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Luto na literatura

Personalidades lamentam a morte de Lya Luft

Escritora morreu nesta quinta-feira (30), aos 83 anos, em decorrência de um câncer

31/12/2021 - 09h25min


GZH
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Félix Zucco / Agencia RBS
"Ela sempre tinha uma palavra positiva e uma irreverência a ofertar", escreveu Martha Medeiros sobre a morte da colega

A morte da escritora gaúcha Lya Luft, na manhã desta quinta-feira (30), impactou o meio literário neste fim de ano. Natural de Santa Cruz do Sul, autora de 83 anos lutava contra um melanoma (câncer de pele) agressivo há cerca de sete meses. Seu legado está escrito em mais de 30 publicações, além de trabalhos como tradutora e colunista. 

Parafraseando a própria Lya, "para não dizer adeus" (título de um de seus livros de poesia, lançado em 2005), GZH reuniu as impressões de personalidades do país, principalmente do mundo das letras, sobre a importância da obra da escritora.

O governador Eduardo Leite foi ao Twitter prestar condolências à família. "O RS perde um dos seus maiores nomes da literatura. Lya Luft nos deixa aos 83 anos e abre uma lacuna difícil de ser preenchida. Que Deus conforte a família e os amigos", escreveu.

O prefeito Sebastião Melo também utilizou o Twitter, assim como o ex-chefe do executivo porto-alegrense, José Fortunati. "Meus sentimentos aos familiares e amigos desta grande escritora gaúcha, que deixa um importante legado para a literatura e a sociedade brasileira", disse Melo.

"Foi com pesar e tristeza que recebi a notícia do falecimento da amiga Lya Luft uma das maiores escritoras da contemporaneidade. Que Deus a acolha e conforte a família!",  lamentou Fortunati.

A diretora-executiva de Jornalismo e Esporte de GZH, Marta Gleich, recordou a força dos escritos de Lya entre os leitores:

— Foi um privilégio contar com o talento da grande escritora Lya Luft por tantos anos em Zero Hora e em GZH. Entre nossos assinantes, sempre figurou entre os colunistas mais lembrados e comentados. Toda semana, Lya me mandava por e-mail seu texto, às vezes perguntando: "Tu achas que está bom?" Não era apenas bom. Era o trabalho de uma das principais escritoras brasileiras de todos os tempos. Mas ela, zelosa, se preocupava. Obrigada, querida Lya, por dividir conosco tuas reflexões semanais sobre a vida. Vamos sentir muita falta.

A escritora Martha Medeiros usou sua conta no Instagram para lamentar a morte da amiga e destacar sua força como mulher.

"Desde As Parceiras, seu primeiro romance, fiquei fã. Assim que nos conhecemos pessoalmente, ela me deu o livro Mulheres Que Correm Com os Lobos de presente, como se fosse o meu passaporte para uma confraria de autoras pensantes. Desde então, trocávamos mensagens, e-mails, WhatsApp's, sempre atentas uma com a outra. Estive com ela algumas vezes e nunca saí de mãos abanando de nossas conversas, ela sempre tinha uma palavra positiva e uma irreverência a ofertar. Quando seu filho André faleceu, fui até ela. Ao lado do caixão, ela me olhou e disse, daquele jeito sem meias palavras: 'Martha, a morte é uma merda'. É verdade, Lya. Sentiremos muita saudade de você. RIP".

Amiga de Lya Luft, a jornalista Tânia Carvalho lamentou a morte da escritora, relembrou momentos vividos juntas e contou que ela ainda tem um livro para ser lançado:

— A inesquecível amiga Lya nos deixou. Vai nos fazer muita falta, para a literatura e para a vida. Fará muita falta para mim, nossos papos eram maravilhosos. E sempre ela fazia uma festa no seu aniversário, convidava um grupo de amigas que eu fazia parte, felizmente. Pude conviver com ela por mais de 40 anos. Quando meu filho Diogo nasceu, ela disse - em alemão -, que ele era o menino de domingo, que seria muito feliz. Ela adorava as crianças, os seus netos. Tinha o maior orgulho dos filhos e dos netos. Nós sentiremos muito, muito, a falta da Lya. Ainda tinha um livro dela para ser lançado. Talvez seja publicado nos próximos meses. Não nos consola, mas ao menos traz ela novamente um pouco para perto de nós.

As escritoras Maria Carpi e Cláudia Tajes, a pedido de GZH, também destacaram a força de Lya entre o público.

— Literatura não tem gênero, mas tem alma. Lya Luft era a alma feminina da nossa literatura. Somos-lhes gratos duplamente: pelas páginas dos livros e nas páginas da vida —pontuou Maria Carpi.

— A obra da Lya sempre acolheu o leitor, mesmo quando tratou de temas áridos e tristes. Prova disso era a presença disputada dela nos eventos do livro e nas listas de mais vendidos. É uma grande perda para a literatura e para o Brasil, que se despede de uma autora tão importante nesse momento em que vivemos as trevas na cultura — declarou Cláudia.

O presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Isatir Bottin Filho, se solidarizou com fãs e familiares de Lya:

— Lamentamos profundamente o falecimento desta grande escritora, Lya deixou sua marca de forma magistral na literatura brasileira. Neste momento de dor, nos solidarizamos com a família, amigos e leitores.

Cíntia Moscovich, também escritora, aponta a importância dos temas que Lya explorava. 

—A Lya deixa um legado robusto como romancista e como intelectual. Era uma criadora de tipos inesquecíveis, uma escavadora das relações familiares e pessoais. A literatura dela sobreviverá à curta vida do corpo — reflete Cíntia.

O escritor Jeferson Tenório também reforça a importâncias de assuntos e personagens da escritora:

— O grande legado da Lya Luft é justamente deixar para próximas gerações um tipo de literatura muito profunda sem os cacoetes regionais, que a colocam num patamar de universalidade. Justamente por tratar dessas grandes questões, como a morte, amor, as relações familiares, os traumas. São personagens muito profundos e potentes. A partir dos anos 2000, a gente percebe outra Lya Luft, que perde um pouco o vigor na sua obra ficcional. Títulos como Perdas e Ganhos, por exemplo, já não têm a mesma força dos romances iniciais. Ela também assume postura bastante conservadora em relação à política. O que não apaga a importância dela enquanto escritora que deixa um legado muito importante não só para a literatura gaúcha, mas também nacional.

O apresentador Luciano Huck, em sua conta no Twitter, escreveu que Lya Luft "deixa um legado de reflexão, sabedoria e elegância".

Já o cantor Paulo Ricardo destacou, em publicação no Instagram, que o mundo terá menos poesia em 2022.

O apresentador Britto Jr. também foi às redes sociais para se manifestar sobre a perda de Lya Luft e enfatizou que "suas letras nunca morrerão".

O escritor Sérgio Abranches destacou que a "literatura brasileira fica mais pobre" sem Lya.

Em nota, a Academia Rio-Grandense de Letras, que concedeu o Troféu Escritora do Ano para Lya no dia 16 de dezembro, lamentou o falecimento e destacou a entrega do prêmio. "Nossa homenagem chegou em tempo e alegrou seus últimos dias, servindo como singela lembrança de uma estupenda contribuição para a literatura brasileira, firmada ao longo de seis décadas da mais pura devoção à palavra escrita, nos mais diversos gêneros. Sua poesia e a agudeza com que soube capturar a essência humana jamais serão esquecidas", diz o texto.

O presidente da entidade, Rafael Bán Jacobsen, afirmou que escritoras como Lya são raras, por conseguir manter a qualidade de sua obra através dos anos e dos gêneros: 

— Fica difícil imaginar quem poderia preencher essa lacuna que a produção da Lya vai deixar nas nossas letras. Ela sempre foi muito fiel ao projeto dela e muito verdadeira enquanto escritora, fazendo uma literatura baseada na memória, no intimismo, na busca pela essência humana. Ela nunca fez concessões, nunca fez uma literatura fácil e nunca procurou fazer algo mais comercial. E, por isso, ela merece ser sempre lembrada com muito respeito por quem escreve. 

Pesquisador e colunista de GZH, Luís Augusto Fischer trouxe à tona recordações e impressões sobre Lya Luft.

— Sei de algumas coisas da Lya. Ela levando seu então marido, Celso Luft, meu professor, de carro para o Campus do Vale - ele não dirigia, Lya fazia essa por ele. Li As Parceiras quando saiu, em 1980, e ali se configurava uma coisa nova, que se destinava a marcar o leitor, aqui no Estado mas também Brasil afora: uma perspectiva claramente feminina de pensar a condição da mulher, ao mesmo tempo forte e não explicitamente política. Depois vi a Lya amiga do Caio Fernando Abreu levada ao teatro por Luciano Alabarse, numa peça de muita força e eco profundo naqueles anos. Depois a explosão de sua presença na cena brasileira, colunista de sucesso e grande apelo. A Lya no Sarau Elétrico, por exemplo. A Lya ciosa da necessidade de preservar a memória e a obra de Celso Luft. Imagino a dor da Lya mãe quando um de seus filhos morreu. Acho que se pode dizer que Lya cumpriu uma trajetória de excelência, em público, ajudando muitos, incontáveis leitores a encontrarem um texto de força e significado.



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