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Pathy Dejesus sobre racismo na moda: "Fui usada. Se precisavam de uma negra, me colocavam lá"

Atriz e DJ falou sobre as dificuldades na profissão quando iniciou na carreira de modelo

01/09/2020 - 09h04min


Instagram @pathydejesus / Divulgação
A atriz e DJ Pathy Dejesus

Em um bate-papo sincero, a atriz e DJ Pathy Dejesus falou abertamente sobre o racismo no mundo da moda à revista Marie Claire. A artista, que brilhou como modelo no início dos anos 2000, contou que sempre se sentiu um token - termo usado em referência ao conceito social do tokenismo, quando minorias representativas são usadas de forma superficial para simular diversidade em organizações, como explica o jornal O Globo.

 — Acho que fui muito usada no mundo da moda. Se precisavam de uma negra, colocavam a Pathy lá. Na época, eu não percebia. Mas tinha algumas sensações. Sabia que tinha que batalhar muito mais do que as minhas colegas não negras — afirmou.

Para Pathy, a pior parte era não conseguir ter uma relação de amizade com as outras colegas colegas negras com quem convivia na profissão - justamente pelo clima de competição por oportunidades:

— As possibilidades de trabalho eram muito menores e sempre tinha lugar para uma só. Para pagar as minhas contas no mês, dependia de elas não pegarem os trabalhos. Então era "dane-se!". A gente não convivia, não conversava, não tomava café no fim do trabalho. Hoje é diferente. As modelos negras são superunidas e acho isso o máximo. A moda, e a sociedade como um todo, está vivendo uma comoção, sobretudo agora com o isolamento. Finalmente está rolando um "basta!". Vamos lavar essa roupa suja — sentenciou.

Na entrevista, Pathy ainda recordou o quanto havia despreparo de profissionais para tratar e produzir modelos negras nos desfiles e em ensaios fotográficos:

— Em uma live com Paulo Borges, diretor da São Paulo Fashion Week, falei sobre quanto os profissionais não estavam preparados para mim – o que não é um problema exclusivo da SPFW, mas da moda. Acontece até hoje: falta de produtos, de interesse, de pesquisa sobre a pele, o cabelo da mulher negra. Não tinha demanda. Naquela época, era compreensível porque o material era caro, importado. Quando tinha, era um coringa que precisava servir para todos os tons de pessoas negras – e isso não existe. Nos meus primeiros trabalhos como modelo, sempre apareço cinza. Se não fosse o Wilson Eliodorio, o Max Weber, depois o Alê de Souza, era muito provável que eu ficasse cinza — recorda.

Mas as dificuldades das modelos negras, lembra Pathy, iam muito além de uma base que não era a ideal para o seu tom de pele:

— Também tinha a exigência de ter quadril com 89 centímetros. Que mulher negra tem esse quadril? Sou a exceção da exceção. Também mantive o meu cabelo alisado porque era uma zona de conforto para todo mundo — diz. — As modelos em geral têm uma vida dura que ninguém vê. Mas as modelos negras estão várias casas atrás. Estou falando do começo dos anos 2000. Agora se passaram 20 anos e continua. Tem melhoras? Sim. Mas a passos lentos. Depois do isolamento, se projetos como a Fashion Week não se reinventarem, não sei o que vai ser. Como movimento vanguardista, de lançar ideias que todo mundo quer seguir, deveria encabeçar essa realidade. 

Pathy Dejesus brilhou na série Coisa Mais Linda, do serviço de streaming Netflix, e estará no elenco da novela Um Lugar ao Sol, da TV Globo, prevista para o ano que vem.


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