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Bate-papo exclusivo

"É uma honra estar aqui para testemunhar e reportar tudo", diz Carolina Cimenti, correspondente da Globo em Nova York

A gaúcha é repórter da emissora desde 2013

27/06/2020 - 18h47min

Atualizada em: 27/06/2020 - 18h57min


Amanda Souza
Amanda Souza
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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Carolina Cimenti é correspondente da Globo em Nova York

Repórter da Globo desde 2013, a porto-alegrense Carolina Cimenti, 41 anos, é  correspondente internacional da emissora em Nova York desde 2016. Presente na cobertura de diversos acontecimentos importantes na América e na Europa, a jornalista estava cobrindo intensamente as eleições norte-americanas quando a pandemia de coronavírus e os protestos antirracistas começaram a se alastrar pelos Estados Unidos. Neste bate-papo, Carol, que é mãe da pequena Frida e casada com o músico gaúcho Josué Caceres, conta como é estar na linha de frente da informação em um momento como esse.

Nova York já foi considerada o epicentro da pandemia de coronavírus e, nas últimas semanas, foi palco de inúmeros protestos contra o racismo. Como é estar na linha de frente da informação em um momento histórico e sem precedentes como o atual?
São dois sentimentos conflitantes. O repórter sempre quer estar onde as coisas estão acontecendo. Mas quando se trata de uma pandemia, também dá um arrepio na espinha. Estar na cidade onde morreram mais pessoas no mundo com covid-19 chegou a ser assustador. Dava a sensação de que nunca ia acabar. Mas, hoje, dois meses depois, dá para dizer: acreditem, vai passar. Em relação às passeatas e aos protestos antirracistas, depois de cobrir dezenas de assassinatos de homens e mulheres negros desarmados nos últimos anos pela polícia norte-americana, parece ser um momento de despertar. Protestos gigantescos, pacíficos e muito bem organizados tomaram conta da cidade. E para quem acha que protesto pacífico não leva a lugar nenhum, essas pessoas, milhares de pessoas, estão transformando a polícia. Há discussão e reforma em vários Estados e, em Minneapolis, onde George Floyd foi assassinado, a polícia vai dar lugar a um novo sistema de segurança público. É um alívio, um respiro, um despertar contra o racismo e contra a violência policial. É uma honra estar aqui para testemunhar e reportar tudo.

Como foi o início da sua trajetória profissional, ainda aqui no Estado?
Eu saí de Porto Alegre com 23 anos, recém-formada (cursou Jornalismo na UFRGS), rumo a Roma, na Itália, para aprender italiano. Era para ser uma viagem de três meses. Se transformou em 12 anos morando fora: em Roma, em Bruxelas, Londres e Nova York. Antes de ir para a Europa, eu tinha trabalhado na (extinta) Rádio Ipanema, na Gazeta Mercantil e no portal Terra. Mas a maior parte da minha formação profissional foi como jornalista freelancer pela Europa e, depois, como correspondente do canal de economia e finanças norte-americano CNBC. Trabalhar como repórter de TV em inglês, aos 20 e poucos anos, me fez abrir os olhos para o seguinte: a gente se impõe muitos limites que não existem formalmente. Nada é fácil, mas nada é impossível também.

 Qual é a maior dificuldade de estar longe da sua terra natal?
Neste momento, estar longe da minha família em meio à pandemia. Eu estou fazendo o que amo e onde quero estar. Mas o medo de não estar em Porto Alegre se a minha mãe precisar de mim é aterrador. Eu tento nem pensar muito nisso.

Estando em um país diferente, como o público local lhe recebe para uma entrevista?
Às vezes, com curiosidade e abertura. Outras vezes, com desconfiança. Depende muito da pauta, do momento e da pessoa.

Vanessa Carvalho / Arquivo Pessoal
Pandemia e protestos nos EUA são as principais pautas da jornalista

E como é quando os brasileiros lhe reconhecem?
É uma delícia, uma alegria. Mas acontece muito pouco (risos). Esses tempos, uma senhora me reconheceu e me cobrou: “Carolina Cimenti, mas você parece alta na TV!”. Eu me desculpei por ser baixinha (risos). Mas olha só, entrevistei a Lady Gaga, em março, e ela tem exatamente a minha altura (1m55cm). Nós temos potencial, apesar de tudo.

Como correspondente, qual reportagem foi a mais difícil de fazer? E qual marcou mais?
Os ataques a tiros, infelizmente muito comuns nos Estados Unidos, são sempre muito difíceis. Agora que sou mãe, então, fico muito mal. Mas acho que a cobertura mais difícil foram os ataques terroristas simultâneos em Paris, em 2015, quando eu estava lá de férias. Só eu, meu telefone e uma história gigante. Deu certo, por isso, estou aqui. As cinco vezes que cobri o Fórum Econômico Mundial foram muito marcantes. É um fórum muito curioso, onde estão os mais ricos e mais poderosos do mundo. Parece outro planeta. Lembro que, no mesmo mês, eu cobri o Fórum, na Suíça, e uma manifestação popular no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O mundo seria um lugar bem melhor se esses dois grupos tivessem mais contato.

Já trabalhou na Europa e, atualmente, está nos Estados Unidos. Tem o sonho de atuar em outro lugar?
Adoraria trabalhar na África do Sul ou na Índia, países que eu gostaria de conhecer e onde poderia aprender. Mas também adoraria voltar para a Itália um dia.

Como concilia a rotina  jornalística com a maternidade?
A Frida (que nasceu em Nova York e está com um ano e meio) é uma menina muito paciente.

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Com a filha, Frida, e o marido, o músico gaúcho Josué Caceres

 Ainda mantém laços com o Rio Grande do Sul? Tem algum familiar aqui ainda?
Muitos laços. Minha mãe, meu irmão e toda a minha família moram aí. Somos três gaúchos no Brooklyn, em Nova York.


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