali, eu acho que realmente ele é um manipulador. É um personagem completamente amoral. Não sente culpa. É óbvio que tem (machismo). Mas como ele tem, em primeiro plano, essa psicopatia, que fala dessa amoralidade e dessa ausência de culpa, ausência de filtro, é muito pior. É muito pior porque vai além do machismo. 

VICTOR POLLAK / TV Globo,Divulgação
Na trama das sete, Diogo já teve um caso com a vendedora Jeniffer (Nathalia Altenbernd)

Ele vai se tornar cada vez mais cruel. Isso te desafia?
Não tive medo quando o Luiz Henrique Rios (diretor artístico de Bom Sucesso) me chamou para esse lugar. Sem arrogância nenhuma, eu falo isso com toda humildade do mundo. De alguma forma, eu me preparei para esse lugar, para esse momento, e principalmente, para entrar no estúdio e achar que é natural contracenar com Jonas Bloch e Antonio Fagundes. Porque não é normal entrar e encontrar aquelas duas pessoas que eu admiro por uma vida inteira. Finjo naturalidade (risos).

A classe artística busca ser reconhecida, muitas vezes, por sua atuação, seja política ou social, fora dos palcos ou dos holofotes. Como te enquadras nessa análise?
Estudei a vida inteira em escola pública. Então, de alguma forma, houve um investimento do contribuinte com o meu ensino. Não sei pintar, não sei cantar, não sei escrever. Única coisa que sei fazer é subir no palco e dizer o que eu penso do mundo, e é esse o meu lugar. É nesse lugar que sinto o que é minha responsabilidade social. Já que investiram em mim, eu preciso, de alguma forma, retribuir.

Tu ministras palestras sobre a carreira artística nas escolas onde estudaste. É a tua forma de contribuição à sociedade?
É desmistificar um pouco o que é isso, é desglamourizar um pouco. É entender que eu sou um operário e quero ser um operário para o resto da minha vida. Não sou celebridade, passo longe disso. Não me interessa. Me interessa a troca, conhecer o outro, melhorar como ser humano.

Tua carreira se desenvolveu, primeiramente no teatro, não?
Eu sou do teatro, sou filho da Martins Pena (escola de dramaturgia que fica no Rio de Janeiro). Não posso dizer “não” para esse lugar que sempre me chama e que sempre me acolhe. É a minha história, é o que eu tenho para oferecer e não saberia fazer outra coisa. Estou com 38 anos, faço teatro desde os 11. Há 13, faço televisão. Com o teatro, faço as coisas que quero, textos que tenho vontade de dizer. Nesse momento, acho muito importante, como ator, me colocar diante desse governo, em face das mazelas humanas nas quais a gente está vendo aí todos os dias, em todos os lugares, seja ao vivo ou pela televisão, pelo jornal. Me sinto nesse lugar quase como uma responsabilidade. É uma profissão extremamente importante, milenar, que fala sobre a alma humana, sobre o comportamento humano, que é o que me interessa no mundo. 

Existe algum tipo de angústia pelo sucesso na TV?
Acho que, quando era mais novo, sim. Mas, depois que você chega em determinada idade, a preocupação mesmo é contar boas histórias. Eu não sou celebridade, sou um artista, um operário. Eu carrego cenário, eu produzo, eu gosto disso. O dia em que eu perder isso, perco o interesse na profissão. Eu gosto de conhecer gente, meu material é humano. Se eu deixar de andar de metrô, de ônibus, deixar de entrar em lojas para comprar alguma coisa em São Cristóvão (bairro do Rio de Janeiro), vou deixar de ser a figura que sou. Faz parte da minha personalidade ser esse cara curioso que tem interesse em conhecer o outro. O dia em que eu perder o contato com o ser humano, perco o contato com a essência da minha profissão.

*Viajou a convite da Globo.

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