Entretenimento



Estrelas da Periferia

Christian Bandeira reafirma sua identidade como gay, negro e de periferia e luta contra o preconceito

Artista da Bom Jesus sonha em servir de inspiração para outras pessoas

05/10/2021 - 09h07min

Atualizada em: 05/10/2021 - 09h08min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
Enviar E-mail
Nathan Suris / Divulgação
Depois de um período de luto, Christan deu a volta por cima

Não é difícil saber os sentimentos mais profundos de Christian Bandeira. O cantor de 22 anos se entrega por inteiro nas letras, sem as amarras de quem passou a vida tentando fugir do próprio destino.

"Tô indo atrás do que é meu, criando minha marca, vivendo do meu sonho. Tentava me esconder e, hoje, me exponho", brada o artista da Bom Jesus, zona leste de Porto Alegre, em seus versos.

A vontade de viver de música o acompanha desde criança. Não à toa, repete na canção uma espécie de mantra: "o menino cresceu". O guri que sofria bullying na escola por conta de sua orientação sexual, hoje em dia, não tem medo de reafirmar sua identidade como artista gay, negro e da periferia. No entanto, carregar os três rótulos, ele garante, não é nada fácil:

– Sempre me senti errado sendo quem eu sou. O preconceito dói, machuca demais, seja racismo, homofobia, qualquer tipo de preconceito. Eu sinto que eu sofro os três (preconceitos) juntos: pois sou gay, negro e ainda da periferia, mas já estou calejado. Só quero fazer com que cada vez menos pessoas sintam o que eu sinto. 

Perda

O sentimento de inadequação aumentou com a morte da avó, que era sua maior incentivadora. A dor da perda quase fez Christian desistir da música:

– Foi um dos momentos em que decidi que a música não era para mim. Fiquei uns dois anos sem cantar e sem ouvir música, porque me fazia lembrar dela. 

Nathan Suris / Divulgação
Christian fez da perda um impulso para continuar na carreira

Aos poucos, o cantor percebeu que sua arte poderia ser mais do que uma profissão ou um sonho de criança. Seria um merecido tributo.

– Comecei a entender que a música é uma forma de homenageá-la. Foi assim que eu comecei a investir na minha carreira – conta.

Com a memória da avó vibrante dentro de si, Christian seguiu em frente em busca do sonho de se profissionalizar como cantor. As barreiras são muitas, mas ele mantém seu foco na representatividade.

– Se incomoda, vai ter que aturar. O máximo que pode fazer é surtar, porque eu vou aparecer e, cada vez mais, pessoas como eu, pretos, gays e de periferia, vão aparecer também – defende Christian, que completa:

– Hoje em dia, o preconceito é mais uma batalha na minha carreira. Eu simplesmente faço o que tenho que fazer para representar outras pessoas.

Inspirações

Com fortes influências do grande ídolo, Michael Jackson (1958 – 2009), Christian se inspira no legado de performances do artista norte-americano. Entre os ídolos do presente, o cantor destaca Gloria Groove e Pabllo Vittar, inspirações na hora de compor hits empoderados e cheios de atitude.

Nathan Suris / Divulgação
Mensagens fortes e cheias de atitude povoam as letras do artista

Apesar de ter pensado em desistir algumas vezes, ele acredita que a carreira musical é sua grande vocação. Mesmo os momentos de crise, como o isolamento social imposto pela pandemia, serviram como impulso para que ele criasse novas canções e projetasse os próximos passos. O sonho, agora, é fazer um grande show, assim que as coisas melhorarem. No fim das contas, o aprendizado que fica para o artista é um só:

– A minha vida sempre me puxou para a música.



MAIS SOBRE

Últimas Notícias