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Da estante para a TV

Relembre alguns livros que inspiraram novelas e minisséries

Aproveitando a 67ª Feira do Livro de Porto Alegre, que ocupa a Praça da Alfândega até a segunda-feira, que tal adquirir algumas dessas obras?

13/11/2021 - 10h00min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
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Divulgação / TV Globo
"Os Maias", de Eça de Queiroz, virou minissérie na Globo

A televisão brasileira bebe da fonte literária desde seus primórdios. Os primeiros folhetins exibidos na telinha, entre as décadas de 1950 e 1960, eram, em boa parte, adaptações de livros clássicos, como Senhora, de José de Alencar (1829 – 1877), A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo (1820 – 1882), e Os Miseráveis, de Victor Hugo (1802 – 1885).

Com o tempo, as histórias originais foram ocupando mais espaço na TV, mas não se perdeu a tradição de levar alguns romances das páginas para as telas.

Aproveitando a 67ª Feira do Livro de Porto Alegre, que ocupa a Praça da Alfândega até a segunda-feira, que tal adquirir alguma obra que deu origem a novelas ou minisséries? Afinal, há vários exemplos de que televisão e literatura formam um casamento perfeito. 

"Buenas e me espalho"

Divulgação / Divulgação
Capitão Rodrigo e sua amada Bibiana em "O Tempo e o Vento"

A saga da família Terra Cambará ganhou várias adaptações para a TV e o cinema. Na mais notória, exibida como minissérie em 1985, Tarcísio Meira (1935 – 2021) e Louise Cardoso interpretaram Capitão Rodrigo e Bibiana, personagens clássicos de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo (1905 – 1975). A produção foi ao ar em comemoração aos 20 anos da Globo, em um projeto que levou ao ar três clássicos da literatura nacional. Foram exibidas ainda adaptações de Tenda dos Milagres, de Jorge Amado (1912 – 2001), e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (1908 – 1967).

Outra grande obra do gaúcho Erico, que foi ao ar como minissérie, Incidente em Antares (1994) tinha no elenco nomes como Fernanda Montenegro, Paulo Betti e Gianfrancesco Guarnieri (1934 – 2006). A atmosfera sombria, mas com uma pitada de humor sarcástico, elementos fundamentais do livro, foram bem abordados na telinha.

Clássico internacional

TV Globo / Reprodução
Leôncio infernizou a vida da pobre Isaura

Uma das novelas de maior sucesso de todos os tempos, A Escrava Isaura, exibida originalmente em 1976, foi adaptada por Gilberto Braga (1945 – 2021) a partir  do romance de mesmo nome de Bernardo Guimarães (1825 – 1884). Na telinha, Lucélia Santos deu vida à sofredora Isaura, que passou maus bocados nas mãos do temido Leôncio (Rubens de Falco, 1931 – 2008). O livro é de 1875, ou seja, mais de uma década antes da abolição da escravidão no Brasil. No contexto histórico da época, já havia uma pressão popular para que os cativos  fossem libertados, mas por outro lado, a classe dominante, composta de fazendeiros e  senhores de engenho, era contra qualquer mudança no sistema.

Na obra, Isaura nasceu com a pele clara por ser filha de um homem branco, mas não era livre por conta da origem de sua mãe, uma escrava que morreu logo após o parto.

A adaptação para a TV fez sucesso no mundo inteiro, tanto que se mantém entre os programas de TV mais exportados.

Retratos da Bahia

Arquivo / Carta Z
Sônia Braga marcou época como Gabriela

Jorge Amado é um dos autores mais adaptados para o audiovisual. Na TV ou no cinema, são famosas as versões de Tieta, que virou um novelão de sucesso em 1989, e Dona Flor e seus Dois Maridos, que já teve três versões filmadas. Em uma delas, na minissérie de 1995, Giulia Gam, Edson Celulari e Marco Nanini viveram o divertido triângulo amoroso principal. Outras boas versões de obras do autor baiano para a TV foram Tereza Batista (1992), com a então estreante Patrícia França no papel principal, e Mar Morto, livro que inspirou a novela Porto dos Milagres (2001).

Não é exagero afirmar que a personagem feminina mais conhecida do escritor é a protagonista de Gabriela, Cravo e Canela, com duas versões bombásticas na TV. A primeira, de 1975, eternizou Sônia Braga como símbolo sexual da época. Mesmo quem não era nascido, já deve ter visto em algum lugar a famosa cena da bela morena em cima do telhado, tentando alcançar uma pipa. Em 2012, ninguém menos do que Juliana Paes foi escalada para interpretar aquela que veio "para esse mundo e não atinava em nada".

Luxo e sofrimento

Ver Descrição / Ver Descrição
"Ciranda de Pedra": não faltou polêmica

O romantismo da década de 1950 tomou forma e graça com Ana Paula Arósio no papel principal, o da sofrida Laura, na versão de Ciranda de Pedra que foi ao ar em 2008. Na segunda adaptação do livro de Lygia Fagundes Telles para a TV (a primeira foi em 1981), há várias mudanças com relação à história original. Pode-se dizer que são três histórias diferentes – a do livro e as das novelas – cada uma com seus méritos.

A obra original, escrita em 1954, chocou a sociedade da época ao abordar temas como adultério e homossexualidade. 

Várias faces de dona Lola

Raquel Cunha / TV Globo/Divulgação
Versão mais recente foi ao ar em 2019

Uma das obras com o maior número de versões para a TV é Éramos Seis. Foram cinco adaptações televisivas em diferentes emissoras: em 1958, na RecordTV, em 1967 e 1977, na extinta Tupi, em 1994, no SBT, e a mais recente, da Globo, em 2019. 

O livro, de Maria José Dupré (1898 – 1984), traz a saga de Lola, Júlio e seus quatro filhos durante quatro décadas. A obra carrega ainda mais no dramalhão do que as versões para a telinha, mas é uma obra tocante em vários sentidos.

Traiu ou não traiu?

Ver Descrição / Agencia RBS
"Dom Casmurro" é um grande enigma

Quem leu Dom Casmurro, clássico de Machado de Assis (1839 – 1908), sabe que a obra é um grande mistério. Muito mais do que discutir se Capitu traiu ou não o marido, Bentinho, a graça está em formular diferentes teorias para a história.

Parecia difícil transpor para a tela os "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" de Capitu. Mas, em 2008, sob a certeira direção de Luiz Fernando Carvalho, o romance ganhou uma adaptação à altura de sua importância para a literatura brasileira. 

E Capitu tomou duas  formas belíssimas e impressionantes. Na juventude, Letícia Persiles piscava seus "olhos de ressaca" para o amado. A segunda fase trouxe simplesmente Maria Fernanda Cândido, a encarnação de uma Capitu inesquecível e com as nuances necessárias. 

Narrado e estrelado pelo genial Michel Melamed, é uma obra para assistir, ler e degustar em todos os seus formatos.

Saga feminina nos Pampas

Rede Globo / Divulgação
A força da mulher gaúcha na telinha

Quase duas décadas após o sucesso da minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003), o livro de Letícia Wierzchowski se transformou em um dos grandes clássicos da literatura gaúcha. 

Ao ser adaptada para a telinha, a obra, um misto de ficção e história do nosso Estado, ganhou força ao mostrar os dramas e amores de cada uma das personagens femininas. Confinadas por 10 anos durante a Revolução Farroupilha (1835 – 1845), as mulheres da família de Bento Gonçalves (1788 – 1847) viveram suas guerras particulares. 

Para quem se encantou com a obra – no livro ou na TV – vale a pena ler a trilogia completa. Um Farol no Pampa conta o que aconteceu com os descendentes de Bento Gonçalves entre a Guerra do Paraguai  (1864 –1870) e a Proclamação da República (1889), e A Travessia narra a história de amor entre Anita (1821 – 1849) e Giuseppe Garibaldi (1807 – 1882), da Guerra dos Farrapos até a Unificação Italiana (1848).

Megera indomável

Divulgação / Ver Descrição
Petruchio e Catarina viviam entre tapas e beijos

A novela O Cravo e a Rosa (2000) é baseada em A Megera Domada, uma comédia de William  Shakespeare (1564 – 1616). Walcyr Carrasco se inspirou na obra do dramaturgo inglês, "modernizou" a história original, do século 16, e a transpôs para os anos 1920, mas a essência é a mesma. Para quem tiver vontade de conferir a obra literária, os personagens estão todos lá: Petruchio, Catarina, Bianca, tão divertidos como na novela.

O folhetim, com Eduardo Moscovis e Adriana Esteves nos papéis principais, marcou época e, até hoje, é considerado um dos maiores sucessos do horário das seis.

O sabor da vingança

Raquel Cunha / TV Globo/Divulgação
Clara sofreu bastante, mas voltou para se vingar

"Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta". A frase foi proferida por Clara (Bianca  Bin), a mocinha vingativa de O Outro Lado do Paraíso (2017), mas bem que poderia ter sido dita por Edmond Dantès, protagonista do livro O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas (1802 –  1870). Walcyr Carrasco, autor da novela, nunca escondeu que se inspirou no clássico da literatura francesa para criar sua história. 

Aliás, outra novela bebeu dessa mesma fonte, com ainda mais semelhanças em relação ao livro. Em Flor do Caribe (2013), Cassiano (Henri Castelli) passou anos preso por conta de uma  armação de Alberto (Igor Rickli). O "muy amigo" fez tudo isso para tirar o rival do caminho e se casar com Ester (Grazi Massafera), assim como no livro, o vilão Fernand armou contra Dantés para se casar com Mercedes.

Obras da Terrinha

CANAL VIVA / DIVULGAÇÃO
Clássico da literatura portuguesa, "O Primo Basílio" foi ao ar em 1988

Não é tarefa fácil encarar os calhamaços do escritor português Eça de Queiroz (1845 – 1900), pois são obras clássicas que dificilmente chegam ao grande público. Mas, graças à  teledramaturgia, pelo menos dois grandes livros do autor ganharam vida na telinha.

Em 1988, O Primo Basílio foi ao ar com um grande elenco, com Giulia Gam, Tony Ramos e Marcos Paulo (1951 – 2012) no triângulo amoroso central. Marília Pera (1943 – 2015) impressionou como Juliana, empregada que atormentava a sofredora Luísa.

Uma obra anda mais polêmica virou minissérie em 2001: Os Maias contou a história de amor entre Carlos Eduardo (Fabio Assunção) e Maria Eduarda (Ana Paula Arósio), que só no final da  história descobrem serem irmãos de sangue. 


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