"A Força do Querer" traz de volta o poder feminino para a novela das nove

As chamadas novelas solares, como Flor do Caribe e Totalmente Demais, se tornaram queridinhas do público durante a pandemia. A faixa das nove da grade da Globo, no entanto, traz outra proposta a partir desta segunda-feira (21): no lugar de Fina Estampa, que encerrou sua reprise com bons índices de audiência, está de volta  A Força do Querer, folhetim de 2017 lembrado por sua preocupação em debater o papel da mulher na sociedade.  O folhetim vai ao ar na RBS TV logo após o Jornal Nacional.

A Força do Querer, escrita por Gloria Perez, entrou para a galeria de sucessos da teledramaturgia nacional por ter desenvolvido figuras femininas fortes. Este conceito foi defendido pelo elenco da novela, em entrevista coletiva à imprensa por conta do relançamento.

— Acredito que mostramos muito a força da mulher. O feminismo até está na Ritinha (Isis Valverde), mas a novela fala muito mais do que isso: são mulheres que criam filhos sozinhas, que tem irmandade entre elas, e a Jeiza (Paolla Oliveira) traz essa figura de uma mulher policial forte e decidida — diz Dandara Mariana, que interpreta Marilda.

Esse universo conquistou o público em sua primeira exibição graças à protagonista da trama, Bibi Perigosa (Juliana Paes). No início da história, ela conhece e se envolve com Caio (Rodrigo Lombardi) na faculdade de Direito, mas acaba traindo ele com o instável Rubinho (Emilio Dantas). Revoltado, Caio vai embora do país. Ao retornar ,15 anos depois, como professor da mesma universidade, descobre que a ex-amada ainda é estudante, tem um filho com Rubinho e, diante das dificuldades financeiras, caminhou para o mundo do crime. 

— Num primeiro momento, fiquei me perguntando o motivo da palavra “querer” no título da novela. Mas foi algo que eu e todo o elenco entendemos quando as tramas começaram a se desenrolar. Percebemos que o querer dessas personagens sempre foi muito forte e que isso era o que guiava tudo — destaca Juliana Paes, que também está no ar com as reprises das novelas Laços de Família e Totalmente Demais.

Ao se envolver com Jeiza , policial e inimiga de Bibi, a vida de Caio volta a cruzar com a da ex. Com grande destaque na época da exibição, Paolla lembra que houve um questionamento durante a produção até sobre qual figurino sua personagem deveria usar. 

— Em que lugar está escrito que se a mulher está dentro de um contexto masculino, ela deve se masculinizar? E aí eu levantei a bola: “Porque ela não pode ser feminina e estar em um contexto como esse?”. Toda mulher deve estar onde ela quer estar e deve ser como ela quer ser — reflete Paolla.

Desafios

A Força do Querer também explora outras subtramas importantes. Ivana (Carol Duarte) é filha caçula de Eugênio (Dan Stulbach) e Joyce (Maria Fernanda Cândido) e não aceita o próprio corpo. Aos poucos, ela se descobre homem trans e realiza a transição – momento que ficou marcado como um dos mais importantes da teledramaturgia na última década.

— Teve um dia que marcou todos nós, que foi a revelação dela. Estávamos todos muito concentrados e tinha um nível de energia muito alto. E o mais lindo desse dia é que todo o elenco fez essa cena junto. Não seria possível fazer aquele personagem se revelando daquele jeito se todos não estivessem em um mesmo patamar. Foi muito forte e emocionante — lembra Carol, que fez sua estreia na TV  com A Força do Querer.

Além da sexualidade, a novela debate o vício em jogos, centrado na figura de Silvana (Lilia Cabral), e o submundo da internet, retratado por meio do adolescente Yuri (Drico Alves). Ele só fala com os pais por mensagens de celular, é adepto do cosplay e acaba participando do jogo virtual Baleia Azul, que estimulava desafios perigosos aos jovens — o game foi assunto de reportagens e debates no período de exibição da novela. 

Sobre esse conjunto de assuntos, Elizângela, que vive Aurora, mãe de Bibi na trama, aponta que este é o grande trunfo de Gloria Perez: 

— Acho que a linguagem do texto dela, com os conflitos de todos os personagens, é a linguagem do povo. Isso aproxima o público porque torna a trama muito mais real. As pessoas se identificam de imediato.