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A tecnologia como aliada

Mouhamed Harfouch estreia peça de teatro virtual para ajudar trabalhadores da cultura

Em "Homem de Lata", o ator também mostra seu lado musical, apresentado ao público em 2018, no reality show "Popstar"

30/06/2020 - 09h56min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
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Estevam Avellar / TV Globo/Divulgação
De casa, mas sem perder contato com o público

A pandemia de coronavírus mudou a forma de fazer e transmitir cultura ao público. Tendo a tecnologia como principal aliada, artistas tentam se manter na ativa, ainda que sem o contato direto com os espectadores. Assim, os shows viraram lives. Programas e séries são produzidos e gravados de forma remota e até o teatro ganhou sua versão virtual.

O ator Mouhamed Harfouch, 42 anos, estreou na sexta-feira passada o monólogo Homem de Lata, dirigido por João Fonseca. O cenário é a casa do ator, que ainda faz a iluminação, o som e as intervenções tecnológicas. Parte do valor arrecadado com a venda dos ingressos será revertida para profissionais do setor cultural que ficaram desamparados por conta da pandemia.

Na telinha, Mouhamed está no ar como o professor Bóris, na reprise de Malhação – Viva a Diferença. Antes do isolamento social, ele ainda participou de alguns capítulos de Amor de Mãe, como Daniel, formando um divertido triângulo amoroso com Miranda (Débora Lamm) e Matias (Milhem Cortaz). 

Em Homem de Lata, o ator também mostra seu lado musical, apresentado ao público em 2018, no reality show Popstar. Aliás, a carreira como cantor segue firme e forte. No ano passado, ele lançou a música Volta, disponível nas plataformas digitais. Versátil, o artista não tem medo de trilhar os mais diversos caminhos, inclusive nas adversidades, como agora.

— Temos que nos reinventar — diz ele.

Neste bate-papo, Mouhamed conta sobre essa mistura de teatro com internet, relembra os tempos de Malhação e fala sobre como tem sido a convivência familiar neste período.

Como tem sido para você assumir várias funções no espetáculo Homem de Lata? Tem conseguido se reinventar em meio à pandemia?

Tem sido desafiador em todos os sentidos. Porque além de fazer sete personagens, eu tenho que operar a luz, o som, fazer os cortes de câmera, operar a trilha que eu criei, mexer no cenário que criei... A gente vira um faz-tudo, e a única missão que você tem é levantar o espetáculo. Quando ele começa, as pessoas me veem na frente das câmeras e não percebem o que estou fazendo com as mãos fora delas. Tenho frações de segundos para acionar tudo, é dinâmico. E estou muito feliz! Eu tinha esse projeto há sete anos e o reescrevi todo, com o Moisés Liporage, durante a nossa quarentena. É um projeto totalmente escrito, desenvolvido, concebido, ensaiado e atuado online, virtualmente, sem encontros presenciais, feito para plataforma virtual. Estamos desbravando um caminho desconhecido. É instigante descobrir uma linguagem. Temos que nos reinventar. E como o teatro só existe onde o artista encontra o público, estamos possibilitando essa reunião via câmera de celular.

Como você vê a situação da classe artística neste período tão conturbado? O que os governos deveriam fazer para ajudar quem é do meio e está passando por dificuldades?

Um dos motivos de eu ter seguido com o projeto é saber que está sendo e vai ser muito difícil a retomada do setor cultural, porque nós lidamos com um tripé que é devastador numa pandemia: a aglomeração, a presença física e o ambiente fechado. E ainda tem os grupos de risco, que frequentam o teatro e são assíduos. Isso tudo me fez ter o insight (a compreensão) de que era preciso achar uma solução, ainda que temporária, para que o teatro pudesse ser levado até as pessoas. Em casa, a gente vê filmes, séries, novelas, mas e o teatro? É uma maneira de a gente resistir. Antes, eu estava em casa somatizando, procurando uma saída, vendo colegas que sustentam a família graças ao trabalho no teatro. Fazer o Homem de Lata foi uma forma de criar a cobrança de ingresso online, que terá parte (da renda) revertida para o Fundo da APTR (Associação dos Produtores de Teatro) para ajudar esses profissionais do teatro que estão desempregados por conta da pandemia. É resistir fazendo arte e poder ajudar! E isso me dá muita garra para seguir em frente.  

Rafael Campos / TV Globo
Com Lúcio Mauro Filho, em "Malhação"

A reprise de Malhação – Viva a Diferença mostra um de seus personagens mais queridos, o professor Bóris. Como tem sido rever esse trabalho, agora sem as cobranças em meio às gravações?

Tem sido uma maravilha poder rever esse personagem e essa Malhação que celebra a diferença, a tolerância, o afeto, a amizade e a diversidade em um momento tão difícil como esse. É muito importante ver um professor como o Bóris, que forma cidadãos éticos, com princípios, valores, e que defende a ética em um momento que precisamos tanto dela. Os professores são profissionais que merecem muito nossos aplausos, porque são agentes transformadores da sociedade. A educação é o único caminho para que a gente possa verdadeiramente mudar esse panorama triste onde a gente vê desigualdade, ódio, intolerância, desrespeito, preconceito, machismo e, sobretudo, ter um país ético, onde se veja menos corrupção e quadros como o que vivemos hoje. Só com a educação teremos um país mais justo e mais igual para todos.   

Você assiste à Malhação com seus filhos? De que forma o isolamento social tem contribuído para sua relação com eles?

Desde que estreou, não consegui assistir muito, porque já estava com o tempo curto me dedicando à peça. Quando essa Malhação passou, Ana Flor (hoje, com sete anos), era muito pequena. Agora, ela, às vezes, vê e curte, mas o Bento (três anos), quer brincar com ela o tempo todo. E eu tento ver em horários mais alternativos, na internet, quando eles estão dormindo, porque eles querem sempre brincar comigo. Mas sempre vejo as reações nas redes sociais e recebo mensagens dos fãs. Esse trabalho só me traz recordações maravilhosas. Foi durante essa Malhação que Bento nasceu, e eu consolidei lindas amizades e conheci talentos jovens muito promissores.

Instagram / Reprodução
Com os filhos Bento e Ana Flor, frutos da união com Clarissa Eyer

Sobre o Daniel, em Amor de Mãe, pode adiantar se ele retorna à trama para retomar o triângulo amoroso com Miranda e Matias?

Eu não sei absolutamente nada sobre a volta dele ou não. Foi um prazer fazer esse trabalho, porque sou fã do (José Luiz) Villamarim (diretor da novela) e da Manuela Dias (autora) e adorei brincar em cena com a Debora Lamm e o Milhem Cortaz. Se Daniel voltar, ficarei muito feliz. Mas, se não voltar, eu já estou feliz por ter participado dessa novela tão boa que, infelizmente, foi paralisada com a pandemia. Estou numa torcida grande para que eles voltem às gravações da melhor maneira possível.

 Quais serão as principais mudanças em mundo pós-pandemia?

As mudanças serão no Brasil e no mundo, na vida familiar e na pessoal de cada um, já que estamos adquirindo novos hábitos que levaremos para a vida toda. E espero que todos mantenham esse olhar empático e solidário que estamos desenvolvendo neste período. Precisamos, cada vez mais, pensar no coletivo, já que vivemos em um mundo conectado e globalizado. Vamos passar por essa, mas outros desafios virão, e precisamos estar preparados.


Te programa!

O quê: Homem de Lata, de Moisés Liporage e Mouhamed Harfouch
Quando: Sextas e sábados, às 21h30min, até o retorno do funcionamento pleno dos teatros
Onde: no site sympla.com.br
Ingressos: R$ 20, à venda também pela plataforma sympla.com.br 

Divulgação / Divulgação
Versatilidade é o nome dele!



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